Casa do Brasil recebe exposição de fotografia sobre construção do caminho-de-ferro brasileiro
9 Janeiro 2025, 12:38A Casa do Brasil/Casa Pedro Álvares Cabral, em Santarém, inaugura, na próxima quarta-feira, 15 de janeiro, a exposição fotográfica “A Estrada de Ferro Noroeste do Brasil (NOB) no Interior de São Paulo (Brasil) nos Prelúdios do Antropoceno. Imagens das Alterações Ecológicas e Humanas no Início do Século XX”. A mostra, que permanecerá patente até 15 de fevereiro, convida o público a revisitar um dos momentos mais marcantes da história do Brasil colonial e suas consequências ambientais e humanas.
Organizada pelos investigadores Fábio Paride Pallotta e Hugo Silveira Pereira, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, a exposição apresenta imagens que documentam os primórdios da construção da ferrovia Noroeste do Brasil. Este caminho-de-ferro, iniciado em 1906, visava integrar as riquezas agrícolas do Estado do Mato Grosso ao restante território brasileiro, rompendo seu isolamento. Contudo, a construção da linha de 1400 quilómetros acarretou profundas crises ambientais e humanitárias, principalmente para os povos indígenas Kaingang da região paulista.
Entre 1906 e 1910, as obras provocaram a destruição de 13 410 quilómetros quadrados de florestas nativas na Mata Atlântica, representando mais de cinco por cento da cobertura vegetal da região. Esta devastação ambiental foi acompanhada por surtos de zoonoses, como malária e febre amarela, que afetaram trabalhadores e habitantes da cidade de Bauru, causando milhares de mortes. As consequências dessas doenças permanecem endémicas no Brasil até os dias de hoje.
Os curadores também destacam a violência sofrida pelos indígenas Kaingang, que foram alvo de perseguições e assassinatos promovidos por “bugreiros” contratados pela própria companhia ferroviária. Estes atos, descritos como um “trágico prelúdio” do Antropoceno – a Era do Homem – refletem uma crueldade que ainda se manifesta nas novas fronteiras agrícolas do Brasil, na construção de novas ferrovias, na exploração mineral ilegal e na violência contra populações indígenas.
A exposição é uma oportunidade única de reflexão sobre o impacto histórico e atual dessas transformações ambientais e sociais. O público pode visitá-la na Rua Vila de Belmonte, no centro histórico, de terça-feira a sábado, no período da manhã, das 9h00 às 12h30, e à tarde, das 14h00 às 17h30.