Trinta anos de Febre Amarela – uma associação adulta com jovens ao leme
27 Novembro 2023, 9:21Corria o ano de 1993 quando um grupo de adeptos do Sport Clube Desportos da Glória do Ribatejo decidiu criar uma claque para motivar o clube da terra nos jogos do campeonato distrital. Reza a lenda que a ideia surgiu devido a um jogo amigável entre as equipas de júniores da Glória do Ribatejo e do Sporting Clube de Portugal, numa altura em que a Juve Leo era uma das claques mais populares do país e os apoiantes do SCD Glória do Ribatejo não quiseram ficar atrás da claque leonina. A Febre Amarela nasce oficialmente a 27 de Novembro de 1993.
É das cores da equipa do concelho de Salvaterra de Magos que nasce o nome “Febre Amarela”, e o símbolo – a cabeça de um chibo – foi escolhido pelo “nome popular” que se dá aos habitantes da Glória do Ribatejo, os chibos.
A claque tornou-se uma associação cultural e, embora se tenha desmarcado do estatuto de claque, pela conotação negativa que isso acarreta, mantém uma relação de apoio mútuo com o clube. Os horizontes alargaram-se e tornaram o seu foco em trazer dinâmica cultural e social à vila da Glória do Ribatejo e mesmo ao concelho de Salvaterra de Magos, explica ao NS Ricardo Nunes, actual presidente da associação (segundo na fila de cima a contar da esquerda, na fotografia de destaque desta reportagem). Desenvolvem actividades culturais, como concertos, teatros, espetáculos de comédia, torneios desportivos, feiras da ladra e o grande evento que a organização organiza – o festival “Glória ao Rock”, que conta já com 22 edições realizadas, com apenas um interregno durante a pandemia da Covid-19. A edição de 2023 do festival trouxe mais de mil festivaleiros à vila, naquela que foi a edição que mais bilhetes vendeu.
Desde que assumiu a presidência diz querer trazer um evento por mês para a população. “O nosso objectivo é criar convívio entre a população”, explica Ricardo Nunes. O jovem de 24 anos, licenciado em Matemática Aplicada à Economia e Gestão, entrou na associação com 14 anos e aos 16 integrou pela primeira vez a lista da direcção, como vice-presidente. “É esse o espírito da Febre Amarela, estarem os mais jovens à frente da associação”, vinca.
O facto de ser uma associação jovem e dinâmica significa que vão acompanhando as tendências e a liberdade para trazer todas as iniciativas que lhes ocorram explica a adaptação que a Febre Amarela tem ao que é tendência, o que explica parte do sucesso das iniciativas. “O objectivo é sempre passar a pasta aos mais novos assim que sentirmos que eles têm autonomia suficiente”, explica o jovem dirigente associativo. Embora sinta que a adesão dos jovens não é a mesma de há 10 anos, quando se juntou à associação, explicando-se pelo facto de haver menos jovens na Glória do Ribatejo, garante que a continuidade da associação está garantida. Questionado sobre quais as perspectivas para o futuro garante que não as tem, porque essas são dos jovens que assumirem o leme da associação, algo que diz que acontecerá em breve. “Já tenho 24 anos, trabalho e já entrei na idade adulta, tá a começar a ficar na altura de passar a pasta”, aponta, referindo ainda que não quer impor qualquer tipo de mentalidade nos jovens, pois isso corta-lhes as asas. Para o futuro leva apenas a responsabilidade, o sentido de missão e a maturidade que aprendeu e lhe foi incutido pelos membros mais velhos. “É a única influência que quero ter nos elementos mais jovens”, vinca.
O jovem dirigente associativo deixa ainda rasgados agradecimentos quer à Câmara Municipal de Salvaterra de Magos quer à União de Freguesias de Glória e Granho pelo apoio que têm prestado à associação. Embora reconheça que nem sempre foi esse o apanágio, já que no início a associação era olhada com desconfiança pelas entidades. “Por sermos jovens olhavam para nós de maneira diferente. Acho que teria haver com o estigma da rebeldia juvenil, mas foram percebendo que queríamos trabalhar em prol da comunidade e dinamizar a vila e o concelho”, vinca Ricardo Nunes, acrescentando que hoje em dia qualquer uma das entidades tem apoiado sempre os projectos da associação. “Superámos o estigma pelo trabalho que apresentámos”.
Celebrações dos 30 anos com várias iniciativas e documentário sobre a associação
Trinta anos não se celebram todos os dias e a Febre Amarela quis marcar a data com a pompa e circunstância que três décadas de existência merecem.
Assim, de modo a fazer uma retroespectiva e mostrar ao mundo o que é ser Febre Amarela decidiram criar o documentário “Primeiro Ensiná-los, Depois Aprender com Eles”, que demonstra bem o espírito da associação em relação aos jovens que a integram. O filme documental, realizado pelo pontevelense Paulo Antunes, conta com testemunhos de quem integrou e de quem cruzou caminhos com a associação desde os seus primórdios.
O documentário acompanha ainda a preparação da edição de 2023 do “Glória ao Rock”. A ante-estreia está marcada para dia 30 de Novembro, às 21h30 no Auditório Espaço Jackson, na Glória do Ribatejo, e a estreia acontece a 1 de Dezembro no mesmo horário, seguindo-se o concerto da banda Quem é o Bob?, às 22h30, e de DJ Nana, que promete animar a madrugada, a partir das 00h00.
A 2 de Dezembro está marcada nova exibição do documentário, seguindo-se um jantar convívio e animação musical com concertos e DJ.
Integrada nas comemorações, está também uma exposição que mostra momentos e recordações da vida da associação, patente no Largo 1º de Maio de 27 de Novembro até 27 de Janeiro.