Desejava fazer voluntariado e acabou a mudar a forma como se encara o cancro em Portugal

11 Outubro 2024, 16:29 Não Por João Dinis

Quando Rita Teles Branco saiu do Instituto Português de Oncologia (IPO) pela primeira vez, com o desejo de fazer voluntariado e poder ajudar as pessoas a terem um momento de maior conforto durante os tratamentos, estava longe de imaginar que vinte anos depois tinha tido um papel fundamental na forma como se encara e combate o cancro em Portugal.

“Quando tive o meu primeiro cancro, aos 23 anos, fui tratada no IPO de Lisboa, e foi lá que conheci o lado da Liga (Portuguesa Contra o Cancro) de apoio ao doente”, começa por nos referir. “Felizmente eu nunca precisei do apoio, porque tive a possibilidade de ir acompanhada, mas vi que havia muita gente que passa por tudo sozinha, sem companhia, sem apoio sem ajudas… e aquelas voluntárias que lá andavam eram fundamentais para apoiar aquelas pessoas, não só nas questões da alimentação, mas porque se passa lá horas e horas.”, acrescenta, revelando que “foi aí que nasceu a minha vontade de, se tudo correr bem, querer fazer voluntariado na Liga Portuguesa Contra o Cancro”.

Anos mais tarde, e já depois de ultrapassado o cancro, “e após o casamento que aconteceu depois da minha cura”, foi convidada para uma reunião na Liga Portuguesa Contra o Cancro, onde lhe foi apresentado um projeto que estava a ser desenvolvido nos Estados Unidos, denominado “Relay For Life – Estafeta pela Vida”, que havia sido trazido para Portugal por Cristina Gonçalves Ferreira, e que em boa hora se lembrou de Rita Teles Branco para o dinamizar.

“Quando entrei para a reunião pensei que seria para fazer voluntariado”, mas acabou a trazer o dossier da American Cancer Society com o evento e o desafio de o implementar em Portugal, adaptando-o à nossa realidade.

E assim a 16 de outubro de 2004, Coruche recebeu a Festa de Lançamento do “Um dia pela Vida”, que “foi a maneira que nós arranjamos para convidar a comunidade a sair de casa num sábado para ouvir falar de cancro”.


Logo nesse primeiro dia, além de uma palestra sobre a doença, “explicamos o que era o projeto e desafiamos as pessoas a constituírem equipas”, que depois iriam desenvolver o trabalho durante os meses do projeto.
“Logo nesse dia começou o milagre, porque se inscreveram muitas equipas (…) e o que é certo é que de outubro de 2004 a março de 2005 esta terra não fez mais nada a não ser ter toda a gente a trabalhar e celebrar a vida”.

Na edição de Coruche, a primeira do projeto “Um dia pela Vida”, participaram ativamente 960 pessoas, que se dividiram em 63 equipas, que organizaram diversas atividades. “Todos os fins-de-semana havia jantares, reuniões, vendas de rifas… sei lá, milhares de ações que permitiram nessa altura angariam 200 mil euros ‘pela causa e para a causa’”.

“Além do valor foi muito importante falar-se de cancro”, pois esse é um dos objetivos do projeto. “Celebrar, recordar e lutar”, são três palavras que dão o mote ao projeto que acabou por quebrar tabus e colocar Portugal a olhar de outra forma para o cancro, deixando de ser uma “doença prolongada” e passando a ser tratado pelo nome.

Esta mudança de atitude que o projeto trouxe para Portugal, foi muito importante, pois o “cancro é a doença que mais afeta pessoas hoje em dia (…) uma em cada três pessoas têm cancro”, pelo que a responsável pelo projeto considera que é importante que todos consigamos lutar contra o cancro, em questões tão simples como participar nos rastreios, nas atividades da Liga Portuguesa Contra o Cancro, ou simplesmente não ignorar os sinais do corpo.

A Liga Portuguesa Contra o Cancro, que conta já com 80 anos de existência, tem feito um trabalho, a sua maioria voluntário, no combate à doença, no apoio ao doente oncológico e às suas famílias, tendo para isso contando com o apoio das 90 edições do evento “Um dia pela Vida”, que se têm realizado um pouco por todo o país – Continente e Ilhas. “A centésima voltará a ser em Coruche”, anuncia Rita Teles Branco.

“Fui a organizadora do primeiro evento, mas não fiz tudo sozinha, obviamente que tive uma grande equipa que trabalhou comigo, e que foi fundamental para o sucesso do primeiro evento”, afirma.

Com o objetivo de assinalar os 20 anos do primeiro evento, Coruche recebe este sábado, 12 de outubro, o evento que assinala oficialmente a passagem dessa data, com uma celebração, mas também um momento de colóquio.

O Pavilhão Multiusos de Coruche recebe a partir das 17 horas o evento “Um Dia Pela Vida” – 20 anos UDPV em Portugal”, que contará com intervenções de Rita Teles Branco, Ricardo Sousa (Coordenador Nacional do Um Dia Pela Vida), Vitor Veloso (Presidente da Liga Portuguesa Contra o Cancro) e Francisco Oliveira (Presidente da Câmara Municipal de Coruche).

Maria de Jesus Moura, Diretora do Serviço de Psicologia do IPO de Lisboa e Hugo Sousa, Médico e Investigador do IPO do Porto vão falar sobre os “Desafios na sobrevivência” e “Vamos falar de cancro, a sério”.

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