Fábrica da Tupperware mantém trabalhadores até final de janeiro mas incerteza continua

10 Janeiro 2025, 10:31 Não Por Lusa

Os 200 funcionários da Tupperware vão continuar a trabalhar até final de janeiro mas a incerteza sobre o futuro da fábrica instalada em Montalvo (Constância) permanece, podendo continuar a laborar, ser vendida ou entrar em insolvência, foi hoje revelado.

“A informação que nós tivemos é praticamente a mesma da reunião anterior [em 26 de dezembro] e não sabemos o nosso futuro, sendo que hoje foi-nos transmitido que até final do mês vamos continuar a apresentar-nos ao serviço e que há três hipóteses em cima da mesa: a fábrica pode continuar a funcionar com os atuais proprietários, pode ser vendida a um grupo português ou que pode ir para insolvência e que, até final do mês, se saberá”, disse hoje à Lusa Rui Caseiro, funcionário da Tupperware.

Rui Caseiro falava à saída de uma reunião que envolveu todos os trabalhadores e o diretor da fábrica da multinacional norte-americana.

Com 47 anos e idade e “23 anos de casa”, Rui Caseiro, residente em Tramagal, disse ainda que “a produção está parada” e que está a ser dada resposta “às últimas encomendas”, trabalho que pode estender-se por “mais uma semana”, pelo que, depois, e até final do mês, “haverá trabalho ao nível de inventários de stocks, limpezas, manutenção”, podendo haver, no entrementes, “uma solução ou não”.

A fábrica da Tupperware instalada em Montalvo não fechou portas na quarta-feira, como havia sido previamente anunciado pelo presidente da câmara e pelos trabalhadores, tendo os responsáveis da fábrica adiado para hoje uma reunião com os funcionários onde foram comunicadas as notícias de futuro pelo diretor da unidade fabril, que nunca respondeu aos pedidos de informação solicitados pelos jornalistas.

Hoje, à porta da fábrica, os jornalistas esperaram mais uma vez pela saída dos trabalhadores para tentar obter alguma informação sobre o futuro da empresa e dos 200 funcionários, informação que tem sempre surgido aos poucos e quase sempre de maneira informal, tendo os mesmos indicado aos jornalistas que se mantêm as “dúvidas e incertezas” mas que saíram da reunião com a “garantia verbal que seria tudo pago”, caso haja necessidade de despedimentos.

“O que foi divulgado [na reunião] é que continua tudo em stand by até final de janeiro e que, se até lá não for divulgada informação para continuar, que vai entrar em insolvência. Que estão à espera de ordens dos Estados Unidos e mantêm-se as incertezas e as dúvidas até final do mês”, disse à Lusa Helena Jesus, 57 anos, residente em Abrantes.

Com 35 anos de casa, Helena disse que, no período de perguntas dos trabalhadores na reunião, “a dúvida era se, caso a empresa feche, se era tudo pago”, e os direitos dos trabalhadores salvaguardados, o que terá sido assegurado.

“Eles dizem que vai ser tudo pago, indemnizações, subsídio de férias ou férias não gozadas, que isso vai ser tudo pago e que isso garantem a 100%”, declarou.

Luísa Batista, com 62 anos de idade e 38 anos de fábrica, afirmou sair da reunião “mais tranquila” com as garantias dadas, apesar da incerteza no futuro.

“Não tenho razão para não confiar, sempre pagaram, não devem nada, temos os salários em dia, ainda vamos receber este mês e temos ainda trabalho”, afirmou, tendo feito notar que “ainda não é certo que a fábrica feche” e que estão “três opções” em cima da mesa.

“Gostava que a fábrica continuasse a funcionar, pelo menos até à minha reforma, faltam quatro anos”, disse, numa gargalhada.

A fábrica vai manter a atividade por mais uns dias para dar resposta às encomendas, continuando, no entanto, incerto o futuro de 200 trabalhadores, apesar de duas das três opções em cogitação viabilizarem a continuidade da unidade industrial e manterem “acesa uma luz ao fundo do túnel”, disse à Lusa o presidente da Câmara de Constância.

“Se hoje dissessem às pessoas que a partir de segunda-feira a fábrica está fechada e vamos começar os despedimentos, teríamos chegado ao fim da linha”, afirmou Sérgio Oliveira, tendo feito notar que, “o facto de haver mais umas semanas em que a fábrica está a trabalhar, até 31 de janeiro, alimenta-nos a todos a esperança que efetivamente a pior solução de todas não venha a acontecer”.

Tendo feito notar que “o poder de decidir está nas mãos dos credores, dos investidores e dos fundos de investimento na América”, o autarca disse que os trabalhadores estão a viver “momentos muito difíceis de incerteza e angústia” mas que há hipóteses de continuidade.

“Há um grupo de investidores interessados na fábrica da Tupperware, que a Câmara acompanhou numa reunião com a secretaria de Estado da Economia, e já foi apresentada uma proposta de aquisição da fábrica à empresa norte americana, tendo chegado ontem um pedido de esclarecimentos adicionais, já respondido, e aguarda-se resposta”, avançou, sem detalhar o nome do grupo empresarial.

Por outro lado, indicou, “a licença de produção da fábrica expirou na quarta-feira”, dia 08 de janeiro, e “os atuais proprietários pediram a renovação da licença, ainda sem resposta”.

Face a estas movimentações, Sérgio Oliveira frisou existirem ao momento “três possibilidades, sendo que a da insolvência é que ninguém quer”.

“Esperemos que seja um período difícil e que no fim haja efetivamente essa luz ao fundo do túnel e que a Tupperware continue a laborar, com o nome Tupperware ou com outro nome qualquer, e que continue a assegurar o número de postos de trabalho que ali tem para aquelas famílias todas”, concluiu.

A fábrica da multinacional Tupperware em Portugal, a funcionar desde 1980 na freguesia de Montalvo, dependia a 100% da casa-mãe norte-americana, vendida depois de em setembro ter entrado em falência, e os planos para o futuro não parecem passar pela Europa, uma vez que a empresa revogou a sua licença de venda de produtos em todos os países europeus, segundo noticiou a imprensa internacional.

O pedido de insolvência da casa-mãe tem consequências diretas na unidade portuguesa e pode deixar no desemprego os 200 trabalhadores que ali são efetivos, a maioria dos quais residente em Montalvo.

A Lusa pediu informações à administração da fábrica instalada em Portugal, sem resposta até ao momento.

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