Um ano de pandemia em Coruche. “Um ano esgotante, mas com o sentimento do dever cumprido…“, afirma o Dr. Félix Lobelo – Delegado de Saúde de Coruche
3 Março 2021, 22:09Passa esta quarta-feira, 3 de Março, um ano sobre a detecção do que aprendemos a chamar ‘surto de Covid-19’, quando foi detectado o primeiro, de oito, caso positivo entre os trabalhadores da Dacsa-Atlantic, empresa de Coruche, que a esta distância, tomou todos os procedimentos de forma a manter em segurança os seus trabalhadores.
Com a ‘bomba’ que rebentou em Coruche, rapidamente começaram a surgir as dúvidas e exigências entre a população. Com o passar dos dias foram conhecidos mais 7 a 8 casos na unidade fabril, um deles numa aluna da Escola Secundária de Coruche, infectada pela mãe.
A população exigia o encerramento da fábrica, pais e encarregados de educação que a escola fechasse portas, havendo mesmo muitos que não permitiram que os seus educandos regressassem à escola, sem terem respostas concretas, que viriam a surgir a 11 de Março, com uma conferência de imprensa que acabou por transmitir segurança à população, com Câmara e Delegado de Saúde a transmitirem mensagens de tranquilidade.
Na altura, e conforme noticiamos, Coruche vivia um verdadeiro ‘pandemónio com a pandemia’, sendo importante na altura a rápida reacção das autoridades, sobretudo nas respostas dadas à população, que aos dias de hoje, seria mais um acontecimento ‘quase banal’, tendo em conta o que se sabe e conhece sobre o novo coronavírus.
O Notícias do Sorraia falou com o Delegado de Saúde do concelho de Coruche, Dr. Félix Lobelo, que nos fez uma retroespectiva do que foi o momento vivido em 2020. O clinico que começou por nos dizer que já mais irá esquecer o dia 3 de Março, pois além do que viveu em 2020, a sua mãe, que se encontra na Colômbia e com quem não está fisicamente desde 2014, faz anos nesse dia, referindo-nos que o último ano foi “esgotante, mas com o sentimento do dever cumprido.” “Viver este ano de pandemia sem descanso, lazer, família, e em confinamento é difícil”, afirma, acrescentando que “foram e ainda continuam a ser tempos difíceis.”
Sobre os momentos que viveu há um ano, o Dr. Félix Lobelo começa por descrever que “na altura recebi um telefonema da colega do Departamento Regional de Saúde Pública a informar-me que havia casos suspeitos de COVID-19 no concelho de Coruche”, sendo que este começou “a articular com os responsáveis, dando todas as indicações relativamente às regras de higiene e quais os procedimentos para estes casos suspeitos…”, depois de se terem confirmado que “os suspeitos vieram a ser casos confirmados, o que nos levou ao rastreio dos contactos próximos e à realização dos testes moleculares (PCR).”
“ Foi uma tarefa árdua, com muita ansiedade, pois estava perante uma doença desconhecida para muitos”, declara, referindo que “com a aplicação das normas/orientações de Saúde Pública e com a participação de todos os recursos humanos existentes, conseguimos gerir a situação. “
Analisando agora se teria tomado alguma decisão diferente, tendo em conta também o que se conhece agora, o Delegado de Saúde é perentório em afirmar que não tinha alterado nenhuma decisão, “sempre fui aplicando os meus conhecimentos em Saúde Pública e baseando-me nas normas, orientações e informação que a Direção-Geral da Saúde emanou baseadas na evidência científica”, acrescentando que tudo o que pode ser feito na altura foi feito, e que a melhor demonstração disso foi os resultados que se obtiveram no imediato, com a contecção do surto nos trabalhadores da fábrica.
O Delegado de Saúde, era até aqui um médico bastante importante mas ‘quase um desconhecido’, algo que mudou radicalmente com a pandemia da Covid-19, o que o Dr. Félix Lobelo entende com naturalidade, é normal que agora tenha mais contacto com mais pessoas, por ser especializado numa área “ importantíssima na gestão de pandemias.”
Num ano em que certamente prescindiu de muitos momentos da sua vida pessoal, este caracteriza o ano vivido “apesar de angustiante”, “este tempo de crise pandémica constituiu uma oportunidade de crescimento pessoal e profissional. “
“Foi, e é um tempo que não deixou de ser de preocupação e de angústia, de cansaço e de desafio, de incerteza”, salienta, referindo que “contudo, o meu papel como médico de Saúde Pública é contribuir para a melhoria do estado de saúde da população da área geográfica de intervenção, visando sempre a obtenção de ganhos em saúde.”
Na conclusão da conversa, desafiamos o Dr. Félix Lobelo a descrever este ano que passou, definindo-o como um ano em que tivemos que “aprender a viver.”
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