Presidente da União de Santarém acredita que clube “pode estar entre os 10 melhores do futebol português até 2030”

4 Julho 2024, 19:10 Não Por André Azevedo

Pedro Patrício é presidente do União Desportiva de Santarém (UDS) desde 2023, mas a ligação ao clube vem desde que se lembra de ser gente.

Sentado nas bancadas do Campo Chã das Padeiras, casa do UDS, o dirigente recorda os tempos de jogador – vestiu pela primeira vez a camisola escalabitana aos seis anos e percorreu todos os escalões até chegar a sénior. A universidade, e depois a vida profissional afastaram-no do futebol, mas regressou para representar a equipa de veteranos.

Em 2023 foi desafiado a assumir os destinos do clube e foi eleito presidente.

Terminada a época e atingido o objetivo de regressar à Liga 3, Pedro Patrício aponta agora a voos mais altos e assume o desejo de ver o União Desportiva de Santarém entre os 10 melhores clubes da Primeira Divisão Portuguesa, até 2030.

Nesta entrevista, concedida ao NS, vinca que não é uma utopia, mas um caminho possível de se fazer e pede que que haja uma mobilização à volta do clube, porque só assim será almejado o objetivo.

NS – Que balanço é que faz nesta época?

PP – É um balanço muito positivo, mas com uma grande surpresa. Foi um ano muito mais intenso que o que eu estava à espera. O balanço é muito positivo do ponto de vista de clube. Os maiores objetivos foram cumpridos.

Institucionalmente, conseguimos melhorar muito as relações com as entidades municipais, com parceiros, com patrocinadores, com os pais dos atletas e com outros intervenientes do futebol. E isso é um dos grandes objetivos.

Conseguimos o grande objetivo desportivo, a subida à Liga três e, infelizmente, não foi da forma que nós mais gostaríamos que era matematicamente e do ponto de vista desportivo, ter ter ficado nos dois primeiros lugares na fase de subida. A partir de um determinado momento que que sabíamos que das coisas que estavam a acontecer, quisemos matematicamente assegurar o terceiro lugar e conseguimos. E estamos na Liga três.

No futebol de formação foi dado um grande salto, sobretudo na profissionalização do futebol de formação. Atingimos os 300 atletas na formação. Não conseguimos o primeiro objetivo desportivo, que era subir uma das equipas ao campeonato nacional. Mas quer dizer, do ponto de vista desportivo, houve uma série de potenciação de vários atletas. Alguns deles até vão fazer parte do plantel sénior. E, portanto, o balanço é bom.

NS – Como é que estão a preparar a nova época?

PP – Vai ser uma reformulação considerável. Estamos a trabalhar dia e noite para para para reforçar este plantel. Temos um handicap grande que é só no dia 26 é que tivemos a confirmação oficial que estávamos na Liga 3 e isso atrasa a construção de um plantel, porque as conversas com clubes, as conversas com empresários, as conversas com jogadores só são possíveis quando temos a certeza absoluta que estamos na Liga 3.

Se calhar vamos ter que adiar a primeira jornada porque não estamos ainda preparados. O plantel não vai estar construído nem preparado para a primeira jornada e portanto, vamos pedir o adiamento da primeira jornada.

Portanto, vamos começar a trabalhar mais tarde. Vamos construir o plantel de uma forma mais tardia. Mas estamos cá. Nós somos de Santarém e do Ribatejo, portanto estamos habituados a dificuldades. Agarramos o touro pelos cornos.

NS – Estar na Liga 3 significa uma maior exposição do clube, espera conseguir mais apoios e patrocinadores?

PP – Espero que sim. Os jogos da Liga três são todos televisionados. Vamos ter aqui equipas históricas do futebol português em que vão trazer centenas de pessoas a Santarém, nomeadamente o Belenenses, a própria Académica de Coimbra, o Sporting, o Sporting da Covilhã, ou o Caldas.

São clubes que que habitualmente têm muitos adeptos a acompanhar a equipa e portanto isso é muito importante porque ajuda a desenvolver toda toda a região. Os restaurantes estão cheios, os hotéis têm mais procura. A própria indústria também se envolve de outra maneira.

Agora nós temos estado a falar com os nossos parceiros, sejam eles entidades municipais ou parceiros privados. Estamos a trabalhar muito nisso. A ajuda que tínhamos das entidades municipais era razoável. Era possível, mas tem de ser maior. Porque estar na Liga 3 é importante para todos, começando pela própria cidade.

Falo quase todas as semanas com com o presidente, vice presidentes vereadores, seja qual for a força política. Falo também bastante com outras entidades como por exemplo, a nossa União das Freguesias. Tem dado um apoio também bastante bastante forte à União de Santarém. Falamos com outras entidades, como por exemplo a PSP, que foi fundamental aqui na organização dos Jogos. Este ano com os bombeiros, que estiveram sempre presentes connosco. Portanto tenho falado bastante e estamos a conversar sobre várias coisas. Estou convicto que de que o apoio destas entidades todas vai ser maior.

NS – Qual é o objetivo a que o UDS se propõe para a próxima época?

PP – O objetivo é ganhar, como é evidente!

Quanto mais cedo atingirmos a manutenção e podemos disputar outros lugares e outras e outros objetivos, ótimo. Mas o grande objetivo é ganhar. Também não é possível ser este objetivo com o treinador que temos. Qualquer conversa que eu tenho e falo, cinco, seis vezes por dia com o nosso treinador Carlos Fernandes, o foco dele é ganhar e, portanto, o nosso objetivo é ganhar.

Agora está na moda dizer ganhar jogo a jogo. Mas de facto é mesmo verdade. Porque começa por ganhar os jogos de preparação, ganhar o jogo de apresentação que vamos ter aqui no dia 2 de agosto, e ganhar a primeira jornada. O grande objetivo é ganhar.

NS – Se o futebol fosse um conto de fadas, faltariam agora duas épocas para o UDS se estrear na Primeira Divisão. É um sonho possível de alcançar?

PP – Santarém tem a capacidade e condições para ter uma equipa, provavelmente até 2030, dentro das dez primeiras do Campeonato do Futebol Português.

Provavelmente 95% das pessoas que estão a ler vão dizer que sou doido. Mas eu acho mesmo que nós, em cinco ou seis anos conseguimos estar nos dez melhores clubes do futebol português.

Agora, para isso, é preciso todos quererem. Nós, clube, queremos muito. Mas só querer não chega. É preciso ter orçamentos completamente diferentes dos orçamentos que nós temos à data de hoje. É preciso termos parceiros diferentes. É preciso ter infraestrutura completamente diferente para isso. Depende sobretudo da nossa organização. E para isso nós estamos a profissionalizar ao máximo o clube. Vamos integrar na equipa sénior algumas algumas novas funções para para no fundo profissionalizar ainda mais este clube.

NS – Portanto, fazer um percurso algo similar, à devida escala, do que fez o Leicester City em Inglaterra?

PP – É um percurso possível. Não é só essa equipa, há outras equipas noutros países também, que nós temos como referência. Mas isso só foi possível (no caso do Leicester) porque aquela região toda de Inglaterra se moveu à volta de um clube. Com investidores, com patrocinadores, com com uma massa humana completamente diferente.

Mas eu acho que é possível. Acho mesmo que é possível. Agora todos nós temos de crer e de querer. Os 70.000 habitantes de Santarém têm de querer os 490.000 habitantes da região do Ribatejo têm de querer. Tem que querer a indústria toda do Ribatejo. Têm de querer as câmaras municipais. Não é só de Santarém, mas todas à volta de Santarém. Tem que querer porque e sobretudo todos os clubes de futebol à volta de Santarém também tem que querer. Porque a partir do momento que a o União de Santarém tiver uma liga profissional, todos os clubes à nossa volta se desenvolvem. A Académica de Santarém na formação, o Fátima na equipa sénior, o Cartaxo, Almeirim, Rio Maior. Ou seja, todas estas equipas vão ganhar em ter uma equipa de referência porque vêm investidores, vêm, há jogadores a emprestar, há parcerias a fazer e portanto tudo isto se começa a ganhar uma onda em que em que podemos todos crescer.

Há uma grande décalage em Portugal, entre Lisboa e Porto. Se nós olharmos para o mapa da primeira divisão há duas equipas nas ilhas, muitas equipas no Norte, algumas equipas de Lisboa, uma equipa a sul. E portanto temos aqui um grande buraco entre Porto e Lisboa. Santarém, tal como outras capitais distrito, tem todo o interesse em comer esta fatia. Para nós temos sermos uma referência desta fatia da zona centro há muito trabalho a fazer e é preciso muito mais apoio. É preciso toda a gente acreditar e não achar que é uma utopia. Podemos estar entre os 10 melhores do futebol português.

NS – Quais são os objetivos para as equipas de formação?

PP – A formação desde 2017 tem feito um crescimento notável. Eram 40 crianças. Hoje são 300. E temos algumas duas ou três alterações que estamos a fazer na formação, para não para mudar a formação, mas para potenciar ainda mais. Contratámos um novo diretor técnico do futebol de formação, o professor Leonel Madruga, que é um regresso a casa. Foi nosso jogador, foi nosso treinador, o pai dele foi nosso dirigente. Eu quando jogava aqui era o pai dele que conduzia as carrinhas e levou muitas vezes a casa e portanto, o professor Leonel Madruga é um profissional muito bom.

Também vamos fazer como algumas alterações das equipas técnicas e do staff, seja ele staff organizativo, seja do departamento médico. Vamos lançar o futebol feminino este ano. Temos uma procura muito grande de várias crianças para começarem a praticar desporto e praticarem futebol de União Santarém.

Agora não temos ainda infraestrutura para isso. Temos apenas neste momento um campo de treinos que é a Ribeira de Santarém, que necessita de obras urgentes, não só do ponto de vista de relvado, mas também do ponto de vista de infraestruturas nos balneários. Nas zonas de apoio precisamos de um ginásio e de mais 800 metros quadrados de relva, até para o próprio treino e para os aquecimentos e para as recuperações.

Estamos a conversar com as entidades municipais, nomeadamente a Viver Santarém que tem nos dado um apoio inexcedível neste aspeto. Estamos a tentar arranjar já para este ano um outro campo de treinos para lançarmos para o futebol feminino. O grande objetivo é honrar o meu compromisso com os pais de criar e ajudar a criar crianças com caráter, com ambição, com boas notas. Depois criar e desenvolver atletas. Nós queremos de facto criar atletas para o futebol sénior. E para isso é fundamental ter equipas nos nacionais, porque se não os jogadores não vêm jogar em Santarém. E aí há uma palavra de os meus parabéns e o meu reconhecimento pelo trabalho feito, por exemplo, na Académica de Santarém, que é notável. E a prova disso é, por exemplo, o sexto lugar ficar agora no campeonato nacional. É um clube rival dentro das quatro linhas, mas para nós é um parceiro porque é muito importante para a cidade de Santarém.

NS – O final da época foi marcado por algumas polémicas, com acusações por parte do Vitória de Setúbal relativas a favorecimentos pela FPF e e agendas obscuras. Como responde a essas acusações?

PP – Houve muita coisa escrita, houve muita coisa falada, houve muitas mentiras, poucas verdades. Foi um processo complexo. Começou tudo no jogo em Setúbal. Com algumas artimanhas,por exemplo, falta de água para regar o relvado, mas depois era regado só metade em que o Vitória de Setúbal atacava.

Pelo respeito e pela minha admiração pela história dos 113 anos do Vitória Futebol Clube e, sobretudo, pelos seus adeptos não queria fazer grandes comentários, nem quero misturar a história do Vitória com os seus dirigentes. O resto foi tudo fait divers.

Nós não fomos mais fortes dentro do campo. Empatámos o jogo em casa, perdemos o jogo em Setúbal e temos imensa pena disso.

A nossa convicção era que e continua a ser: Nós pagamos ao dia 28 do próprio mês a toda a gente, seja à Segurança Social, seja ao fisco, seja aos jogadores, seja aos treinadores, seja a todo o staff que aqui trabalha. E não achava justo, como não acho justo como um dia também se o União de Santarém estiver num papel inverso de estarmos a competir com clubes que tem 56 milhões de dívida.

Eu acho que a grande mensagem é um respeito e uma admiração muito grande pela história do Vitória Futebol Clube. São 113 anos e o resto é fait divers.

NS – Já falou com alguém da direção do Vitória depois da decisão da FPF?

PP – Houve alguns contactos de pessoas de Setúbal, mas eu não quis. Não quis conversar, não quis falar.

Acho que está tudo ainda muito quente. Os adeptos do União de Santarém e os sócios União de Santarém foram altamente ameaçados e insultados nas redes sociais. E eu por por respeito e consideração aos nossos adeptos e às nossas pessoas de Santarém, acho que é importante deixar passar um tempo.

Espero que o Vitória resolva os seus problemas e volte rapidamente aos campeonatos nacionais. Porque é um clube importante para o país. Agora acho que está tudo ainda muito fresco.Foi escrito coisas de pessoas que têm trabalhado tanto para o futebol português e mesmo para a cidade de Santarém, e eu acho que é muito cedo para falar.

NS – Que mensagem quer deixar aos adeptos e sócios do União de Santarém?

PP – A primeira mensagem é agradecer todo o apoio que nos deram esta época, sobretudo neste tema critíco. Tivemos apoio de muitos adeptos. Muitos sócios não só apoiaram primeiro e, mais importante, apoiaram muito o clube como me apoiaram muito a mim também como pessoa e acho que isso foi um agradecimento brutal.

Depois um agradecimento também a todos pelo apoio que nos deram durante a época. Foi um grande apoio.

Agradecer aos pais dos atletas da formação, porque são, sem sombra de dúvida, o motor do clube. Os pais dos atletas e os atletas da formação são o motor de um clube e cada vez mais acho que são mais importantes. Tenho muita pena de não conseguir estar cá todos os dias e nos treinos e falar com eles. Melhorámos o clube com a ajuda dos pais.

Pedir a todos os parceiros e às entidades municipais que nos ajudem neste neste objetivo ter a União de Santarém nos dez clubes mais importantes do país até 2030. Se todos nos ajudarem, nós vamos conseguir. Nós sabemos. Sabemos de onde vimos desde 2017. Eu só cá estou há um ano e meio, mas sabemos de onde vimos desde 2017 e sabemos para onde é que vamos e como é que temos que lá chegar.

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