Anúncio 0

Espécies invasoras trazem “cascata de problemas” para o ecossistema do Tejo 

Por 

Anúncio 1
Anúncio 2

O relógio passava pouco das nove da manhã quando o barco dos investigadores do centro de investigação MARE entrava na água do Tejo, em Valada, no Cartaxo. A missão desse dia passava por monitorizar várias espécies de peixes do rio. Diogo Ribeiro, responsável de campo, ficou ao leme do barco. Mafalda Moncada e Rita Almeida ficaram com a responsabilidade de capturar as espécies para registo, soltá-las se fossem nativas. As espécies exóticas não podem ser devolvidas ao habitat. 

O NS esteve a acompanhar o trabalho destes investigadores do MARE durante a manhã de 2 de outubro. No interior do barco seguem vários tanques e baldes, que são cheios com a água do Tejo e é onde vão ficar os peixes que forem apanhados até que sejam feitas as medições necessárias, antes de serem devolvidos de volta ao rio. O método de pesca utilizado é a pesca elétrica, usada por quase toda a comunidade científica, e só por cientistas, uma vez que é proibido o uso deste método sem ser neste contexto. Um gerador a bordo do barco transmite energia para os pólos negativos (na traseira do barco) e positivos (na frente do barco). Diogo Ribeiro explica que os peixes são atraídos para os pólos positivos e torna mais simples o trabalho de recolha das espécies.  

Nas ações desenvolvidas no âmbito da monitorização das espécies, Diogo Ribeiro salienta que “este trabalho que temos vindo aqui a realizar consiste numa monitorização dos peixes ao longo do Rio Tejo”, acrescentando que o projeto está atualmente na sua nona edição consecutiva. Segundo o investigador, as operações de campo incluem dez pontos de amostragem, “sendo aqui a Valada o mais a jusante de todos, o mais abaixo do Rio Tejo, e vamos até às barragens, neste caso, Belver e Fratel, na parte mais a montante do Rio Tejo”. Esta estratégia permite, explica, “conhecer as comunidades de peixes que existem ao longo do Rio Tejo e como têm vindo a ser alteradas nesta escala temporal de nove anos”. 

Diogo Ribeiro defende ser “importante para no futuro perceber como isto vai evoluir” e sublinha a intenção de “continuar a fazer este trabalho durante muitos mais anos para perceber quais são os peixes que habitam o nosso Rio Tejo”. 

Sobre as espécies monitorizadas, o especialista explica: “a nível das espécies nativas, das autóctones, a fataça e o barbo, que são de dimensões maiores, são as espécies mais comuns”. Entre os pequenos cardumes, destaca ainda “o peixe-rei, que é bastante abundante, apesar de ter dimensões mais pequenas”. Quanto às espécies exóticas, realça a presença do “alburno, também semelhante ao peixe-rei em termos de cardume e comportamento muito semelhante”, para além de espécies de maior porte, como “o lúcio-perca e o siluro, que são bastante abundantes ao longo de todo o Rio Tejo”. 

Diogo Ribeiro aponta também os riscos trazidos pelas invasoras: “as espécies invasoras têm comportamentos diferentes. Por exemplo, o alburno, uma espécie pequena, pertence à mesma família que algumas nativas com estatutos de ameaça e pode reproduzir-se com elas, resultando em peixes híbridos e numa deterioração da qualidade genética das populações.” Quanto aos grandes predadores, “obviamente têm capacidade de comer outras espécies, principalmente as de menores dimensões, e contribuem muito para a alteração do ecossistema nativo existente no Rio Tejo”. 

Rui Rivaes é um dos responsáveis do MARE e um dos estudiosos das comunidades piscícolas do Tejo. O investigador tem sido uma voz ativa no alerta dos perigos que as espécies invasoras trazem para o Tejo, relembrando, por exemplo, do caso da Boga de Lisboa, uma espécie nativa do rio e que está a ficar cada vez mais ameaçada pelas megapredadores, como o siluro.  

O investigador explica ainda que a introdução de espécies exóticas, como o siluro, o lúcio-perca, ou as carpas europeias, trazem uma “cascata de problemas” para o ecossistema do Rio Tejo, e várias alterações da qualidade biótica do ecossistema, embora ainda não se consiga prever que consequências terá para o ser humano no futuro. 

MARE também estuda o motivo da existência de robalos no Tejo 

Incluída na equipa incumbida da monitorização dos peixes no Tejo estava Rita Almeida, que trazia uma missão diferente dos colegas. Doutoranda em Ciências do Mar, a investigadora está a elaborar uma tese de doutoramento que tem como objetivo estudar a presença de robalos no Tejo.  

A investigadora explica que se encontra a presença desta espécie marítima até Abrantes, onde não há qualquer cunha salina, e que embora haja muitas teorias, ainda não se chegou a uma conclusão. Para recolher os parâmetros biométricos, Rita Almeida coloca um transmissor em cada robalo que encontra. 

A investigadora revela ainda que só há registo dos robalos subirem os rios Tejo, Guadiana e Minho, em Portugal, o rio Guadalquivir em Espanha e o rio Gironde em França. 

Por 

Anúncio 4
Anúncio 5
Anúncio 7
Anúncio 8

Conteúdo relacionado

Partilhar notícia

Partilhe através das redes sociais:

ou copie o link:

[current_url]
Anúncio 1