Presidente da Federação de Pesca Desportiva lamenta falta de apoios governamentais a dos desportos mais medalhados em Portugal

24 Junho 2022, 18:06 Não Por João Dinis

Carlos Baptista, Presidente da Federação Portuguesa de Pesca Desportiva, que desde o início da semana tem estado em Coruche a acompanhar a selecção portuguesa e o desenrolar dos trabalhos do Campeonato Europeu de Pesca Desportiva que até domingo decorre na pista de pesca do rio Sorraia, em Coruche, esteve esta quinta-feira, na cerimónia de abertura da competição e ao NS fez um balanço da actividade, demonstrando-se bastante orgulhoso desta realização, lamentando no entanto a falta de apoios governamentais, numa actividade que anualmente tem cerca de 480 mil praticantes, correspondendo ao número de licenças obtidas para a prática das diversas modalidades da pesca desportiva, em rio e mar.

Foram dois anos terríveis”, começa por nos dizer Carlos Baptista, sobre os atrasos que a Covid-19 provocou na realização deste Campeonato Europeu, pelo que a Federação Portuguesa de Pesca Desportiva (FPPD) sempre continuou a “propor em congressos da Federação Internacional a realização dos campeonatos para Portugal”, isto porque não “podemos deixar morrer este desporto que só em Portugal inscritos na Federação tem 2700 atletas, 214 clubes, 11 associações bem como igual número de disciplinas de pesca desportiva em variadíssimas categorias a disputar essas 11 disciplinas.”

Apesar de ser um desporto de contacto com a natureza, inclusivo, saudável e sobretudo com um significativo número de participantes, podendo ainda acrescentar-se o elevado número de medalhas alcançadas em campeonatos da Europa e do Mundo, a modalidade continua ainda assim a não ter os devidos reconhecimentos e recompensas financeiras, continuando a modalidade a ser suportada pelos praticantes.

Carlos Baptista prefere dividir a questão começando por nos dizer que se “sente de certa forma injustiçado”, dando o exemplo da ética do desporto. ”Quando eu vejo o futebol a acontecer o que acontece no futebol com mortes, inclusive nas claques, com tudo aquilo que nós vemos, em que o cumprimento de um treinador às vezes é uma cuspidela no treinador adversário e nós no nosso desporto, na pesca desportiva nos é obrigatório responder de forma eficaz ao que nós fazemos em termos de ética no desporto, e se não o fizermos é são-nos retiradas verbas e tudo o que possa imaginar é de uma injustiça para quem faz o que faz sem ganhar um cêntimo e está no dirigismo por paixão”.
Nos últimos anos a FPPD foi mesmo considerada um exemplo pela Federação Internacional e apresentou o trabalho desenvolvido na ética desportiva que serve agora de base ao trabalho que está a ser desenvolvido nas restantes federações europeias.

Quanto aos apoios, o Presidente da FPPD começa por nos referir que esta é “uma federação de utilidade pública desportiva e temos da parte do Estado o apoio para a nossa actividade”, que se tem manifestado insuficiente para as exigências da federação.
Neste momento tenho a certeza que não é só em relação à nossa federação em si, mas sim em relação a todas as federações desportivas, extra futebol, porque o futebol por si próprio é um mundo à parte porque consegue ter meios próprios, não precisava do dinheiro do IPDJ (Instituto Português do Desporto e da Juventude) nem do Estado para conseguir sobreviver, ao passo que nós precisamos e de que maneira”, salientando que “se não fossem as autarquias a apoiar algumas actividades, como estes campeonatos internacionais, como na própria actividade desportiva de campeonatos nacionais, ao longo do ano, nós não conseguiríamos sobreviver”.

A FPPD dispõe de uma subvenção de 55 mil euros para as selecções nacionais.”Nós temos 22 selecções nacionais a sair para o estrangeiro, o que representa mais de 300 mil euros”, explica-nos Carlos Batista, que deixa no ar a pergunta de “como é que nós com 55 mil euros conseguimos por as selecções todas a competir”, lamentando que muitas vezes sejam ainda criticados pelos clubes e atletas, apesar de “fazermos das tripas coração para conseguirmos por as selecções todas na rua”.

Outra das preocupações transmitida por Carlos Baptista, e à qual espera por parte do Estado, via tutela do Desporto, é que “olhem para o regime do estatuto do dirigente desportivo amador”, que este considera estar a acabar. ”Esse carola vai acabar dentro de poucos anos”, lamenta, “aquele que agarra no seu carro vai buscar os miúdos a casa, que os leva a praticar desporto e que os vai levar a casa, mas que entretanto leva uma sandes, também leva um sumo, esse está a acabar”, deixando o alerta de que “se a tutela não olhar por estes carolas, dentro de muito pouco tempo estes acabam”, dando o seu exemplo, considerando que em breve poderá abandonar o dirigismo.

Questionado se este ‘abandono governativo’ da modalidade, poderia estar relacionado com o lobby da defesa animal, este considera que não, pois na pesca desportiva, em todas as vertentes, o peixe é devolvido ao seu habitat natural, dando mesmo o exemplo de um encontro com responsáveis políticos, em que o PAN demonstrou estar muito mal informado sobre as matérias.

A finalizar Carlos Baptista deixou o convite para que todos venham a Coruche este fim-de-semana, 25 e 26 de Junho, “para verem os melhores pescadores da Europa a praticar este desporto tão bonito”.
Um desporto puro, ao ar livre, de contacto com a natureza e toda a beleza que temos aqui abordamos, que termina sempre com a devolução do peixe à água”, salienta, terminando deixando alguns elogios a Coruche, que “tem uma boa gastronomia, muito ar puro e a possibilidade de ver um evento e alto nível”.

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