A última reunião do executivo da Câmara Municipal de Salvaterra de Magos, realizada esta quarta-feira, 15 de outubro, marcou o fim de um ciclo político e pessoal para Hélder Esménio. Depois de 12 anos à frente da autarquia e mais de quatro décadas de serviço público, o presidente cessante protagonizou uma sessão carregada de emoção, balanços e agradecimentos, perante colegas, funcionários e autarcas que compuseram o auditório da Escola “O Século”.
“É hora de me despedir de uma vida profissional de que verdadeiramente gostei. Foi um orgulho ter trabalhado no poder local, como técnico e como autarca”, afirmou Hélder Esménio, visivelmente emocionado, acrescentando que se retira “com o sentimento de dever cumprido”. O autarca lembrou os seus 42 anos e meio de ligação à Câmara Municipal, iniciados em 1983, e os 12 anos de presidência exercidos “em absoluta exclusividade e dedicação”.
No discurso de despedida, na sua última reunião pública, Hélder Esménio começou por agradecer a todos os que contribuíram para o bom desenrolar das eleições autárquicas, destacando o papel dos funcionários municipais, das juntas de freguesia, das forças de segurança e dos profissionais de saúde. Sublinhou que “as eleições decorreram com toda a normalidade desejada” e manifestou satisfação pela “diminuição significativa da abstenção”.
O presidente cessante evitou comentar os resultados eleitorais, mas fez questão de realçar dois aspetos. “Registo com agrado que aqueles que consideraram positivo o nosso trabalho ao longo destes 12 anos, seja apoiando quem comigo o construiu ou optando por outros caminhos, representam 60% dos votantes. Isso faz-me acreditar que deixamos uma marca apreciável em favor das nossas pessoas e da nossa terra.”
Hélder Esménio felicitou a nova equipa vencedora, o movimento “Juntos Fazemos+”, liderado por Helena Neves, até agora vice-presidente e eleita no domingo como nova presidente da Câmara. “Congratulo principalmente o movimento ‘Juntos Fazemos+’, inequívoco vencedor das autárquicas. Desejo sinceramente enorme sucesso aos que venceram, tanto sucesso como desejo para mim e para os meus”, declarou, deixando ainda um apelo à cooperação entre forças políticas: “Findo o processo eleitoral, os eleitos locais devem procurar entender-se para governar com estabilidade, em vez de gastar energias em conflitos estéreis.”
No momento em que passa o testemunho, Esménio quis deixar registadas as principais obras e projetos em curso que transitarão para o novo executivo, sublinhando que todas têm financiamento garantido. Entre as intervenções destacadas estão “a segunda fase da construção das habitações municipais, no valor de 3,8 milhões de euros”, “a conclusão das vias pedonais nas Galinheiras”, “a reabilitação da Unidade de Saúde de Salvaterra”, “a construção do Posto de saúde de Marinhais, com um investimento de 1,9 milhões de euros”, e “a construção do Pavilhão Desportivo de Foros de Salvaterra e Várzea Fresca, com um custo global de 3,1 milhões de euros”.
“Há sempre muito por concretizar, mas fico satisfeito por termos conseguido fazer acontecer, sempre com sentido de responsabilidade e sem comprometer o futuro financeiro do município. Nunca transferimos para as próximas gerações o pagamento de decisões que tomámos.”
Hélder Esménio reservou ainda palavras de agradecimento a todos os que o acompanharam ao longo do percurso, dentro e fora da Câmara. “Nada disto é mérito exclusivo meu. Se algum mérito tenho, é o de ter sobrevivido e aprendido com todos. Estou grato aos meus colegas de trabalho, aos vereadores, às chefias, aos autarcas das freguesias e aos dirigentes das associações e IPSS com quem trabalhei. A todos, o meu sincero obrigado.”
Também aproveitou para deixar um desabafo sobre as dificuldades da vida política: “Nem todas as memórias são boas. A inveja e a maledicência tornam a política um local perigoso, como se viu no último processo eleitoral. Mas, para mim, desistir nunca foi opção. Nada é mais gratificante do que fazer acontecer ao serviço das pessoas.”
Hélder Esménio, já embargado pelas lágrimas, deixou um agradecimento especial ao seu Chefe de Gabinete, João Simões, única pessoa que destacou, por sempre ter estado ao seu lado.
A Vice-presidente e agora Presidente eleita, Helena Neves, foi a primeira a intervir após o discurso de despedida. Numa intervenção emocionada, deixou palavras de reconhecimento: “Quero deixar uma palavra de respeito e de gratidão pelo trabalho desenvolvido ao longo destes anos. Foram 12 anos de caminho conjunto, de desafios, aprendizagens e conquistas para o nosso concelho.” A autarca agradeceu ainda aos trabalhadores municipais “pela dedicação e pela competência com que diariamente dão vida à ação da Câmara”, e garantiu que continuará a servir Salvaterra “com verdade, com respeito e com o mesmo amor pelo concelho”.
Seguiu-se o vereador Noel Caneira, que evocou o percurso conjunto de mais de duas décadas com Hélder Esménio. “Conheço o engenheiro Hélder há mais de 25 anos e sempre o considerei uma pessoa justa e responsável. Agradeço-lhe pela confiança e pelo contributo incansável ao desenvolvimento do concelho.” Recordou momentos marcantes, como o incêndio de 2016 na Glória do Ribatejo e a pandemia de Covid-19, destacando “a liderança, a coragem e a determinação do presidente, que nunca deixou de estar presente”.
A vereadora Ana Elvira, que também se despediu do executivo, salientou a honra de ter servido a causa pública ao longo de 32 anos. “É um ciclo que termina por opção própria, depois de uma longa aprendizagem. Desejo muito sucesso aos novos eleitos e que cumpram a missão para que foram escolhidos com dedicação e espírito de equipa”, afirmou.
A vereadora Marisa Simão, eleita pelo Chega, agradeceu a experiência e o acolhimento que sentiu durante o mandato. “Saio de consciência tranquila. Aprendi muito, fiz amizades e quero acreditar que não fiz inimizades. Desejo ao novo executivo sorte e sabedoria para dirigir os destinos do concelho”, disse.
Por fim, o vereador Luís Gomes, do Bloco de Esquerda, destacou a importância do respeito pela vontade popular e do papel da oposição no equilíbrio democrático. “A democracia só é forte quando a oposição cumpre o seu papel, contribuindo com propostas e fiscalização. O desenvolvimento sustentável do concelho exige cooperação e sentido de responsabilidade”, sublinhou. Terminou dirigindo “um abraço fraterno ao presidente Hélder Esménio”, com quem colaborou ao longo de 16 anos, reconhecendo “a sua dedicação, a sua visão e o seu trabalho em prol das populações”.
No encerramento da reunião, Hélder Esménio, com a voz embargada, deixou as últimas palavras enquanto presidente: “Não é o protagonismo que conta, é o que conseguimos fazer. Nunca desejei estar na ribalta, preferi sempre fotografar a ser fotografado. O exercício de funções públicas não é sobre cada um de nós, é sobre o que conseguimos realizar.”
Antes de se despedir com três simples “obrigado”, afirmou com emoção: “Termino esta caminhada com orgulho e gratidão. Sei que dei o melhor de mim e que continuarei, de outra forma, a servir Salvaterra de Magos.”
