Universidade Canina de Alpiarça ajuda donos e cães a aprender a comportarem-se há mais de 20 anos

26 Junho 2024, 14:51 Não Por André Azevedo

O cão é conhecido como “o melhor amigo do Homem”, mas quem é dono de um animal sabe que, muitas vezes, essa relação é complicada. Muitas vezes os donos deparam-se com problemas comportamentais dos animais que complicam a vida tanto dos animais como dos donos.

Em Alpiarça, mais propriamente na Reserva Natural do Cavalo Sorraia, há um sítio que pode dar uma ajuda preciosa a ultrapassar situações desagradáveis com animais – a Universidade Canina de Alpiarça.

Vítor Francisco é treinador de cães há mais de 20 anos. Participou no primeiro curso para educadores caninos na Escola de Cães Guias em Mortágua. Instalou-se na zona do Ribatejo em 2003, onde viu que havia uma possibilidade de negócio por não encontrar, na altura, um serviço similar.

Na Universidade Canina o “objetivo é os donos tirarem os cães de casa, relacionarem-se e exercitarem-se com eles”, explica o treinador, destacando a importância da dinâmica da relação dono-animal para uma correta relação.

O treino dos animais de companhia, especialmente o que os treinadores designam por “treino de obediência básica” (ordens como senta, deita, quieto, ou vir sempre que o dono chama o cão) é relativamente simples e dos mais importantes. As aulas de obediência básica são ainda obrigatórias para donos de cães de raças consideradas potencialmente perigosas, como os pitbull ou rotweiller.

“Traz estabilidade aos animais e tranquilidade aos donos” explica Vitor Francisco sobre o treino de obediência básica. O treinador considera ainda que um cão treinado é mais saudável, já que aprende a gerir stress e emoção, deixando de responder por instinto para responder aos estímulos do dono.

Um dos pontos mais trabalhados na obediência básica é o comportamento do cão quando anda à trela, em passeio. É comum para o treinador trabalhar com donos de animais que se queixam que “o cão é que os passeia”, explica Vitor Francisco, acrescentando que o objetivo destes treinos é fazer com que o animal passeie sempre junto ao dono e não dê puxões na trela.

Outra parte bastante importante na vida dos animais, e bastante trabalhada na Universidade Canina é a socialização. O objectivo não é só ensinar (donos e animais), mas também introduzir, de forma controlada, a outros donos e outros cães. O treinador considera esta uma parte bastante importante do trabalho, já que na Universidade Canina cria-se um espaço controlado para ensinar os animais a relacionarem-se entre si, evitando que, fora da escola, haja animosidades quer com outras pessoas, quer com outros animais.

Rita Cardoso é dona da Caju, uma cadela de raça Epagneul Breton, tradicionalmente um cão de caça, o que trouxe lhe algumas dificuldades comportamentais.

“É muito virada para o exterior. Distraía-se muito facilmente”, lembra a dona, que nos primeiros meses de vida da Caju notou muita dificuldade em que a cadela aprendesse e obedecesse às ordens. Optou por se inscrever na Universidade Canina.

Embora reconheça que será um treino que dura “toda a vida”, pela especificidades comportamentais da raça, a Caju hoje é uma cadela mais calma, mais segura, que responde às ordens.

“Consigo passar com ela por uma multidão sem que fique descontrolada. A parte da obediência é realmente fundamental para termos um cão que é feliz ao nosso lado porque está adaptado ao meio em que vive”, vinca.

Os donos são tão alunos como os cães

Embora se chame Universidade Canina os verdadeiros alunos não são os de quatro patas, mas sim os donos. Apesar de os animais serem ensinados a sentar ou a deitar, são os donos que mais aprendem na Universidade Canina. Táfaris Barbosa é dono do Fred, um Caniche Real com dois anos, adoptado com 10 meses.

“O Fred veio de um criador que não o socializou nem com pessoas, nem com outros cães”, explica o Táfaris, acrescentando que os treinos ajudaram não só o Fred a ultrapassar o medo e a ansiedade que o animal tinha quando socializava com outros cães, como a disputa de território que tinha com o outro cão de que Táfaris já era dono quando o adoptou.

Os treinos ajudaram também Táfaris a perceber que havia gatilhos que despertavam comportamentos no Fred que eram causados pelo próprio dono, e como evitá-los. Táfaris percebeu que quanto mais entrava em stress quando o Fred reagia a outros cães, mais stressado também ficava o animal. Os treinos ajudaram-no a perceber que se mandasse sentar o Fred enquanto Táfaris respirava fundo para se acalmar, conseguia, por sua vez, acalmar o cão.

Truques e habilidades fomentam relação dono-cão

Esta reportagem do NS foi desenvolvida durante um workshop de “Truques e Habilidades Caninas”, realizado no domingo, 23 de junho, nas instalações da Universidade Canina.

Vitor Francisco explicou ao NS que este tipo de treino não é essencial na educação dos animais, mas tem um papel muito importante na relação dono-cão, já que faz com que haja interação entre dono e animal, o que deixa o cão mais feliz por “brincar com o dono”.

“Fomenta muito a cumplicidade entre dono e cão”, vinca o treinador.

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