Companhia das Lezírias aposta no Turismo e quer voltar a ser referência na região

15 Dezembro 2024, 20:49 Não Por João Dinis

A Companhia das Lezírias vive desde agosto uma “nova fase” da sua história, iniciada em 1836, e que nos últimos anos havia vivido um período de alguma estagnação, ainda que sendo sempre um símbolo de uma região e uma das empresas estatais de maior prestígio.

Administrada agora por Eduardo Oliveira e Sousa, Engenheiro Agrónomo, que durante muitos anos foi o “rosto dos agricultores portugueses”, a nova administração, que inclui os nomes de Sónia Ferreira e Rui Veríssimo Batista está apostada em ser novamente uma referência na região, anunciando, para já, uma aposta clara na área do Turismo.

Numa curta, mas elucidativa conversa, acompanhada de um copo do mais recente produto com a chancela “CL”, o vinho tinto “Senhora Companhia”, Eduardo Oliveira e Sousa revelou ao NS algumas das primeiras novidades que a administração por si liderada pretende implementar na Companhia das Lezírias.

“A Companhia das Lezírias é uma produtora de produtos de grande produção”, refere-nos, “a Companhia das Lezírias não vende bombons, não vende biscoitos, não vende produtos embalados em pequena escala. É produtora de arroz, mas em grosso é produtora de cortiça, de milho… os produtos que a Companhia vende de uma maneira geral, fruto do tipo de exploração que tem, são para o mercado de aquisição de matérias-primas” ainda que tenha –“esta exceção do vinho e também a exceção do cavalo”.

“A Companhia está muito presente nesta região e tem que estar interligada com as pessoas da região”, afirma-nos, considerando que “não há nem razão, nem eu espero que tenha havido nenhuma cisão ou nenhum afastamento das pessoas ou da Companhia em relação às pessoas, muito pelo contrário”.

Eduardo Oliveira e Sousa anuncia-nos que “criámos já um departamento sobre o turismo, porque o turismo já estava presente na Companhia, estava presente nos diferentes departamentos e nós agora, sem perdermos essa vertente turística dos diferentes departamentos, vamos agrupa-los num departamento para lhe dar uma dinâmica diferente”.

Para o administrador, a Companhia das Lezírias “é uma casa aberta”, ”é uma casa onde as pessoas se podem inscrever para virem visitar. Podem visitar em temas diferentes, portanto, convém não vir com a ideia de que vêm num dia ver tudo, porque não vem, porque a Companhia é muito grande”.

“Podem vir uma vez fazer uma visita à volta de temas de carácter ambiental, observação de aves, falar sobre as mais-valias ambientais do montado, etc. E num outro dia tentar assistir a uma demonstração equestre, a um jogo de cabrestos em trabalho, aos trabalhos dos campinos e também outro tipo de atividades/passeios dentro do próprio espaço.”

Também as empresas podem nas instalações da Companhia realizar atividades, “para aquelas empresas, por exemplo, que gostam de fazer reuniões com os seus quadros e querem um ambiente diferente, aqui na Companhia, nós temos possibilidades de oferecer essa diferença, essa diferenciação e, por isso, a companhia é um espelho”, salienta.

“E uma das razões porque nós também queremos olhar muito para a divulgação das práticas da agricultura, que aqui é feita é para que as pessoas percebam que fazer agricultura hoje é uma responsabilidade muito grande em termos sociais, em termos ambientais. Obviamente que tudo tem que ter uma vertente económica, porque sem ovos não se fazem omeletes. E por isso, nós estamos muito focados em ser muito transparentes.”

Uma das primeiras alterações visíveis nos poucos meses de trabalho foi a renovação do site institucional, “há novas mensagens, novas imagens e vamos querer trabalhar ainda mais nessa vertente, porque é aí que está o nosso contacto com o público”, diz-nos o administrador, que salienta que tudo o que se passa na Companhia está também na versão online.

Eduardo Oliveira e Sousa pretende que a Companhia das Lezírias esteja “presente em todo o lado, principalmente aqui na região”, afirmando um claro compromisso com a proximidade com a região, Samora Correia e o concelho de Benavente, porque “tem que haver uma percepção por parte da população que a Companhia das Lezírias é dela, a Companhia das Lezírias é das pessoas daqui e do país, mas é das pessoas daqui, e por isso nós estamos cá para trabalhar nesse sentido.”

Nos últimos anos ficou a ideia que houve alguma estagnação nos investimentos realizados pela Companhia das Lezírias, questionado sobre o tema, Eduardo Oliveira e Sousa começa por referir que não vai estar “muito preocupado a fazer uma análise profunda à gestão anterior”, pois “a gestão anterior manteve a casa com resultados económicos positivos, fez o que tinha a fazer com as orientações que recebeu.”

“Nós entramos de novo, temos uma orientação diferente, estamos envoltos num programa que pretende dinamizar de alguma maneira algumas áreas de uma forma um pouco mais agressiva”, frisa, acreditando que “os trabalhadores já perceberam que esta equipa conta muito com eles e que está sempre disponível para estar ao lado deles com um diálogo permanente e com uma linguagem acessível para que as pessoas se sintam integradas numa equipa”, considerando a Companhia “uma casa que tem que procurar a união das diferentes vertentes, para que todos com todos, consigam obter um resultado, se possível, melhor do que aqueles que estavam a ser obtidos”.

A Coudelaria de Alter é um dos ex-líbris turísticos da Companhia das Lezírias, e também para aí a atual administração considera que apesar de ser uma organização “com fins diferentes dos fins da Companhia das Lezírias”, que passam pela “preservação de um património genético, de um património cultural, de um património do país”, poderá ter um “acréscimo também na área do turismo”.

“O turismo em Alter, agora com aquela valência daquele belíssimo hotel que lá está, precisa de ter mais eventos, melhores eventos, uma dinâmica mais rotativa para que o próprio departamento ou para a própria coudelaria de Alter possa ser mais visível dentro e fora de portas”.

“Puxar pela Coudelaria de Alter em termos de imagem do Cavalo Lusitano, esse é o nosso principal objetivo”, afirma, ainda que considere que “o Estado não pode, de maneira nenhuma perder o foco da responsabilidade que tem de assumir as linhas orientadoras daquilo que o cavalo de Alter deve ser. Portanto, a parte científica, a parte institucional, tem que manter uma ligação ao Estado, porque o Estado é que é a verdadeira entidade responsável pela manutenção e pela salvaguarda daquele património.”

Eduardo Oliveira e Sousa não descarta a hipótese da Companhia das Lezírias vir a acolher uma unidade hoteleira, a exemplo do que tem sido realizado em outros locais e concelhos da região, como a Golegã, onde o grupo Vila Galé irá investir alguns milhões de euros, ou o que existe em Alter do Chão.

“Aqui dentro das instalações da Companhia das Lezírias, só se voltássemos outra vez a ter o Palácio do Infantado que pudesse ser transformado num hotel, mas como esse cenário não se põe, dentro das instalações da Companhia das Lezírias, não quer dizer que não possa ser feito um investimento na área do alojamento”, pois existente “é um alojamento que também precisa de uma certa reformulação”.

“Mas não vejo que seja possível replicar aquele modelo de Alter, mas pode ser que venha a ser possível utilizar outras instalações da Companhia noutros locais para fazer um investimento daquela natureza, não obrigatoriamente ligado ao cavalo, mas ligado, sei lá, por exemplo, ao rio Tejo, que é um património valiosíssimo que o país tem e que não está a ser devidamente explorado e valorizado em termos de turismo fluvial. E por isso, como nós temos património perto de Vila Franca, do lado de cá do Tejo, na margem esquerda, quem sabe não possa haver ali um futuro empreendimento que tire partido das instalações bem próximas daquele rio”, pelo que “o futuro dirá o que é que poderá vir a acontecer”, considerando que “de facto, o turismo é uma ferramenta muito importante que tem que ser trazida para dentro destas casas para potenciar outro tipo de negócios.”

A conversa terminou com um primeiro balanço do ano agrícola da Companhia das Lezírias, dos quais Eduardo Oliveira e Sousa começou por referir que “não sei ainda quais vão ser os resultados finais”, mas “há sectores problemáticos”. “Por exemplo, a cultura do arroz, que é uma cultura muito importante na Companhia das Lezírias. Este ano os resultados económicos vão ficar muito aquém do que era expectável, porque o mercado retraiu-se muito em termos de valor. O preço, este ano é quase metade do preço do ano passado. Isso vai ter um reflexo nas contas, obrigatoriamente.”

“Na produção do milho tivemos alguns problemas pontuais e estou convencido que o ano não é mau”, acrescenta.

“Em relação ao vinho, tivemos uma quebra na produção significativa porque quer na região do Tejo, quer na região de Setúbal, os calores que tivemos no Verão trouxeram uma quebra na produção bastante grande. Embora a uva seja talvez melhor que a do ano passado, essa valorização vai dar lugar a vinhos bons, vinhos melhores, mas não é possível traduzir apenas no preço o facto de haver uma produção em menor quantidade e por isso é preciso termos atenção porque as contas vão refletir um ano complicado”, refere.

Em termos de investimentos na área agrícola, o administrador refere que “vamos querer olhar para a tecnologia que está a ser aplicada nas diferentes culturas. Introduzir uma agronomia mais moderna, fazer investimentos”, pois “precisamos de renovar alguns materiais, nomeadamente equipamentos de rega e fazer mais agricultura de precisão, portanto, com mais tecnologia, com mais atenção à parte agronómica, eu tenho esperança que os valores comecem depois a traduzir se de outra maneira”, concluiu.

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