Tecnologia entra na tiragem de cortiça com objectivo de combater falta de mão-de-obra

24 Julho 2022, 20:12 Não Por João Dinis

Um projecto financiado pela Corticeira Amorim promete revolucionar a tiragem de cortiça, que actualmente, a par de outras actividades da agricultura e do campo, se debate com uma enorme falta de mão-de-obra, que tem levado a que ano após ano a que a tiragem de cortiça não se faça no seu todo e na época certa, ficando muita cortiça ‘do ano’ nas árvores, o que significa muitas vezes que o processo de extração do ‘ouro português’ se atrase e falte matéria-prima nas fábricas.

Na base do projecto está a criação de duas ferramentas, uma de corte e outra de descolagem da cortiça da árvore, que segundo Gonçalo Cabecinhas, engenheiro envolvido no projecto, “vão aumentar o número de arrobas de cortiça estriada diariamente” pelas equipas que se encontram no campo.

Apesar de um ‘tirador de cortiça’ ter um vencimento que pode ir em muitos casos até aos 150 euros diários, são cada vez menos os jovens que se interessam pela actividade e que estão dispostos a aprender uma arte que é desde 2021 Património Cultural e Imaterial Português.
Todos os anos temos gente que pela sua elevada idade deixam de ser tiradores de cortiça e temos pouca gente a entrar aqui”, diz-nos Gonçalo Cabecinhas, pelo que o que as ferramentas tecnológicas pretendem ser “um complemento” que “vai auxiliar (os tiradores) e vai conseguir com que tenhamos rendimentos de trabalho mais elevados”.

As ferramentas tecnológicas que o grupo Amorim está desde 2021 a desenvolver são duas adaptações a ferramentas do dia-a-dia, como um simples motosserra de jardim e uma tesoura de poda.

O motosserra levou na sua extremidade um sensor, que consegue medir a espessura da cortiça e fazer um corte na perfeição, sem que o sobreiro fique danificado, em menos de metade do tempo que um tirador de cortiça realiza o processo com a machada.

Após os cortes na cortiça, entra em acção a segunda ferramenta, que realiza a descolagem da cortiça da árvore. Uma tesoura de poda foi transformada, parecendo uma espátula que consegue descolar a cortiça.

Ambas as ferramentas são eléctricas e alimentadas por uma bateria que se encontra acoplada a uma mochila que o operador carrega.

De acordo com o responsável “as ferramentas vêm tentar colmatar essa falta de trabalhadores para extrair a quantidade de cortiça que é suposto nesse ano”, sendo que não pretendem diminuir o número de pessoas a trabalhar, ou o seu rendimento diário, mas sim “tentar auxiliar e fazer que mesmo com menos trabalhadores, estas possam tirar o a mesma quantidade de arrobas por dia que era suposto.”

Ainda que Gonçalo Cabecinhas desvalorize o valor investido pela Corticeira Amorim neste projecto, cada uma das ferramentas pode custar entre 2 a 3 mil euros, pelo que estão a ser disponibilizadas ‘caso a caso’ aos proprietários, estando a empresa a analisar o melhor método para introduzir as ferramentas no mercado.

Mercado residual dificulta

Apesar de ser uma inovação tecnológica, que irá auxiliar uma arte tão tradicional, o facto da cortiça ser um “produto único e uma industria única” torna o mercado praticamente residual, pelo que não têm sido muito as empresas a apostar no desenvolvimento das ferramentas.

Para colmatar essa dificuldade a Amorim criou uma equipa que está a desenvolver todo o projecto de raiz, “para termos respostas o mais rápido possível e fazermos face a esta falta de mão-de-obra”, salienta Gonçalo Cabecinhas.

Trabalhadores mostram ainda alguma resistência à inovação

Apesar de esta ser uma ferramenta que promete ser um ‘facilitador’ para o seu trabalho, alguns tiradores de cortiça têm mostrado ainda assim alguma resistência à introdução da tecnologia no processo.

Gonçalo Cabecinhas refere que “estas ferramentas não vão reduzir o número de equipas, mas sim auxiliá-las, até porque a machada continuará a ser necessária para concretizar todo o processo de tiragem de cortiça”.

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