Milhares de jovens no primeiro dia da JMJ em Lisboa – Reportagem com Fotos

1 Agosto 2023, 21:40 Não Por Lusa

Jovens de todo o mundo “pintam” Parque Eduardo VII até ao Marquês de Pombal

Momentos antes de começar a primeira missa da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), peregrinos de quase todos os países do mundo formaram uma mancha humana que se estendia do Parque Eduardo VII até ao Marquês de Pombal.

Na primeira fila, junto às baias que separam os peregrinos do palco do Parque Eduardo VII, a bandeira de Portugal era a maior e a mais alta a oscilar ao vento.

Mas, a primeira a posicionar-se no recinto foi a da Guatemala, trazida por um grupo de oito peregrinos, que desde as 13:00 guardavam lugar.

Ao fim de cinco horas de espera, destacavam-se como os mais animados da fila da frente, alternando cânticos com ‘slogans’ e festejos sempre que uma câmara se aproximava.

Ao lado, espalhavam-se grupos de El Salvador, Zimbabué, Brasil, Filipinas, Malásia e Angola, entre bandeiras de muitos outros países.

Debaixo de sol intenso, munidos de panamás e vestindo t-shirts de várias as cores, jovens de vários pontos do mundo responderam aos apelos do palco, levantando as mãos em demonstração de alegria, sempre que um dos artistas lhes perguntava: “Lisboa, estão todos felizes?”.

Na lateral do palco, sentavam-se na relva milhares de padres e outros elementos do clero, para assistir à missa presidida pelo cardeal-patriarca Manuel Clemente.

A movimentação no local foi grande, dificultando o trabalho dos voluntários que têm a responsabilidade de manter livre um corredor para emergências. A imensidão de gente que circulava obrigou a que fossem dadas orientações para restringir o acesso pelas laterais do Parque Eduardo VII.

À medida que se aproximava a hora da missa cada vez mais grupos de jovens entoavam “Esta é a juventude do Papa”, em várias línguas, sobretudo em espanhol.

Segundo a estimativa da organização mais de 300 mil jovens estarão a assistir à cerimónia religiosa.

Parque Eduardo VII também tem gente menos jovem que deseja mudança na Igreja

A Jornada Mundial, que hoje começou em Lisboa, é da juventude, mas entre os milhares que aguardam a missa no Parque Eduardo VII há gente menos jovem, que acredita no poder do evento para mudar mentalidades e “abrir” a Igreja.

Numa zona de sombra no Parque Eduardo VII, esta semana ‘batizada’ como Colina do Encontro, o casal Gaspar Moura e Maria dos Prazeres Rebelo aguarda pacientemente o início da missa, celebrada pelo cardeal-patriarca Manuel Clemente, e revela acreditar que a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) pode ser “a chama que falta para aumentar a fé dos jovens”.

“É preciso conduzir esta juventude. São os jovens que podem ajudar a ‘limpar’ a imagem da Igreja e esta coesão dá esperança”, afirmou Gaspar Moura, de 65 anos, à agência Lusa, considerando que muito que a Igreja vive ainda hoje “se deve à força que o clero tinha no tempo do Estado Novo”.

Ao lado, a mulher confidencia que há muito que sonhava ir a uma JMJ, e lembra que em 1982 esteve em Braga a ouvir o Papa João Paulo II. Ao sonho concretizado, junta-se a alegria de ter os dois filhos inseridos num grupo de peregrinos.

“Finalmente, conseguimos vir e vamos estar também na via-sacra e na vigília”, na qual o filho Pedro vai estar inserido na orquestra a tocar clarinete.

O casal, que vive em Vila Real e que esta semana está alojado em casa do filho, em Carnaxide, não está inscrito na JMJ, mas isso não os impede de terem intenção de pernoitar de sábado para domingo no Parque Tejo, onde o Papa Francisco encerra o evento.

Sozinha, a brasileira Alessandra, de 48 anos, sobe lentamente o Parque Eduardo VII, “inundado” por jovens e por música. Decidiu ver e assistir à missa, e garantiu acreditar que “tantos jovens podem mudar a imagem de uma Igreja, que precisa deles”.

“Acredito que pode ser bom para a Igreja e pode ajudar a mudar as mentalidades mais antigas”, assumiu, enquanto usa uma echarpe para improvisar um chapéu que lhe proteja a cabeça do sol.

Menos corajosos, ou não, foram as amigas Isabel, de 75 anos, e Adelaide, de 82, que depois de já estarem a meio do Parque Eduardo VII decidiram voltar para trás e rumar a casa para assistirem à missa pela televisão, vencidas pelo calor e pelo barulho.

“Estou banzada, nunca achei que isto pudesse juntar tanta gente, isto é maravilhoso. Tenho pena de não ficar para a missa com o senhor cardeal, mas não aguento o barulho”, assumiu Isabel, enquanto ironicamente se ouvia, em alto e bom som, uma canção cujo refrão pede aos jovens que saiam do sofá, uma expressão usada pelo Papa Francisco na JMJ de Cracóvia, em 2016.

Mais de um milhão de pessoas são esperadas em Lisboa entre hoje e domingo para a JMJ, considerado o maior acontecimento da Igreja Católica, e que contará com a presença do Papa Francisco.

O Papa, o primeiro peregrino a inscrever-se na JMJ, chega a Lisboa na manhã de quarta-feira, tendo prevista uma visita de duas horas ao Santuário de Fátima no sábado para rezar pela paz e pelo fim da guerra na Ucrânia.

As principais iniciativas da jornada decorrem no Parque Eduardo VII, na zona de Belém e no Parque Tejo, um recinto com cerca de 100 hectares a norte do Parque das Nações e em terrenos dos concelhos de Lisboa e Loures.

PR defende que “maré jovem sem precedência” dissipa dúvidas

O Presidente da República considerou hoje que as dúvidas sobre a organização da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) ficam dissipadas com a atual “maré jovem sem precedência” que se encontra em Lisboa.

“Não me lembro de uma maré jovem assim em Lisboa, não me lembro, não tem precedência”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa em declarações aos jornalistas pouco depois de chegar ao Parque Eduardo VII onde decorre, neste momento, a missa de abertura da JMJ.

Acompanhado do presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, e questionado sobre a polémica à volta da organização do evento, o chefe de Estado assumiu não ter dúvidas que o retorno compense o investimento, afirmando que “é, de facto, não só um momento único na vida de todos nós, mas dissipa todas as dúvidas, era só fazer contas”.

O chefe de Estado salientou que o milhão e tal de jovens instalados em Lisboa contribui para ocupar os restaurantes, as geladarias e animar a manhã, tarde e noite da cidade que, nesta ocasião do ano, costuma viver “um período morto”.

Já sobre se o país está à altura de um evento desta dimensão, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou: “olha-se à volta e vê-se”.

Questionado sobre o que vai dizer ao Papa Francisco quando este aterrar em Portugal, na quarta-feira de manhã, Marcelo Rebelo de Sousa antecipou que vai transmitir ao chefe da Igreja Católica que a sua vinda até Lisboa “vai valer a pena” porque vai encontrar um país que “mobiliza o mundo todo num momento de guerra e de crise”.

Patriarca de Lisboa alerta para risco de jovens trocarem o real pelo virtual

O cardeal-patriarca de Lisboa alertou hoje para os riscos que os jovens correm ao trocarem o mundo real pelo virtual, “um mundo à escolha, diante de um ecrã e dependente de um clique que o mude por outro”.

Na missa de abertura da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Lisboa 2023, perante muitos milhares de peregrinos concentrados no Parque Eduardo VII, em Lisboa, Manuel Clemente sublinhou que muita coisa pode deter os jovens, como o mundo virtual que os impede de ir ao encontro dos outros.

“A virtualidade mantém-nos sentados, diante de meios que facilmente nos usam quando julgamos usá-los”, disse o anfitrião da JMJ, acrescentando: “pelo contrário, a realidade consistente põe-nos a caminho, ao encontro dos outros e do mundo como ele é, tanto para o admirar como para o fazer melhor”.

Esta ideia de Manuel Clemente parte do lema da Jornada – “Maria levantou-se e partiu apressadamente -, com o cardeal a dirigir-se aos jovens peregrinos sublinhando que, também eles, se puseram a caminho para participar neste encontro mundial com o Papa.

“Foi para muitos um caminho difícil pela distância, as ligações e os custos que a viagem envolveu. Foi preciso juntar recursos, desenvolver atividades para os obter e contar com solidariedades que graças a Deus não faltaram”, afirmou, exortando-os: “É muito importante pôr-se a caminho. Assim devemos encarar a própria vida, como caminho a percorrer, fazendo de cada dia uma nova etapa”.

Na ocasião, Manuel Clemente deixou também uma palavra para os órgãos de comunicação social, a quem agradeceu a possibilidade de dar a conhecer mais os outros e o mundo.

“Vivemos mediaticamente e já não saberíamos viver doutro modo. Contamos com o seu apoio, mas não nos dispensamos de caminhar por nós mesmos, de contactar e verificar diretamente a realidade que nos toca, a nós e a todos”, avisou.

Aos jovens, deixou também a certeza de que “valeu a pena o caminho” que percorreram para chegar à JMJ, na variedade do que são, “de cada terra, língua e cultura”.

“Nada pode substituir este caminho pessoal e de grupo, ao encontro do caminho de todos”, afirmou o patriarca de Lisboa.

“Bem-vindos, também na amplitude ecuménica, inter-religiosa e de boa vontade que estes dias têm e congregam. Desejo que vos sintais ‘em casa’, nesta casa comum em que viveremos a Jornada Mundial. Bem-vindos!”, disse Manuel Clemente, assegurando que Lisboa acolhe os peregrinos “de coração inteiro”.

A missa desta tarde foi a primeira cerimónia a decorrer esta semana no Parque Eduardo VII, apelidado de “Colina do Encontro” durante a JMJ.

O segundo momento acontecerá na quinta-feira, com a Cerimónia do Acolhimento, pelo Papa Francisco – que chega a Lisboa na quarta-feira -, a que se seguirá, na sexta-feira, a Via-Sacra, também presidida pelo pontífice argentino.

Mais de um milhão de pessoas são esperadas em Lisboa entre hoje e domingo para a JMJ, considerado o maior acontecimento da Igreja Católica, e que contará com a presença do Papa Francisco.

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