Casinos: uma bênção ou ameaça para as economias locais?

11 Março 2021, 9:00 Não Por Redacção

À primeira vista, um novo casino ou grande casa de jogo parece funcionar sempre como um grande estímulo para qualquer economia local. Basta olhar para as grandes capitais mundiais do jogo: com a introdução dos casinos, Las Vegas deixou de ser uma pequena localidade no deserto do Nevada para se tornar num excitante centro turístico, Macau tornou-se na maior fonte de receitas de turismo da China e o Mónaco passou a ser uma micronação extremamente rica, mesmo depois de ter sido praticamente fundada em torno de um luxuoso casino.
Em Portugal, a introdução de casinos em cidades periféricas como Espinho ou Chaves também acabou por ajudar imenso no crescimento das respetivas economias locais, contribuindo para a criação de emprego, para um maior fluxo turístico e para aumentar os níveis de prestígio regional. Mas será que a criação de casinos é mesmo uma medida económica infalível no que toca ao estímulo de pequenas economias locais, ou será a questão um pouco mais profunda do que inicialmente se possa presumir?

Baltimore e as consequências do investimento na indústria do jogo

Num artigo publicado no jornal The Atlantic, o escritor norte-americano e ex-colaborador de George Bush David Frum elaborou uma tese surpreendente relativamente ao efeito que os casinos podem ter numa determinada economia local. A sua tese é explicitamente contrária àquela que assumimos como a mais óbvia: os casinos podem não só ter um efeito negativo no contexto de uma economia local, como efetivamente dizimar essa mesma economia. Segundo Frum, fundar casinos para estimular economias regionais pode ser extremamente perigoso, principalmente se estivermos a falar de uma economia fragilizada.
O exemplo a que Frum recorre para sustentar esta ideia é o da cidade de Baltimore. Um dos maiores centros de crime, desemprego e instabilidade económica dos Estados Unidos (basta recordar a pobreza retratada na série The Wire), Baltimore foi alvo de um grande investimento na indústria do jogo durante a primeira metade da década passada.
A ideia dos responsáveis governamentais parecia tão simples quanto eficaz: com a edificação de um distrito de jogo, onde seriam inaugurados vários novos casinos, Baltimore seria capaz de atrair mais visitantes vindos de fora do estado e ao mesmo tempo criar centenas de novos empregos para a população local extremamente empobrecida. No entanto, o tiro acabou por sair pela culatra.

Os graves problemas económicos da indústria dos casinos

Segundo Frum, o insucesso dos casinos de Baltimore esteve relacionado com dois fatores fundamentais.
O primeiro diz respeito à própria natureza da indústria; embora os maiores casinos do mundo continuem a bancar milhões todos os meses, inaugurar uma grande casa de jogo e mantê-la durante anos pode ser extremamente complicado, principalmente numa cidade como Baltimore. Para tal, basta pensar naquele que tem sido o avento excecional dos casinos online, que crescem em popularidade ao mesmo tempo que os tradicionais casinos territoriais perdem clientes. Em Portugal, sites como o 888 online casino têm vindo a reunir cada vez mais adeptos; crucialmente, a tendência futura é a de que este novo género de casino continue a crescer ao longo dos próximos anos. Em 2020, dados emitidos pela Sociedade de Regulação e Inspeção de Jogos confirmaram que mais de 50% dos utilizadores deste tipo de serviço em Portugal tem entre 18 e 44 anos e que o número de novos registos também é dominado por esta faixa etária.
Em segundo lugar, Frum destacou que os casinos são um tipo de negócio muito peculiar e que não pode ser comparado a outras grandes instituições criadoras de emprego, como fábricas ou centros comerciais. Porquê? Porque os casinos não geram produtividade. De resto, o mais comum é que o contrário aconteça…
Segundo Frum, o desastre da indústria do jogo em Baltimore está intimamente conectado com o modelo de negócio de qualquer grande casino. Enquanto que fábricas ou lojas geram riqueza de facto, estando por detrás da produção e distribuição de bens, os casinos funcionam apenas como transmissores de dinheiro.
A teoria de Frum faz sentido: como os casinos não necessitam de qualquer tipo de modelo de multiplicação de recursos para sobreviver, funcionando antes como “armadilhas” de recolha de dinheiro, faz sentido que eles devam ser vistos como um negócio insustentável e sem qualquer tipo de impacto positivo no contexto de determinadas economias locais.

O flagelo do vício do jogo também faz parte da equação

Finalmente, Frum enalteceu ainda certas problemáticas sociais associadas aos casinos, como o vício do jogo. Quando se combina uma população extremamente empobrecida e precária como a de Baltimore com uma grande casa noturna onde é possível perder e ganhar dinheiro, o resultado pode ser catastrófico. Estudos realizados nos Estados Unidos confirmaram que pessoas que vivem perto de zonas de jogo têm cerca de mais de 50% de probabilidade de desenvolver um problema de jogo. Em países como a Inglaterra ou a Austrália, o vício do jogo entre os mais jovens já esteve na origem de suicídios, problemas financeiros graves e disrupção familiar e social.


Fotografia: Direitos Reservados

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