Miguel Arsénio deixa serralharia em Almeirim e ‘vira’ profissional no trail

19 Janeiro 2024, 11:44 Não Por Lusa

O português Miguel Arsénio vai poder dedicar-se ao trail e ultratrail em exclusivo, deixando a serralharia para se tornar profissional, e diz à Lusa que a oportunidade, praticamente inédita em Portugal, vai permitir evoluir com outras condições.

Aos 27 anos, o atleta residente em Paço dos Negros, no concelho de Almeirim, renova contrato com a Sport HG-amlsport e permite-lhe tornar-se, nos próximos três anos, profissional de trail, uma rara oportunidade para portugueses que pretende aproveitar, diz em entrevista à Lusa.

“Esta oportunidade permite-me não treinar mais, mas descansar mais. Porque treinar muito eu já treinava. Permite-me descansar mais, planear melhor, alimentar-me ainda melhor”, diz.

Trabalhava numa serralharia, a DGF Alumínios que agora vai continuar com Arsénio, mas como patrocinador, e tinha “um trabalho duro, a montar janelas e portas e portões e esse tipo de caixilharias”, fora a questão da alimentação.

“A ter de trabalhar fora e assim, muitas vezes comia em restaurantes. Os menus do dia passam muito pelos fritos, por comidas que não fazem muito o estilo de um atleta”, comenta.

Daqui para a frente, refere com confiança, quer “melhorar ainda mais”, tendo já “muitos projetos a nível de condições de treino”.

“[Quero] fazer estágios em altitude, passar mais tempo na montanha, e acho que isso vai melhorar muito o meu rendimento. (…) Até vou fazer menos provas do que no ano passado, em que corri muito. Mas vou poder ir para as provas mais antecipadamente”, analisa.

Esta preparação diferente permitir-lhe-á “passar mais tempo nos locais de corrida, perceber melhor os percursos” e outra adaptação aos locais.

Desde já, tem alinhado o regresso à Transgrancanaria, que em 2023 acabou no segundo lugar, na categoria clássica (126 quilómetros), mas também a Lavaredo 120 quilómetros e, dependendo do sorteio, o Ultratrail Mont-Blanc (UTMB), entre outras corridas.

No ano passado, e além do ‘vice’ num dos ‘majors’ do ultratrail, em Espanha, foi segundo no Nacional de ultratrail [corridas com mais de 42 quilómetros] e venceu a Maxi Race 80 kms, em Annecy, em França, além da Ultrapirineu 100 kms, somando ainda um terceiro lugar na Skyrace Madeira, versão de 45 quilómetros.

“É uma oportunidade que quero agarrar com tudo, uma oportunidade que sei que é única e pela qual esperei muito. Estou muito feliz por confiarem em mim e permitirem-me ter essa possibilidade, darem a segurança de ter um projeto a longo prazo. Apesar de ser muito novo, já tenho casa, carro, despesas para pagar, e preciso dessa segurança para poder arriscar”, reflete.

Segundo Miguel Arsénio, Portugal tem “boas condições para a prática desportiva” mas um “dos povos mais sedentários da Europa”, segundo dados do Eurobarómetro, e espera que a sua profissionalização possa inspirar outros a interessar-se pela modalidade e começar a praticar.

De resto, espera que a nova fase possa permitir-lhe passar mais tempos nas redes sociais, “correr mais fora do país”, com “quase todas as provas do calendário no estrangeiro”, para “correr contra os melhores do mundo” e disputar melhores prémios monetários.

“Não sinto qualquer pressão em ter passado a profissional. Não sinto pressão, a pressão já sentia antes e a necessidade de mostrar a mim próprio que era capaz de vingar. Agradeço a todos os que ao longo dos anos caminharam ao meu lado”, remata o atleta almerinense, conhecido nos trilhos por ‘Mike Show’.


Imagem: Miguel Arsénio / Facebook

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