Falta de entendimento entre Câmara e Associação de Regantes pode deixar pontes sobre o Sorraia encerradas
20 Janeiro 2023, 17:20Um diferendo entre a Associação de Regantes e Beneficiários do Vale do Sorraia (ARBVS) e a Câmara Municipal de Coruche (CMC) sobre a propriedade das pontes sobre o rio Sorraia, nomeadamente as três de maior tráfego e utilização para a população, Escusa, na freguesia do Couço e Rebolo e Amieira, entre as freguesias da Fajarda e Biscainho, pode levar a que as mesmas venham a ser encerradas definitivamente ou que a sua reparação seja bastante prolongada, depois de terem sido encerradas ao trânsito na sequência das fortes cheias de Dezembro último.
O caso mais grave ocorre na Escusa, onde apesar da população não estar isolada, a ponte facilitava, e muito, a vida dos habitantes da aldeia, na sua maioria pessoas idosas.
Sem a ponte disponível, os moradores são obrigados a percorrer mais 30 quilómetros, para se deslocarem a Coruche, ou são obrigados a percorrer uma estrada de terra batida, que com a chuva fica em muito más condições, para chegar ao Couço, quanto pela Ponte da Escusa, o percurso era bastante mais facilitado.
Na passada quarta-feira, em reunião de câmara, Ortelinda Graça (CDU), Presidente da Junta de Freguesia do Couço, aproveitou o período aberto à intervenção dos munícipes, para manifestar junto do executivo da Câmara Municipal de Coruche a sua preocupação com os elementos que lhe haviam sido transmitidos numa reunião da qual tinha acabado de sair, com José Núncio, Administrador Delegado da ARBVS, que lhe comunicou que a associação não iria assumir a responsabilidade da execução de qualquer intervenção na Ponte da Escusa, bem como não se responsabilizavam pela reabertura ao trânsito da passagem sobre o Sorraia.
Ortelinda Graça lamentou que esteja novamente a viver uma situação que viveu já com a Ponte de Santa Justa, em que a Câmara de Coruche teve a expensas próprias que assumir a construção de uma nova travessia, uma vez que não existiram quaisquer apoios da Associação de Regantes ou do Governo, que permitisse realizar a travessia necessária para que a população de Santa Justa não ficasse isolada.
O Presidente da Câmara Municipal de Coruche, Francisco Oliveira (PS), demonstrou a sua solidariedade para com as preocupações da Presidente da Junta do Couço, revelando que essas são também as suas, agravadas sobretudo por um documento recebido pelo Município, que dá conta da posição da ARBVS sobre as pontes da Escusa, Rebolo e Amieira.
De acordo com o documento, a ARBVS não assume a responsabilidade sobre as passagens, por entender que fazem parte de caminhos municipais e que são utilizadas muito para lá da actividade agrícola pelo que no seu entendimento a responsabilidade sobre as travessias é do Município de Coruche.
Para a associação de agricultores, a situação das três pontes é diferente das travessias do Sabugeiro, Torrinha e Gravinha, onde o trânsito é maioritariamente agrícola e ai sim, é sua responsabilidade, algo que a autarquia de Coruche assume não entender, até porque a única diferença será umas terem acesso em estrada de terra batida e outras pavimentadas.
Francisco Oliveira assumiu que “devemos procurar uma solução para o bem da população”, ainda que a autarquia “não deva assumir a responsabilidade por algo que não construiu”, estando no entanto disponível a colaborar para a solução e resolução do problema.
O autarca entende que se foi a ARBVS a realizar todas as anteriores intervenções, a última delas há cerca de dez anos, em que foram reforçados os pilares, numa obra custeada com o apoio do Município de Coruche, também deverá agora a associação procurar formas para financiar a reparação da travessia da Escusa.
Ao NS, José Núncio, Administrador Delegado da ARBVS começou por afirmar que “não assumimos a responsabilidade pela ponte da Escusa”, pelo que caso não exista entendimento com a Câmara Municipal de Coruche, “por nós cortem o trânsito”.
O responsável referiu que o paradigma mudou muito deste a construção das pontes, até porque agora o trânsito que passa sobre as três travessias é maioritariamente “civil”, sendo o trânsito agrícola praticamente residual.
“A Câmara de Coruche não pode entender que as estradas municipais terminam ao início da ponte e retomam após a ponte”, referiu, relembrando que as pontes são muitas vezes utilizadas “para fazer os desvios do trânsito em alturas das festas [Rebolo e Amieira]”.
Relembrando que a última inspecção realizada há dois anos “detectou que a ponte não estava bem”, e por isso o peso máximo permitido na passagem foi diminuído para 3,5 toneladas, José Núncio salienta no entanto que a ARBVS está disponível para encontrar uma solução e até realizar algumas intervenções, como a limpeza dos jacintos que se acumularam e pressionam agora os pilares entre outras, “o que podermos fazer, vamos fazer”, disse.
O administrador da associação voltou no entanto a frisar, que no actual estado da ponte “se é nossa fecho-a ao trânsito”, ainda que não “seja o que queremos”, “se houver algum fundo ou algo a que possamos recorrer para fazer as obras, ou algo que possamos fazer, fazemos!”, concluiu.
Para já existe a necessidade da realização de uma nova vistoria às condições da ponte, que terá que ser efectuada por uma empresa especializada e com recurso a mergulhadores, que orça em cerca de 8 mil euros, estando por definir que tipo de obras serão necessárias realizar para que se possa concretizar a sua reabertura.
Construídas há cerca de 60 anos pela “Hidráulica”, as pontes foram depois absorvidas pela Associação de Regantes, aquando da extinção do organismo que as edificou.
Nos últimos anos, a ARBVS tem realizado algumas intervenções, algumas em parceria com o Município de Coruche, estando no entanto por definir quem é o legítimo proprietário das mesmas e sobre quem recai a responsabilidade da sua manutenção.
Doze anos depois de um problema idêntico vivido na Ponte de Santa Justa, as suas entidades voltam a esgrimir argumentos, com o objectivo de apurar responsabilidades sobre a manutenção das travessias do Sorraia no concelho de Coruche.
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