José Traquina, da Polícia Militar ao episcopado com Santarém como palco

1 Maio 2024, 19:37 Não Por Lusa

O bispo de Santarém, José Traquina, tem o seu percurso ligado à cidade ribatejana desde muito antes de pensar que alguma vez iria ocupar o lugar de titular daquela diocese.

A ligação a Santarém começa em abril de 1975, quando começou a cumprir o serviço militar obrigatório como furriel miliciano na Polícia Militar na Escola Prática de Cavalaria e aí se manteve até setembro de 1976. Um ano antes tinha da mesma escola saído a coluna militar liderada por Salgueiro Maia rumo a Lisboa para derrubar o Estado Novo.

Com o quartel bem próximo da igreja do Seminário – Sé Catedral -, o militar nascido em 1954 em Évora de Alcobaça, no distrito de Leiria, e que já levava consigo “muitas inquietações” espirituais, rapidamente começou a frequentar aquele espaço.

“Não conhecia ninguém aqui da cidade. Procurei conhecer as pessoas e, também aqui no seminário, conversei, cumprimentei o primeiro bispo [António Francisco Marques – a diocese foi criada em 16 de julho de 1975, por desanexação do Patriarcado de Lisboa]. Conheci os padres que trabalhavam por aqui”, recorda José Traquina, que rapidamente se integrou na comunidade.

Fez parte de um grupo de jovens ligado à Pastoral Juvenil, e “que se dedicava muito à música e ao teatro”, participou num grupo de oração que se reunia todas as semanas para rezar, apreciou as pregações do padre João Bento na Igreja de São Nicolau. Este tempo, em termos de ambiente religioso, “foi uma experiência boa” para o jovem soldado Traquina, que se debatia com muitas interrogações sobre o seu futuro.

Na Escola Prática de Cavalaria, que “nunca perdeu o seu sentido de disciplina” após o 25 de Abril, aprendeu o “gosto de estar na vida com qualidade, sem perder a capacidade de estar em momentos também mais descontraídos”.

“A verdade é que tinha tempo para pensar no futuro. E estava ali assim, em 76, e tinha interrogações vocacionais. Andei ali e, depois de muito rezar, acabei por decidir pôr esta questão a sério: Eu quero saber, de facto, se Deus me chama a uma vida consagrada, como padre ou não? E não tinha outra forma [de descobrir] senão entrar no seminário vocacional, que era um tempo (…) para investigar, aprofundar” se era aquela a sua vocação, lembra o bispo de Santarém, que tomou a decisão de, terminado o serviço militar – tendo vivido o Período Revolucionário em Curso (PREC) como Polícia Militar -, ir diretamente para o seminário de Almada.

Dois capitães de então, “que são vivos, um como general e outro como coronel, convidaram-me para ir para a Academia quando acabei [o serviço militar obrigatório]. ‘Você siga a vida militar, vá para a Academia para fazer o curso’. E eu respondi: ‘Eu vou para o seminário’. Não acreditaram. Pensavam que eu estava a brincar”.

“Curiosamente, aqui há dias, fui a Benfica do Ribatejo e encontrei um homem alto e disse: ‘aquele homem é um capitão do meu tempo’. Era o general. Cumprimentámo-nos e ele disse: ‘você não quis ir para a Academia… Mas, está bem, veio crismar o meu neto’”, continua a recordar, acrescentando: “E foi assim uma história bonita de há 50 anos, da passagem por aqui. Fez-me gostar da cidade. Foi aqui [em Santarém] que decidi [seguir a vida religiosa]”.

E em 2025, a diocese de Santarém, onde entrou como bispo em 25 de novembro de 2017, comemora 50 anos, estando a ser preparado um programa que pretende ter uma envolvência de toda a região, “com alguns momentos passados na catedral, na cidade de Santarém, mas outros em Torres Novas, em Tomar ou Rio Maior”.

Concertos, a peregrinação de uma imagem de Nossa Senhora de Fátima por toda a diocese, uma peregrinação a Fátima, um simpósio de caráter histórico são alguns dos pontos que integrarão o programa.

Por outro lado, está a ser pensada uma iniciativa que envolva o Patriarcado de Lisboa e a diocese de Setúbal, que foi criada na mesma ocasião que a de Santarém, também por desanexação da diocese da capital.

“Já tive uma primeira conversa breve com o cardeal D. Américo [Aguiar] sobre o assunto, mas depois, falámos aqui [internamente na diocese de Santarém] e temos uma sugestão para apresentar e ainda não lhe apresentei a ele, mas posso adiantar que é no Santuário do Cristo Rei [Almada]. O Santuário do Cristo Rei diz respeito às três dioceses, porque quando foi inaugurado era tudo diocese de Lisboa, tanto a parte de Setúbal, como a de Santarém”, diz José Traquina.

Também “a própria Cruz Alta, do Santuário de Fátima, está lá no Cristo Rei [a Cruz alta original de Fátima foi oferecida ao Santuário do Cristo Rei, em 2007, aquando das obras de construção da nova basílica da Santíssima Trindade e construção de nova cruz na Cova da Iria]. Há uma referência de proximidade muito grande e, portanto, pensamos que à volta do Cristo Rei talvez pudéssemos fazer ali um momento celebrativo, festivo, que aproximasse as dioceses”, acrescenta.

O bispo de Santarém sublinha, ainda, que o Santuário do Cristo Rei “seria um espaço atraente, conhecido e bonito… para identificar a todos”.

O próprio Tejo, que “passa ali aos pés [do Cristo Rei] é o mesmo Tejo que passa também por aqui por Santarém”, acrescenta.

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