A Escola de Ciclismo dos ‘Águias’ reacende a paixão pela modalidade em Alpiarça
13 Novembro 2024, 9:07O ciclismo sempre foi uma das modalidades mais emblemáticas do Clube Desportivo “Os Águias” de Alpiarça, como se pode notar pela estátua dos dos ciclistas, no largo onde cita a sede do clube, e que representa a vitória de o atleta que carrega o nome de Alpiarça entre as mãos levantadas como a celebrar a vitória.
A camisola dos Águias de Alpiarça pedalou entre os melhores, com várias participações na Volta a Portugal, chegando mesmo a conquistar vitórias em etapas, durante a década de 1950, quando se conquistaram também vários títulos de estrada, pista e contrarrelógio. Até ao início dos anos 2000 a modalidade foi muito acarinhada pelo clube e pelos próprios alpiarcenses, mas acabou por cair no esquecimento, restando apenas os saudosistas e os amantes do ciclismo de fim de semana, que se juntam em grupos de amigos para rolar uns quilómetros ao sábado de manhã.
Há cerca de quatro anos a modalidade começou a renascer com a criação da Escola de Ciclismo dos “Águias” de Alpiarça. Conta com perto de 40 atletas, a sua grande maioria alpiarcense, e tem se mostrado um fenómeno desportivo em Alpiarça, fazendo despontar uma nova geração de atletas para o mundo do ciclismo.
Comandada pelo treinador César Galvão, pai de dois dos atletas, e foi por eles que entrou nesta aventura. Não tem qualquer tipo de formação prévia na modalidade, mas para que a Escola de Ciclismo pudesse sair a pedalar, tirou o curso e é treinador de Nível II. O NS foi conhecer o trabalho de César Galvão e do seu projeto.
“Isto não é um projeto desportivo, é um projeto de cariz social”, vinca o treinador à partida para a conversa que dá mote a esta reportagem. César Galvão não tem pudor em afirmar que os resultados desportivos são a última prioridade de todos os envolvidos.
“Os resultados é o que move os atletas, a competição é o que lhes mantém a chama acesa, mas a mim o que me interessa é transmitir-lhes bons valores”, explica César, relembrando dois casos muito específicos: o de uma atleta com muitas dificuldades em socializar com outros jovens que desde que entrou na escola de ciclismo está perfeitamente integrada e de um jovem que sofria de obesidade, vítima de bullying e apresentava alguns problemas comportamentais que melhoraram substancialmente desde que começou a praticar ciclismo.
“Mudou como da noite para o dia. É um jovem responsável, está mais saudável, começou a ter melhores notas na escola, deixou de ter problemas com bullying. Estas são as nossas verdadeiras vitórias”, garante César Galvão, que é o primeiro a reconhecer que a grande maioria dos atletas não vai ter uma carreira de ciclista profissional, mas que todos levam dali valores e ensinamentos que os vão acompanhar e ajudar para o resto da vida.
Mobilizar a comunidade em redor da Escola de Ciclismo e da própria modalidade é outro dos objetivos a que César aponta. Aos pais e a alguns amigos da equipa mostra total gratidão pela disponibilidade, especialmente ao patrocinador principal da equipa (Triumtérmica) que mais do que apoiar financeiramente, segundo César Galvão, acompanha todos os passos dados pela equipa e está sempre disponível para ajudar.
“Não atirou para aqui dinheiro, só. Está sempre a perguntar se é preciso ajuda com a logística, com as refeições, se precisamos de material, bombas, compressores, etc.”, vinca o treinador que se mostra muito agradecido. Também os pais movem mundos e fundos para ajudar a equipa.
Ao repórter do NS mostrou um vídeo que captou com o telemóvel a um sábado à noite, onde era possível ver vários pais a montar o interior da carrinha que serve de apoio técnico nas provas.
“Podiam estar à volta de uma mesa a beber copos de vinho e a comer um grande petisco, mas não. Estavam ali a ajudar a montar a carrinha para os filhos”, explica o treinador. Ainda assim garante que precisa de conseguir chegar a algumas fatias da população para conseguir mais apoios para que os pais não tenham que estar constantemente a dispender de orçamento familiar para a modalidade, como o tecido empresarial de Alpiarça e da região e até a própria Câmara Municipal.
É um dos lamentos de César e dos restantes associados a falta de apoio que sentem especialmente por parte da Câmara Municipal de Alpiarça. Por serem uma secção dos “Águias” de Alpiarça, ficam impossibilitados de se candidatar a projetos de apoio, e não usufruem de qualquer subsídio municipal, garante o treinador.
“O único apoio que temos da Câmara é o pagamento do gasóleo nas deslocações, enquanto noutros concelhos há escolas que têm um orçamento municipal de vários milhares de euros”, refere César Galvão, acrescentando que “sabe de onde vem e onde está” e que embora compreenda que a autarquia não possa disponibilizar verbas tão elevadas, mas podia dar um pouco mais de apoio do que aquele que dá.
Embora não sejam o principal foco, os resultados desportivos têm surgido nas últimas duas épocas a Escola de Ciclismo venceu o Encontro Nacional de Escolas de Ciclismo, contou com vários atletas a sagrarem-se campeões regionais e nacionais e conta com uma das grandes promessas do ciclismo nacional nas suas fileiras – Inês Fonseca, a atleta natural da Glória do Ribatejo que tem somado título depois de título e é cotada pelos seus pares como um nome a ter em conta para o futuro da modalidade em Portugal, somando os títulos de campeã nacional de XCO, estrada e ciclocross. Venceu também a edição 2024 da La Vuelta Juvenil.