Protesto por melhor condições no SNS junta meia centena de pessoas em Santarém

16 Setembro 2023, 19:17 Não Por André Azevedo

O protesto pela melhoria das condições do Serviço Nacional de Saúde, organizado pelo Movimento de Utentes dos Serviços Públicos de Santarém (MUSP), em conjunto com a CGTP, à semelhança do que aconteceu em outros locais do país, juntou meia centena de pessoas no Jardim da Liberdade, em Santarém, na tarde deste sábado, 16 de Setembro, dia em que se celebra o 44º aniversário do SNS.

O NS conversou com Manuel Soares, representante do MUSP e da Comissão de Utentes do Médio Tejo, que explicou que o objectivo deste protesto é alertar as entidades responsáveis para a falta de condições existentes no SNS, especialmente ao nível dos concelhos do interior. O protesto defende medidas como “investimento em acções de saúde pública eficazes e mensuráveis”, “o cumprimento do princípio de proximidade na prestação de cuidados” ou o não abandono da “população das freguesias rurais”.

Manuel Soares afirma que há duas realidades no distrito de Santarém: a dos utentes que têm efectivamente médico de família, mas que se encontra ausente, pintando a afirmação com o exemplo de Paialvo, em Tomar, em que a população não tem médico de família porque a profissional se encontra de licença de maternidade, segundo o próprio; e a dos que não têm um médico de família atribuído, mas que têm acesso a cuidados de saúde, através dos profissionais contratados, explica. “Há cerca de 100 mil utentes que têm dificuldade de acesso a cuidado de saúde, nomeadamente cuidados de saúde de proximidade”, explica.

Apesar de Portugal ter dos rácios mais altos de número de médicos na Europa, Manuel Soares aponta a uma má gestão dos recursos humanos, atirando que há demasiados médicos nas zonas urbanas, deixando o interior ao abandono. O activista abordou também as assimetrias a nível nacional, afirmando que no Norte do país cerca de 97% da população tem médico de família e acesso a cuidados de saúde de proximidade.

Durante a conversa, refere também as assimetrias nos vencimentos dos clínicos. “Nos centros de saúde, como prestadores de serviços ganham €20 à hora, mas se esse médico for fazer o trabalho no hospital já ganha €30”, referindo ainda que não se pode olhar para os vencimentos dos médicos como uma tabela. “Há médicos de determinadas especialidades que são pagos a €55 à hora”, vinca Manuel Soares, acrescentando que há casos de especialidades em falta nos hospitais em que tem que ser tomadas medidas. “Porque é que há falta de especialistas de pediatria? É relativamente simples. Nos últimos anos a maioria dos pediatras que têm sido formadas são mulheres. As mulheres, acabada a especialidade, entram no período da procriação. Desde a gravidez, depois a licença de maternidade, o acompanhamento dos menores, essa gente não faz urgências. Só quanto tiverem mais de 40 anos é que têm possibilidade de o fazer”, vinca Manuel José, que defende ainda a criação de “equipas especiais” para cobrir a falta de médico em determinado local.

“Abrem vagas com incentivos (proporcionados pelas autarquias) e os médicos não concorrem a essas vagas”, vinca Manuel Soares, para ilustrar a ideia que os clínicos não querem ocupar vagas no interior e zonas rurais do país, dando como exemplo Torres Novas, que tem visto as vagas ficar por preencher, mesmo acrescentando mais de dois mil euros ao vencimento base dos médicos. O representante do MUSP afirma ainda que centralizar os médicos nos centros urbanos não é uma solução viável, já que a fatia populacional com dificuldades de mobilidade nas zonas interiores é demasiado elevada para que esse processo se torne uma solução. “Não podemos deixar pontas por dar assistência. Defendemos inclusive que possa haver as chamadas Unidades Móveis de Saúde, que permite ir ao encontro dos utentes. É mais fácil deslocar um médico, um enfermeiro e um administrativo a uma localidade, do que deslocar centenas de pessoas para as localidades mais centrais”, vinca.

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