Benavente e Samora Correia acolhem, de 5 a 7 de setembro, a primeira edição do Festival Internacional de Curtas Cine Tejo. A organização anuncia mais de 60 filmes, entrada gratuita em todas as sessões e três masterclasses com profissionais do setor. As exibições repartem-se entre o Cine-Teatro de Benavente e o Centro Cultural de Samora Correia, um arranque que pretende, segundo os promotores, “revitalizar a paixão pelo cinema” nas duas localidades.
Miguel Cardoso, um dos responsáveis pela organização, descreve a ambição do projeto. “O Cine Tejo é um festival internacional de curtas até 15 minutos, recebemos 345 filmes de mais de 60 países. A ideia é despertar o público para outro tipo de cinema, acessível e impactante, que se vê em sessões temáticas e deixa vontade de ver mais”, afirma. O curador frisa a opção por uma programação aberta. “Não queremos um festival hermético. As obras escolhidas são percetíveis, emocionam, fazem pensar, aproximam pessoas do cinema.”
A grelha inclui ficção, documentário, animação, direitos humanos, turismo e realidade virtual. Haverá exibições com óculos de VR e uma mostra de realidade aumentada no foyer do Cine-Teatro. “As pessoas vão poder experimentar novas linguagens, perceber o outro lado dos filmes e contactar com equipas técnicas e realizadores”, realça Miguel Cardoso. A organização confirma presença de convidados nacionais e internacionais ao longo das sessões, com espaço para perguntas do público.
O cartaz exibe títulos reconhecidos no circuito de festivais. Entre eles, a ficção “Na hora de pôr a mesa, éramos cinco”, de Paulo Oliveira, a partir de José Luís Peixoto, e “Samba Infinito”, de Leonardo Martinelli, exibido em Cannes. Na animação destacam-se “Percebes”, de Alexandra Ramires e Laura Gonçalves, “A cada dia que passa”, de Emanuel Nevado, e “Sequencial”, de Bruno Caetano. “Temos, na prática, um panorama fortíssimo da animação portuguesa recente, com filmes premiados internacionalmente”, sublinha Miguel Cardoso.
O festival quer ser porta de entrada para novos criadores. “Hoje um telemóvel no bolso pode ser o início de uma curta que corre o mundo. Queremos inspirar, mostrar processos, explicar como se faz, motivar escolas e jovens para chegarem à próxima edição com filmes prontos”, diz o organizador. Essa aposta materializa-se nas masterclasses. Uma sessão de caracterização e efeitos especiais mostrará, ao vivo e em ecrã grande, técnicas de feridas, cicatrizes e impactos. Outra sessão será conduzida por David Mourato, natural de Samora Correia e há mais de uma década na animação, com passagem por projetos como “Arcane”. “O David vai abrir a caixa de ferramentas, partilhar ‘making of’, truques e fluxos de trabalho”, adianta Miguel Cardoso. No domingo, a terceira masterclass junta realizadores para destrinçar “como se faz uma curta”, num formato interativo.
A competição atribui prémios no valor total de 3.300 euros. O Grande Prémio Cine Tejo vale mil euros. Haverá distinções por categorias, incluindo Melhor Filme, Melhor Realização, Guarda-roupa e Banda Sonora. A organização instituiu o Prémio Maria João Bastos para interpretação feminina e o Prémio Fernando Galrito para animação. “Criámos também troféus com vocação inspiracional, entre eles um prémio de Animação Estudante e uma menção associada a mentoria com David Mourato, para aproximar talento emergente da prática profissional”, refere Miguel Cardoso.
A programação é pensada para todos os ritmos. “Qualquer pessoa pode entrar, ver um, dois ou cinco filmes. Não é preciso ficar a tarde inteira. O importante é sentir a qualidade e descobrir histórias que em três minutos conseguem dar um murro no estômago”, descreve o programador. A sessão de entrega de prémios, aberta ao público, realiza-se no domingo, às 18h00, com momentos musicais e apresentação a cargo de figuras bem conhecidas do concelho, o grupo “Quarteto dos três irmãos, Pedro e Paulo”. “Queremos que a festa do cinema seja, também, a festa da comunidade”, assinala.
O Cine Tejo nasce com vocação anual. “Está tudo em aberto quanto ao futuro, a marca Cine Tejo é um conceito que queremos continuar a desenvolver. Para já interessava-nos provar que é possível montar um festival internacional de curtas em Benavente e Samora Correia, com qualidade e proximidade”, diz Miguel Cardoso. O organizador reconhece que o calendário apertado dificultou o trabalho prévio com escolas, mas vê ali uma prioridade para 2026. “Sentimos grande disponibilidade dos estabelecimentos de ensino. Se começarmos mais cedo, teremos filmes da região a estrear em competição, exatamente como desejamos.”
A entrada é gratuita em todas as sessões. A organização, a cargo da Câmara Municipal de Benavente com produção da Terra das Ideias, aposta na descentralização cultural, no diálogo entre criadores e público e na descoberta de novos olhares. “O cinema é para todos, rir, chorar, pensar, reconhecer-se nas mensagens. O Cine Tejo quer ser essa porta que se abre”, conclui Miguel Cardoso.