Centro de Saúde de Coruche perdeu “urgências” e consultas têm agora número limitado de vagas

Há mais de vinte anos à espera que o Ministério da Saúde coloque a funcionar o Serviço de Urgência Básico (SUB), o Centro de Saúde de Coruche perdeu nos últimos meses a valência de “Urgência”, realizado através do seu Serviço de Atendimento Permanente (SAP), substituído por um Serviço de Atendimento Complementar (SAC), que tem regras bastante diferentes.

Ao que o NS apurou, a alteração foi efetuada já em maio, depois de se verificar que ao SAP de Coruche se estavam a deslocar muitos doentes dos concelhos de Benavente e Salvaterra de Magos, que tinham em Coruche o último posto de “urgências” no sul do distrito.

Entre as principais diferenças entre o SAP e o SAC estão por exemplo os fármacos que podem ser aplicados nos doentes, ou até os meios de diagnóstico utilizados.

De modo a controlar o número de pessoas que se deslocavam às “urgências” a Coruche, a Direção do Agrupamento de Centros de Saúde da Lezíria (ACES), entendeu alterar as regras de atendimento de doentes, passando a agendar as mesmas de 15 em 15 minutos, até às 19.45 horas, de modo a que os médicos terminem o seu turno até às 20 horas.

O facto de os doentes estarem a ser “marcados” de 15 em 15 minutos, leva a que muitas pessoas que se deslocam ao Centro de Saúde vejam rejeitada a sua inscrição, tendo muitas deles de se deslocar aos Hospitais de Santarém ou Vila Franca de Xira.

Na semana passada e presenciado por um jornalista do NS, houve pessoas que chegaram ao Centro de Saúde de Coruche pelas 18.30 horas e viram rejeitada a sua inscrição. Apesar do pedido da funcionária para que aguardassem que esta falasse com o médico, as mesmas abandonaram o local.

Fora das “marcações” têm estado a ficar os casos graves ou emergentes que possam acorrer a este serviço, que apesar de serem contabilizados, continuam a ter atendimento prioritário.

Afixado na porta de entrada nas “urgências” do Centro de Saúde de Coruche está um documento, datado de 31 de março, que informa nas regras atualmente em vigor, assinado pela Coordenadora do Centro de Saúde de Coruche, Mileta Gomes e por Hugo Sousa, Diretor do ACES.

Ao NS o Diretor do ACES da Lezíria, Hugo Sousa, não esclarecendo a mudança do SAP para Atendimento Complementar, refere que a alteração está ainda relacionada com a pandemia da Covid-19, que em março de 2020 deixou de funcionar 24 horas por dia, e que “até ao momento não tem sido possível reunir condições para reatar um funcionamento em permanência (24horas/dia), nomeadamente por falta de recursos humanos”, o que levou a que três anos após o início da pandemia o serviço fosse alterado de SAP para SAC. ”Nessa altura foi necessário definir o número máximo de utentes atendidos em cada dia, de acordo com a legislação em vigor sobre a duração estimada para cada consulta médica para doença aguda”, refere.

De acordo com a explicação dada ao NS, houve necessidade de adaptar os serviços em funcionamento no Centro de Saúde de Coruche “à realidade da falta de médicos”, pelo que “considerando que todos os utentes do concelho de Coruche estão inscritos na USF Vale Sorraia – e tendo esta obrigação de garantir a resposta à doença aguda dos seus utentes no seu horário de funcionamento (dias úteis, das 8.00h às 20.00h), não é expectável que o SAC de Coruche sirva para substituir a USF na resposta a dar aos seus utentes, sendo apenas compreensível que o SAC sirva para dar resposta aos utentes dos médicos ausentes por impedimentos legais e que seja de todo impossível a USF dar resposta (como é o caso dos fins-de-semana).”

De acordo com Hugo Sousa, são disponibilizadas “cerca de 50 consultas diárias para doença aguda a realizar no horário de funcionamento do SAC”, “número definido de acordo com a legislação em vigor”, que este refere que serão “certamente suficiente para garantir a resposta à população corretamente encaminhada para o SNS, entre a resposta dada pelos médicos de família na USF e o apoio do SAC, incluído a resposta a utentes esporádicos, inscritos fora do concelho mas que estejam no concelho por algum motivo, ou até na resposta a utentes sem médico de família do ACES Lezíria.”

Apesar de em junho do ano passado, a então Ministra da Saúde, Marta Temido, ter anunciado que em setembro o SAP de Coruche regressaria ao funcionamento 24 horas/dia, até ao momento não houve essa abertura, “por falta de disponibilidade de recursos humanos disponíveis para o fazer”, esclarece o Diretor do ACES.