Inês Henriques termina domingo carreira de sonho – “Saí de Estanganhola, fui campeã do mundo e continuo lá”

12 Outubro 2023, 10:32 Não Por Lusa

Inês Henriques está realizada com a carreira de marchadora, que vai concluir no domingo após conquistar um título mundial, na mesma corrida popular em que se iniciou no atletismo, no concelho de Rio Maior.

Aos 43 anos, a pequena [tem 1,58 metros] grande atleta natural da também pequena localidade de Estanganhola vai despedir-se do atletismo de alta competição, na corrida do torneio de freguesias riomaiorense de São Sebastião, onde alinhou pela primeira vez, com 12 anos, e nas quais pretende continuar a participar.

“É um dia [em] que já estou em paz. É óbvio que a tomada de decisão é sempre muito mais difícil. Porque mais de 30 anos da minha vida foram virados para o atletismo, com o objetivo de alcançar boas marcas e bons resultados. A decisão foi difícil e, provavelmente, já devia ter tomada anteriormente. Estes dois últimos anos foram a mais, mas eu preferi adiar e ver se o meu corpo ainda respondia com os meus objetivos. Não respondendo e já não me sentindo bem a fazer o que estava a fazer, foi tomar a decisão e seguir em frente”, explicou a marchadora, à agência Lusa.

Inês Henriques vai encerrar o capítulo competitivo na sua terra natal, numa competição batizada com o nome de Jorge Miguel, o seu treinador de sempre.

“Começou no dia 11 de janeiro de 1992, na prova de São Sebastião, a minha freguesia – eu pedi ao Jorge para ir ver os registos –, em que, sem treinar, fiz um quilómetro em 04.30 minutos. Para uma miúda de 12 fazer isso sem treinar, era bastante bom. Eu costumo dizer que tinha algum valor, mas, depois, foi muito, muito trabalho”, vincou.

Seguiram-se mais de 30 anos de carreira, três Jogos Olímpicos, quatro presenças no top-10 em Mundiais e, coroa de glória, o título de campeã do mundo dos 50 quilómetros marcha, em Londres2017, selado com novo recorde na distância, e ainda o europeu em Munique2018.

Apesar do sucesso tardio, Inês Henriques valoriza todos os momentos do seu percurso, identificando duas mágoas, a retirada dos 50 quilómetros marcha do programa olímpico, contra o qual lutou judicialmente, e o abandono na última presença em Campeonatos do Mundo, em Budapeste2023.

“A maior mágoa que fica é não ter tido a oportunidade de fazer os 50 quilómetros nos Jogos Olímpicos (…) e, infelizmente, em termos desportivos, também não acabo como eu pretendia. Fiquei muito triste por não ter terminado o Mundial, independentemente do lugar ou da marca, eu queria terminar. Já tinha pensado que seria a minha última competição, mas precisei de mais algum tempo de reflexão”, reconheceu.

No domingo, às 10:50, o treinador Jorge Miguel, durante muitos anos organizador do torneio concelhio e dinamizador do atletismo em Rio Maior, dará o tiro de partida para os 5,85 quilómetros da última corrida de Inês Henriques, na Volta à freguesia de São Sebastião, uma volta de consagração da ‘filha da terra’, numa festa que vai contar com inúmeros responsáveis pelo seu sucesso.

“Acho que merecia pôr um fim neste ciclo e, de alguma forma, quero estar com as pessoas que fizeram parte dele. Vai ser um encontro de pessoas que estiveram comigo, que me viram crescer. Foi onde eu iniciei. Tudo tem um significado muito grande. Acho que eu sempre procurei levar as minhas origens comigo. E as pessoas que me viram crescer, acho que vão ficar felizes por isso, por a minha despedida ser com eles. Para mim, faz todo o sentido, porque eu saí de Estanganhola, andei por todo o mundo, mas continuo lá. E continuo a ser a miúda que ia a pé para a escola e vai ser feliz um dia”, concluiu.

________________

_____________________

_____________________