Poluição fez Rio Alviela passar de força motriz da economia a principal motivo do êxodo para a cidade

23 Fevereiro 2025, 12:34 Não Por André Azevedo

Fustigado pela poluição o rio Alviela passou de ser um das forças motrizes da economia do concelho de Santarém para passar a ser um dos principais fatores que levou ao êxodo das populações a Norte do concelho de Santarém.

José Gabriel, presidente da Comissão de Luta Anti Poluição do Alviela, conta ao NS que a região Norte do concelho, durante a primeira metade do século XX foi rica em indústrias transformadoras de cereais, que viviam da correnteza das águas outrora limpídas do rio que se estende ao longo de 50 quilómetros cruzando os municípios de Alcanena e Santarém, até se fundir com o Tejo.

O ativista anti poluição conta que os problemas graves de poluição começaram na década de 80 com o desenvolvimento da indústria dos curtumes no concelho de Alcanena, que usavam o rio como esgoto a céu aberto e descarregavam os efluentes altamente poluentes que destruíram o ecossistema ribeirinho e tornaram o rio inútil para quem nele tinha o seu ganha-pão.

Além da importância económica, José Gabriel destaca ainda a importância social, comprovada durante o encontro organizado pela GEOTA, na aldeia de Vaqueiros, em que vários habitantes presentes relembraram as memórias de infância da convivência à beira rio, das tardes entre amigos, piqueniques e mergulhos.

Apesar de reconhecer melhorias substanciais e de já se poder ver um renascer da fauna e flora do rio, José Gabriel garante que “ainda há descargas poluentes a acontecer no Alviela”, e lamenta que as autoridades competentes estejam cientes do que acontece, até pelas várias denúncias, mas que se mantenham impávidas e serenas.

“Estas situações acontecem porque não existe a devida fiscalização, porque não existe um serviço de proteção da natureza com meios humanos e materiais”, lamenta José Gabriel. O presidente da CLAPA deixa ainda críticas às autoridades, nomeadamente ao Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente da Guarda Nacional Republicana (SEPNA). O ativista garante que já contactou várias vezes com este serviço e que por várias vezes terão alegado falta de meios humanos e materiais para garantir um serviço eficaz.

O retorno dos guarda-rios é uma das soluções apresentadas pelo presidente da CLAPA, que apela à reintrodução desta figura fiscalizadora como forma de dissuadir os poluidores. José Gabriel garante que as descargas não vêm só da ETAR de Alcanena, mas que também as indústrias pecuárias “à boleia das descargas da ETAR” libertam os efluentes no rio.

As descargas têm acontecido maioritariamente em alturas que a pluviosidade elevada faz crescer o caudal do rio. A última situação registada ocorreu a 29 de janeiro, e segundo o NS apurou foi proveniente da Estação de Tratamento e Águas Residuais de Alcanena, que não terá tido capacidade de armazenar o excesso de água causado pelas fortes chuvadas, havendo a necessidade de fazer uma descarga preventiva. Os responsáveis pela ETAR falharam em avisar as autarquias vizinhas, mas na reunião do executivo de Santarém realizada a 16 de fevereiro, o vereador responsável pelo pelouro do Ambiente, Manuel Afonso, afirmou que a informação que lhe foi veiculada é que a descarga foi autorizada pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA).

Em declarações ao NS, o presidente da Câmara de Santarém, João Leite, deixou uma “crítica veemente a quem pratica esses crimes ambientais que penalizam as nossas populações e os nossos territórios”. O autarca deixa ainda o apelo que as entidades fiscalizadoras, como a APA e o SEPNA, “atuem de forma severa para situações como estas não se voltem a repetir”.

O autarca deixou ainda críticas à gestão feita na última década na administração pública, lamentando o “desinvestimento brutal”, acrescentando que o Estado tem de perceber que nas áreas de fiscalização é preciso um investimento.

“Não podem faltar recursos pra fiscalizar e monitorizar um património tão importante como os rios”, garantindo que levantará críticas a qualquer governo que não inverta as políticas de desinvestimento dos últimos 10 anos.

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