Opinião – Os Censos 2021 e a (falta de) Estratégia Autárquica

9 Novembro 2022, 12:03 Não Por Redacção

Em 2021 realizou-se a operação nacional de recenseamento da população. Os Censos têm colocado à disposição da sociedade o maior retrato estatístico de Portugal, com o intuito de fornecer dados essenciais aos organismos públicos, às entidades privadas e aos cidadãos em geral para a planificação de serviços ou para definição de políticas de saúde, de habitação e de emprego.

Deveria ser assim. Mas o que vemos na realidade é que os resultados dos Censos têm servido para elaborar uma peça do telejornal da noite, um ou dois artigos de jornal, e pouco mais.  

A imensa informação estatística proveniente dos Censos deveria também ser usada pelos municípios para apoio à decisão. Por exemplo, os últimos Censos mostraram que Portugal tem menos habitantes que em 2011 e que a pirâmide etária mostra uma população mais envelhecida.  Mas, e que dizer da zona do Vale do Sorraia? O município de Coruche perdeu 13% da sua população! Isto porque em 2011 tinha 29% da sua população com mais de 65 anos (10 pontos percentuais acima do valor nacional) e durante estes 10 anos não foi capaz de inverter esta tendência.

O município de Salvaterra de Magos foi, no entanto, o que “envelheceu mais rápido”, pois apesar de ter perdido apenas 2,5% de habitantes, tem mais 915 idosos e menos 569 crianças do que tinha há 10 anos atrás. E tem menos 984 habitantes dos 25 aos 64 anos que em 2011. Estes dados colocam o município de Salvaterra numa situação complicada para os próximos dez anos, porque não está a conseguir que os jovens adultos que cresceram no município aí continuem. 

As razões deste êxodo podem ser várias, mas as principais prendem-se com a habitação e o emprego.  

No emprego, o apoio ao empreendedorismo é uma rúbrica praticamente abandonada no orçamento municipal, tendo apenas algumas despesas para apoio ao comércio no mês da Enguia e na época de Natal. É completamente descurado o setor das Tecnologias da Informação que é, de modo inequívoco, o setor em Portugal com maior crescimento de vendas e exportações. Para podermos formar empresas destas, poderíamos usar edifícios públicos que estão praticamente vazios e colocar lá as condições para jovens aí poderem iniciar as suas empresas. O custo? Seria praticamente nulo, porém o atual executivo não concorreu a nenhum programa de financiamento para criar estes Centros de Serviços e Competências. Nada foi feito neste sentido, e nada será, se não for invertida esta política local que esquece os jovens empreendedores. 

Na habitação, Salvaterra de Magos tem o preço mais caro por metro quadrado de toda a Lezíria do Tejo. Se isto por um lado pode ser bom para quem vende a casa, para as finanças locais (que em 2022 estão com uma receita extraordinária de 1 Milhão de € relativo a vendas de imóveis no município), certamente não é para os jovens do concelho que pretendem adquirir uma habitação. O município poderia ter feito habitação para alojamento de jovens no programa de habitação local, porém optou por apenas desenvolver projetos de habitação social para populações extremamente carenciadas. Ou seja, fez apenas o mínimo exigido.  

O município de Salvaterra de Magos tem duas missões fundamentais para se desenvolver e não deixar ninguém para trás: Numa missão tem cumprido o suficiente, que é ajudar as Instituições que tratam dos Idosos, e que, fruto do crescimento da população idosa do concelho terá cada vez mais necessidades ano após ano. Noutra, tem falhado rotundamente, que é evitar que os jovens abandonem o concelho à procura de condições mais adequadas ao início da sua vida adulta. 


Por motivos de força maior o artigo é da responsabilidade de Luís Pereira / B.E. Salvaterra de Magos

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