Encostatamim mudou a forma de apoiar doentes oncológicos nos últimos 16 anos
25 Dezembro 2024, 17:00Fundada em 2008, depois de Adalgisa Gameiro ter passado pela dolorosa experiência do cancro da mama, a Associação Enconstatamim apoiou quase um milhar de doentes oncológicos no concelho de Coruche.
“Quando passei pela experiência, e felizmente com apoio familiar, apercebi-me que havia muitos doentes do concelho de Coruche sem qualquer apoio”, disse-nos, numa conversa em que nos deu a conhecer os projeto da associação, da qual é o rosto principal, embora refira que “nada faço sem o apoio de todas as voluntárias”, que diariamente executam as mais diversas tarefas.
Com Coruche a ser, a par de Rio Maior, os concelhos na Lezíria do Tejo com maior incidência dos mais diversos tipos de cancro, algo que Adalgisa considera que “poderia ser um interessante estudo universitário”, a Enconstatamim apoia os doentes oncológicos com maiores dificuldades.
“Os doentes oncológicos quando estão nos tratamentos não recebem a totalidade dos seus salários, o que cria situações muito complicadas”, lamenta a Presidente da Associação, que nos revela que é a Enconstatamim que suporta muitas das despesas dos doentes com baixos rendimentos, desde a renda das habitações, faturas da água e luz, vestuário e alimentação.
O apoio aos doentes é diário, “muitas vezes basta uma palavra”, para que o dia dos doentes seja melhor, salienta a responsável da associação, que nos contou depois um episódio com um doente que não conseguia adormecer enquanto não recebesse a visita de Asalgisa. “Ia diariamente de Coruche à Fajarda para que o senhor conseguisse descansar”, diz-nos. “Um dia que não consegui ir, ligou-me a esposa do senhor que o marido não conseguia adormecer, fui com o meu marido em pijama à Fajarda, somente para lhe desejar a boa noite… quando saí do quarto o senhor já tinha adormecido”, conta-nos Adalgisa.
Além do apoio monetário e em géneros, a Enconstatamim tem também um papel fundamental na recuperação dos doentes, sobretudo após os tratamentos hospitalares.
Quando os doentes recebem alta hospitalar, ou não estão no período de internamento, é a Associação, que através de voluntários, ou nos acordos que detém com os lares (Santa Casa da Misericórdia e privados), que faz o acolhimento dos doentes, apoiando também nas tarefas inerentes à recuperação e aos tratamentos, no que se releva também um custo para a associação, pois os lares são pagos.
“Muitas vezes as pessoas ficam aflitas com o mau estar, a má disposição, os vómitos, e nós com a nossa experiência conseguimos orientar os doentes, e as famílias para que consigam entender o processo de recuperação…”, salienta.
Atualmente com 4.500 associados, com uma quota mensal de 1 euros, a gestão da associação é muito rigorosa, “mas nunca deixamos de apoiar nenhum doente”, “todos são apoiados, e vamos sempre ao encontro das suas necessidades”, afirma Adalgisa, que revela que a questão financeira é mesmo mais problemática da associação, que além das quotas, tem na loja, onde vende roupa doada, e nos apoios do Município e Junta de Freguesia as únicas receitas.
Lamentando que o voluntariado em Coruche não seja algo frequente, sobretudo nos jovens, Adalgisa Gameiro refere que a na associação o voluntariado pode ser feito nas mais diversas áreas, como tarefas administrativas, contabilísticas, ou o apoio aos utentes.
Atualmente a apoiar cerca de 100 doentes, dos mais diversos tipos de cancro, sendo o da mama o mais frequente, a Enconstatamim acalenta o sonho de vir a poder fazer do antigo edifício da Zona Agrária de Coruche, uma “Residência Temporária”, o que iria não só ajudar muito os doentes, como também permitir que a associação disponibilizasse outras valências à população e se concentrasse somente num lugar, deixando também de pagar as rendas dos espaços.
O edifício está há vários anos desocupado, e a Câmara Municipal de Coruche assumiu já o compromisso de quando existir essa possibilidade vir a ser cedido à Enconstatamim.
Cada dia que passa é um dia a mais na degradação do edifício de primeiro andar na Rua dos Bombeiros, em Coruche, pelo que a associação acalenta a esperança que o mesmo possa vir a ser desbloqueado num curto espaço de tempo.
Com o objetivo de tentar desbloquear a situação, o NS contactou já o Ministério da Agricultura, que está, para já, a tentar verificar em que ponto se encontra o processo.
Localidades junto ao rio Sorraia são as mais afetadas
De acordo com o número de doentes/utentes já apoiados pela Enconstatamim, são as freguesias mais chegadas ao rio Sorraia, como o Couço, Coruche e Fajarda, as mais afetadas.
“Temos doentes em todas as freguesias, mas curiosamente são as mais encostadas ao rio Sorraia a que têm maior número de casos de cancro”, salienta Adalgisa Gameiro.
Sócios apoiam obra meritória e recebem cartão de saúde
Com apenas uma quota de 1 euro mensal, além de apoiar uma obra meritória e aberta a todos os que a desejem conhecer e integrar, os associados têm ainda a possibilidade de aderir a um cartão Multicare, que dá descontos em várias áreas de saúde, o que permite que os sócios acabem por ficar com a quotização paga.
Festa de Natal reuniu “família Enconstatamim”
A Enconstatamim realizou este ano a sua festa de Natal no Pavilhão Multisusos de Coruche, onde reuniu cerca de 160 pessoas, daquela que é a sua “família”.
Entre doentes/utentes, familiares, voluntários e amigos, a associação juntou os seus numa confraternização de Natal, que acabou também por ser o ato eleitoral, que deu continuidade à Direção e ao trabalho desenvolvido nos últimos 16 anos.