Poeiras estão em “dissipação” e céu fica limpo até ao fim-de-semana

17 Março 2022, 19:29 Não Por Redacção

O episódio de poeiras que está a afectar Portugal Continental desde o passado dia 15 de Março teve origem em tempestades de areia no Norte de África.
Segundo revela o Instituto Português do Mar e da Atmosfera, “2stas tempestades resultaram do vento forte à superfície associado à depressão Célia, a qual influenciou o estado do tempo na Madeira nos dias 14 e 15 de Março e se encontra neste momento sobre o Mediterrâneo em fase de dissipação.” 

Além dos impactos deste episódio de poeiras ao nível social, uma análise preliminar permitiu também identificar um impacto no desempenho dos modelos numéricos de previsão do tempo. Em particular, sobre Portugal Continental, foi possível identificar que a existência de uma elevada concentração de poeiras nos níveis médios e altos da atmosfera (correspondendo a uma maior disponibilidade de núcleos de condensação) deu origem à formação de uma densa camada de nuvens que de outro modo não se teria formado e que, por esse motivo, não foi bem prevista pelos modelos numéricos de previsão do tempo.

Em consequência da referida camada de nuvens, a radiação solar que atingiu a superfície foi menor que a prevista pelos modelos numéricos e, em consequência, os valores da temperatura do ar, em particular da temperatura máxima, foram inferiores aos valores previstos, com as diferenças a atingirem cerca de 5 °C em alguns locais. Informação mais detalhada sobre estes impactos requererá uma análise mais exaustiva do presente episódio.

A análise preliminar deste episódio sobre Portugal Continental, sugere que a elevada concentração de poeiras do deserto junto à superfície está relacionada com o padrão da circulação atmosférica associada à depressão Célia, que permitiu transportar as poeiras em níveis baixos da atmosfera desde a região da Argélia até à Península Ibérica, contornando o sistema montanhoso do Atlas pelo seu bordo oriental. Tipicamente as poeiras resultantes das tempestades de areia na região da Argélia são transportadas para o Mediterrâneo vindo a afectar também os países Mediterrânicos do sul da Europa.

É frequente a Península Ibérica ser afectada por tempestades de areia que se formam na região de Marrocos a sul do Atlas. Nestes casos, o transporte das poeiras ocorre ou pelo bordo ocidental do Atlas, através de uma circulação sobre o oceano Atlântico, ou através de um fluxo para norte sobre o Atlas, em que as poeiras são projectadas para níveis mais elevados da atmosfera. Em qualquer destes casos as concentrações próximo da superfície tendem a ser inferiores ao caso catual.

A concentração de poeiras sobre a Península Ibérica deverá diminuir gradualmente, no entanto não é de excluir a probabilidade de poder continuar a afectar o estado do tempo até dia 19, podendo persistir a formação de uma camada de nuvens altas, a dissipar-se lentamente, condicionando a temperatura observada à superfície.
O vento irá persistir do quadrante leste, sendo temporariamente forte nas terras altas.

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