Opinião – “Vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar”

31 Outubro 2023, 9:25 Não Por Redacção

“Vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar”

     Sophia de Mello Breyner Andersen

O dia 17 de Outubro encontra-se instituído, desde há 30 anos, como “Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza”. Este ano, 2023, direcionado para os direitos humanos sob o tema “Dignidade para todos na prática, direitos esses consignados na Declaração Universal dos Direitos Humanos”.

A realidade que enfrentamos diz-nos, segundo dados da Pordata, a base de dados estatísticos da Fundação Francisco Manuel dos Santos, que um, em cada cinco, residentes em Portugal estava em risco de Pobreza ou Exclusão Social no ano passado, não diferindo da realidade de 2021, isto é, 1,7 milhões de portugueses.

Revela-nos ainda que, mais de um terço das famílias portuguesas aufere um salário de 833 euros mensais, não possuindo capacidade para fazer frente a despesas inesperadas.

Recordemos que assistimos a um aumento de 90 % do custo das habitações em 2022 face a 2015, enquanto os salários subiram apenas 20%.

Falemos também nos desempregados em risco de pobreza, 43,4% em 2021 ou dos idosos 17% com maior incidência nas mulheres; ou ainda das famílias monoparentais com crianças 28% e nas famílias numerosas 22,7%.

O Presidente do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola; Álvaro Lario (de nacionalidade espanhola) organismo das Nações Unidas que fornece recursos económicos aos camponeses mais pobres da América Latina e Caribe, África e Ásia colocou a seguinte questão no mês passado:

“A fome continua a ser uma questão política, causada principalmente pela pobreza, a desigualdade, os conflitos, a corrupção e a falta geral de acesso aos alimentos e aos recursos.

Num mundo de abundância que produz alimentos suficientes para todos, como é possível que haja centenas de milhões de pessoas a passar fome?”

Esta questão denuncia a incapacidade das organizações mundiais na erradicação da pobreza e da fome.

Segundo um relatório de Oxfam Internacional, Confederação que reúne 19 organizações e mais de 3000 parceiros, com a finalidade de encontrar soluções para a erradicação da pobreza, da desigualdade e da injustiça, desde a sua fundação em 1942, revelou que 1% dos mais ricos do mundo acumulou quase dois terços de toda a riqueza gerada desde 2020 – cerca de 42 biliões de dólares – quase o dobro do dinheiro dos 99% mais pobres da população mundial. Acrescenta-se que, no ano de 2022, os bilionários, viram a sua riqueza a aumentar, sobretudo, nas áreas da energia e da alimentação.

Nós, por cá, com o impacto da pandemia e da guerra, sofremos na pele o brutal agravamento do custo de vida, enquanto os grandes grupos económicos e as multinacionais em simultâneo, tiveram lucros enormíssimos e podemos dar como exemplo os 11 milhões de lucros diários ganhos pelos cinco maiores bancos ou os 25 milhões, também por dia, auferidos pelos principais grupos económicos, no primeiro semestre de 2023.

E nós?

E a Educação?

E a Saúde?

E os Salários?

E os Serviços Públicos?

E a casa para viver?

E a creche?

E a Justiça Fiscal?

Atrevo-me a recordar o nosso Almeida Garrett que perante as desigualdades vividas na sua época questionava: “… e eu pergunto aos economistas, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar à miséria, ao trabalho, desproporcionado, à desmoralização, à infância, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um risco?”

É possível e imprescindível reduzir a pobreza, combatendo as desigualdades e as injustiças!

Vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar, cabe a cada um de nós erguer a voz e agir!

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