“Bombeiros de Coruche têm algumas dificuldades ao nível da intervenção operacional que estão a ser ultrapassadas com disciplina de liderança, motivação, responsabilização e isenção”, afirma Nuno Coroado
6 Outubro 2024, 17:30Depois de tempos conturbados, os Bombeiros Municipais de Coruche parecem agora viver dias de braço dado com a comunidade. Os tempos parecem ser agora outros e a corporação vive dias de acalmia e sobretudo de entrega à missão de salvar vidas.
A caminho do Centenário, os Bombeiros Municipais de Coruche vivem agora novos tempos, sobretudo com algumas alterações, não só impostas pela Lei, que permitiu cumprir alguns dos desejos dos operacionais, como por algumas alterações na cadeia de Comando, entre elas o próprio Comandante.
Filho de um nome conhecido do futebol, Jorge Coroado, chegou a Coruche há cerca de um ano para comandar os Bombeiros Municipais, e é o responsável pela grande reviravolta que os “Bombeiros de Coruche” tiveram nos últimos 365.
O NS entrevista agora Nuno Coroado…
Notícias do Sorraia (NS): Muita gente o vê em Coruche, sabe que é o Comandante dos Bombeiros… mas quem é o Nuno Coroado?
Nuno Coroado: Sou alguém que tem 45 anos de idade. Sou casado. Sou licenciado em Geografia e Desenvolvimento e Mestrado em Riscos e Proteção Civil. Sou bombeiro há 29 anos, bombeiro de carreira, sendo que em exercício de funções de comando possuo já 16 anos. Profissionalmente continuo a ser técnico superior do quadro de pessoal da Câmara Municipal de Sintra. Estou naturalmente em Coruche, numa comissão de serviço por cinco anos.
NS: Quando concorreu ao concurso para o Comando dos Bombeiros de Coruche, obviamente que “sabia ao que vinha”, o que o motivou?
Nuno Coroado: A perspetiva do concurso tem, acima de tudo, uma caracterização pessoal e uma ambição a nível pessoal e profissional. É algo que eu sempre almejei, desde que tenho a competência para o cargo. Sendo que se fizer uma breve pesquisa histórica no mundo da internet pelo meu nome, há-de identificar que fiquei, sempre, desde 2014, em praticamente todos os concursos para o cargo de Comando de Bombeiros Profissionais, em segundo lugar. Em segundo lugar nos Sapadores de Braga, segundo lugar nos Sapadores de Coimbra, segundo lugar nos Sapadores de Santa Cruz, entre outros. Quero com isto dizer que, acima de tudo, estou feliz e reconheço que o concurso do qual abordamos em Coruche foi um concurso isento, idóneo e que prevaleceu aquilo que são as características avaliativas do próprio concurso e não as questões pessoais ou político-partidárias.
NS: Quando chegou a Coruche qual foi a primeira perceção que teve dentro do corpo de Bombeiros? Encontrou uma corporação bastante diferente do que é atualmente?
Nuno Coroado: Eu encontro um corpo de bombeiros com alguma dificuldade a nível de intervenção operacional e que acima de tudo estava um pouco desviado daquilo que é a génese da existência de um Corpo de Bombeiros. Por diversas vicissitudes, confesso que não as escamoteei, porque eu entendo que em todo o lugar onde chego não preciso de escamotear o passado, preciso apenas de ter alguns apontamentos. Tudo o resto será a minha vivência e a minha convivência para com a instituição e para com os bombeiros que comando. Nessa semana foi uma semana dura de aprendizagem. Começou logo em plenas festas de Nossa Senhora do Castelo, o que significa que no fundo fui quase, como se diz na gíria, lançado aos lobos.
Naturalmente que, pela experiência que detenho na gestão de um Corpo de Bombeiros, foi aqui um desafio muito relevante. Continua a sê lo. Mas, efetivamente, essa primeira semana foi uma primeira semana de conhecimento, de me entrosar com aquilo que é a operação do Corpo de Bombeiros, o próprio conhecimento do território também, que ainda hoje estou a conhecer. Mas sim, foi uma semana de, no fundo, ter de “apalpar” o que por cá se passava.
NS: Obviamente, e sendo um Corpo de Bombeiros Municipal é o Comandante, mas acaba por ter alguém acima, o que muitas vezes é benéfico. Como é que tem sido a relação com o Presidente do Município?
Nuno Coroado: Independentemente ou não de se tratar de um corpo municipal ou um corpo bombeiro voluntário, a própria legislação determina que o Corpo de Bombeiros é detido e gerido pela entidade detentora, seja uma Câmara Municipal, seja uma associação humanitária. Ou seja, mesmo no comando de um Corpo Bombeiros Voluntários, teremos sempre o presidente da direção a tomar nota das decisões económico financeiras que se passam na instituição.
NS: O que queria dizer é que há sempre uma linha diferente, nem que seja a linha política…
Nuno Coroado: A minha relação institucional com o senhor Presidente da Câmara ou com todo o Executivo é uma relação de excelente cordialidade, de ajuda mútua, mas que, acima de tudo, eu entendo que é o executivo que me ajuda mais a mim do que eu a eles, porque, efetivamente, todas as considerações que temos tido têm sido respondidas da melhor forma em trabalho conjunto. Por vezes não tão célere quanto se deseja, mas porque também a função pública é uma máquina pesada e a isso exige. Mas quero ressalvar que quer com o senhor Presidente quer com todo o Executivo em funções ou sem funções, existe uma relação de cordialidade e de trabalho conjunto. Assim como também com os senhores presidentes de Junta de Freguesia. Tem sido um trabalho de proximidade. Tem havido aqui uma ajuda, uma ajuda muito relevante na resolução de ocorrências de alguma dificuldade, o que tem sido muito bom.
NS: O Comandante vem de um corpo de Bombeiros onde num dia tinham possivelmente tantas ocorrências como tem aqui numa semana, com uma grande concentração populacional, ainda que numa menor área territorial. Em Coruche passa menos tempo “operacional”, podendo dedicar-se a outras atividades… isso é uma vantagem ou desvantagem?
Nuno Coroado: Primeiro que tudo, importa esclarecer o seguinte: o Corpo de Bombeiros de Coruche se consultar os boletins técnicos operacionais diários. Tem uma consideração do número de serviço realizado pelos 16 Corpos de Bombeiros da sub-região da Lezíria do Tejo. Com facilidade há-de identificar que o Corpo de Bombeiros de Coruche, na grande maioria dos dias, ou seja, em dois terços do mês, o corpo de Coruche está nos lugares cimeiros da tabela. Dou-lhe o exemplo da atividade operacional de ontem (30 de setembro) dos Bombeiros de Coruche. Ontem respondemos a 11 pedidos de emergência pré hospitalar ao INEM. O Corpo de Bombeiros que mais fez na sub região da Lezíria do Tejo, respondeu a 12. Mas eu tenho que considerar uma intervenção operacional que cada resposta ao INEM obedece a uma intervenção média de duas horas e meia de empenho da ambulância do meu Corpo de Bombeiros. Significa isto que, a nível de empenhamento operacional, o Corpo de Bombeiros de Coruche é sempre o primeiro na tabela em tempo de intervenção operacional, o que coloca naturalmente uma pressão muito grande no Corpo de Bombeiros. Por mais meios ou recursos humanos que nós tenhamos, vamos ter sempre esta pressão. Nós distamos cerca de 45 quilómetros da unidade hospitalar do centro do concelho. Se nós falarmos nas freguesias limítrofes como Couço, Santa Justa, Carapuções, Branca, etc. Nós temos empenhamentos sempre superiores a três horas e meia. Por mais bombeiros que nós tenhamos. É incomportável esta gestão operacional.
NS: E como é que se consegue fazer a gestão de homens e meios perante essa dificuldade? Vai-me trazer aqui a outra questão, até porque é algo que é que a população nota comenta. Anteriormente víamos muitas ambulâncias de outros corpos de bombeiros e agora vemos menos…
Como se consegue fazer “mais” com “menos”? Houve aqui um trabalho no último ano de muita motivação?, que alterou o paradigma existente no corpo de bombeiros até então…
Nuno Coroado: É fácil porque tive também a sorte de ter alguns acontecimentos paralelos a nível de gestão administrativa que compete à administração central de ficar resolvido, nomeadamente o pagamento das horas extraordinárias aos Bombeiros Sapadores, que começou a ser realizada a partir de Dezembro. E a Câmara Municipal de Coruche assim que houve despacho governamental, começou de forma imediata a pagar o trabalho extraordinário. Naturalmente que é uma ajuda, mas, acima de tudo, permita-me dizer-lhe que houve uma visão diferente dos meus bombeiros.
Os meus bombeiros passaram a cumprir aquilo que um dia juraram fazer, que é servir a população de Coruche e naturalmente, todos os restantes cidadãos de Portugal, mas prioritariamente da população de Coruche. E esse é um empenho prioritário do Corpo de Bombeiros. É servir a comunidade de Coruche.
Não conseguimos responder a toda a actividade operacional que nos é solicitado neste momento. Temos os registos de recusas de saídas ao INEM devidamente documentados. Eu sei, ao segundo, o que é que está a acontecer no Corpo de Bombeiros a nível de atividade operacional. Eu e o meu segundo comandante. Temos garantidamente aqui uma gestão operacional diferente.
Significa que houve aqui um incremento da resposta, com uma disponibilidade dos bombeiros também, mas que temos tido a felicidade de poder responder, com maior ou menor dificuldade, àquilo que nos é solicitado.
Boa nota disso é que este ano conseguimos ajudar nos incêndios que ocorreram no Norte. Na Área Metropolitana do Porto e também no distrito de Viseu, quer com um veículo de comando como com o meu segundo comandante e respetivo condutor, quer com um veículo florestal de combate a incêndios, nomeadamente o que nos foi cedido no âmbito dos fundos comunitários. Empenhamo-lo nos incêndios no Norte. E isto deve se exclusivamente a um fator principal – às pessoas. Porque também os meus bombeiros sentiram que eu sou bombeiro e que estou ao lado deles e que os defendo em tudo aquilo que os posso defender, mas sempre com isenção, rigor e disciplina.
NS: Falou em três palavras muito importantes. Isenção, rigor e disciplina. Era isso que faltava ou que sentia que faltava?
Nuno Coroado: Cada comandante comanda o Corpo de Bombeiros da forma como o entende comandar. É relevante que nós nunca nos esqueçamos que os diplomas legais estão à mão de quem comanda. O que quero dizer com isto é que não deve de existir uma disciplina de forma que possa punir. Mas deve haver uma disciplina de liderança.
E é quando se consegue essa disciplina de liderança, com motivação, com responsabilização, com isenção de quem cá está a trabalhar, as coisas tornam se mais fáceis, naturalmente.
Não vou esconder. Houve alguns apontamentos de disciplina que tiveram que ser trabalhados. Posso-lhe dizer que venho de um Corpo de Bombeiros muito disciplinado e que aqui encontrei algumas diferenças. Naturalmente que talhei o caminho no sentido que hoje estamos a caminhar, mas com verdadeira assertividade e sempre, sempre, sempre, no superior interesse da população.
NS: O que se notava aqui também antes, é que havia aqui muitas interferências, sobretudo do sindicato/ associação. E a verdade é que no último ano praticamente não houve nenhuma. Como é que tem sido a relação do sindicato/associação com o comando?
Nuno Coroado: Tem sido uma relação institucional muito positiva. Temos trabalhado em conjunto em alguns apontamentos, nomeadamente a questão do horário das 12 horas. Estamos a ultimar o processo. Não foi tão célere quanto eu assim o desejei, mas tem sido efetivamente uma relação muito cordial, dando nota também que a Câmara Municipal é parte interveniente nesta gestão e nesta condição, sendo que os três intervenientes, os três interessados, quer os sindicatos, quer a Câmara Municipal, quer o Corpo Bombeiros, têm feito um trabalho de proximidade.
Reunimos com frontalidade, apontámos os três, os problemas e os anseios, mas o que é certo é que também ao sindicato devo uma palavra de reconhecimento pelo trabalho próximo que temos desenvolvido na concretização dos projetos e das ambições também.
NS: Tem no último ano existido uma maior aproximação do corpo de Bombeiros à comunidade, ao concelho…
Falamos de um corpo de Bombeiros com muita história e que anteriormente se encontrava no interior da Vila e que agora está um pouco mais afastado, mas ainda assim mantém as portas abertas à população…
Nuno Coroado: Para mim, a forma de trabalhar de um Corpo de Bombeiros não pode ser uma forma isolada. Se nós estamos para servir e para servir a população, nós temos que ser parte integrante da comunidade. E esse é um dos propósitos e um dos projetos, das ambições que eu tenho para o próximo ano aproximar ainda mais o Corpo de Bombeiros, a comunidade a dar nota de que hoje as pessoas reconhecem o Corpo de Bombeiros.
A própria comunidade identifica, de certa forma, uma pequena alteração naquilo que é a gestão operacional do Corpo Bombeiros. Para nós é extremamente gratificante, mas não chega. Eu quero mais. Eu quero que os bombeiros sejam verdadeiramente parte integrante da comunidade. Temo-lo que o ser. Mas para isso é uma questão de partilha e partilha essa que também a comunidade tem que entender aquilo que é o Corpo de Bombeiros e que, acima de tudo. Quando existem concursos para bombeiros profissionais, os mais jovens tenham a ambição de concorrer.
NS: O Comandante partilhou comigo aqui há algum tempo que tinha algumas ideias para o recrutamento. Como é que se vai conseguir recrutar bombeiros quando a carreira ainda não é atrativa, como se consegue mudar de 34 para 68 bombeiros ou para o número ideal?
Nuno Coroado: O Número ideal são 100… Sendo o Corpo de Bombeiros de Coruche um Corpo de Bombeiros Municipal, significa que é um corpo Bombeiros tipologia mista. Temos bombeiros, profissionais da carreira de bombeiros sapadores e temos bombeiros voluntários.
É como eu costumo dizer, tenho bombeiros profissionais de duas saídas, tenho o bombeiro profissional na carreira, bombeiro sapador e tenho o bombeiro profissional da carreira, bombeiro voluntário. Porque para mim, todos os bombeiros são profissionais. Aliás, esse é um dos meus desígnios que não faço qualquer distinção entre o bombeiro sapador e o bombeiro voluntário. A nível da distribuição do equipamento de proteção individual, dos uniformes, tudo a que tem direito. Um bombeiro voluntário tem o mesmo equipamento que tem um bombeiro sapador. A única distinção é a turbina na divisa, mais nada!
Mas dar nota e respondendo diretamente que faz com perseverança, com comunicação. Cada vez mais hoje as redes sociais são um meio vinculativo de promoção. Existe o projeto da promoção do Corpo de Bombeiros. Será concretizado muito em breve, até porque vamos lançar muito em breve novo concurso para bombeiros profissionais.
Gostava de ainda no próximo ano, poder abrir uma recruta de bombeiros voluntários. O Bombeiro voluntário é sempre um auxílio à operação do Corpo de Bombeiros, resolvendo naturalmente aquilo que está por resolver, que faz parte também da administração central, que são os incentivos ao voluntariado. A Câmara Municipal de Coruche vê se privada e agrilhoada, de poder comparticipar uma mínima compensação financeira, por exemplo, para compensar o combustível que o bombeiro voluntário gasta em vir ao Corpo de Bombeiros. Nem estamos a falar do tempo de empenho no corpo. Mas estamos a falar em fazer um ressarcimento. O individuo que mora no Couço, que queira ser bombeiro voluntário em Coruche, ou que mora na Branca, que deseja ser bombeiro voluntário em Coruche, ida e volta a casa faz 60 quilómetros e não tenho forma de os compensar sobre esse custo. Isso é uma prioridade.
O recrutamento dos bombeiros profissionais também vai acontecendo de uma forma ainda difícil, porque, contrariamente às forças de segurança que já aumentaram a idade de ingresso, os bombeiros profissionais ainda estão cimentados nos 25 anos como idade máxima, o que causa efetivamente um constrangimento ao recrutamento.
NS: Acha que faz sentido a diferenciação entre Bombeiros Sapadores e Bombeiros Voluntários? Quem necessita de socorro não vai olhar às fardas…
Nuno Coroado: A tarefa é a mesma. Pese embora o facto da formação de ingresso ser díspar. A formação de ingresso do bombeiro sapador, são seis meses de formação e aproximadamente 1000 horas. O bombeiro voluntário podem ser também os seis meses de formação, mais seis meses de estágio ou três meses de estágio com 250 horas de formação. Logo aqui temos alguma distinção. De qualquer forma, dizer-lhe que isso é um assunto da administração central, é um assunto que tem que ser resolvido, tem que ser olhado pelos governantes e que, acima de tudo, hoje entende se que o próprio vencimento do bombeiro sapador já não é tão díspar quanto os vencimentos pagos pelas Associações Humanitárias de Bombeiros.
Portugal sofre neste momento, de um défice de recursos humanos ao nível da proteção e socorro. Significa que as associações humanitárias tiveram também que aumentar vencimentos, porque senão não há recursos humanos para trabalhar. E a carreira do bombeiro profissional, bombeiro sapador, está a ser absorvida no fundo por esse aumento e não tem uma evolução salarial já há longa data.
NS: Mas será que ainda faz sentido falarmos no voluntário? Na verdadeira aceção da palavra… quando temos carreiras profissionais cada vez mais exigentes, as pessoas têm cada vez menos tempo…
Nuno Coroado: Faz e é relevante que nós possamos ter uma visão abrangente e não apenas local.
Daquilo que é a minha vivência de bombeiros há 29 anos, eu fui sempre bombeiro voluntário independentemente com o cargo que tinha de segundo comandante, com a responsabilidade do Corpo de Bombeiros, que comandava, na qualidade de segundo comandante, onde tinha uma área de atuação de 23 quilómetros quadrados, mas com 100.000 habitantes sob a minha responsabilidade.
E fui sempre o bombeiro voluntário durante 28 anos. Faz todo o sentido. A nível dos países da Europa, por exemplo. Falamos das grandes potências, a Alemanha é um dos países que tem o maior número de bombeiros voluntários ao serviço.
Sim! Faz sentido, garantindo sempre a força mínima com bombeiros profissionais e o complemento através do voluntariado. Mas sim, faz todo o sentido.
NS: Os Bombeiros Municipais de Coruche estão a caminho do centenário… Celebram este ano 96 anos… como vê o corpo de Bombeiros daqui a quatro anos?
Nuno Coroado: A minha comissão termina um mês e meio antes do centenário. Garantidamente irei deixar trabalho feito. Se assim for o entendimento da altura, ou naturalmente que irei trabalhar para ter trabalho feito. O futuro a Deus pertence.
Significa isto que aquilo que eu vejo como necessidade imperativa do Corpo de Bombeiros de Coruche é o aumento de recursos humanos. O recrutamento, quer seja da carreira de bombeiro sapador, quer seja da carreira de bombeiro voluntário, gostava muito de o fazer. Com todas as dificuldades já abordámos, com os incentivos ao voluntariado que têm que acontecer. Temos que arranjar forma de ultrapassar essa questão de não poder reconhecer o trabalho de bombeiro voluntário, mas dizer que vejo um Corpo de Bombeiros preparado operacionalmente, com formação, com recursos técnicos capazes de intervir naquilo que são os riscos do município de Coruche, com uma renovação do parque auto a nível de veículos de intervenção.
Abordámos a questão do veículo urbano de combate a incêndios o ano passado. O mesmo será financiado por fundos comunitários a abrir muito em breve, através de uma candidatura da Comunidade Intermunicipal. Inclusive havia rubrica inscrita no orçamento municipal para a aquisição do veículo, que entretanto já foi descabimentado porque vamos ter o apoio do fundo comunitário, o que para nós é relevante.
Mas não me basta substituir apenas um veículo pesado. Temos mais oportunidades e necessidades de o fazer, passando, por exemplo, pelo veículo de desencarceramento. É um veículo que tem 30 anos, não suporta o peso que lá tem instalado. E temos de trabalhar nesse sentido também, a par de outras questões operacionais.
Não interessa ao Corpo de Bombeiros de Coruche ter muitos veículos que não cumpram com as regras técnicas operacionais que hoje se exigem. Tem sido um trabalho feito, está identificado.
A responsabilização da Câmara também assim o assume. Estamos a fazer um trabalho na gestão da frota, mas acima de tudo, no centenário identifico um corpo bombeiros preparado tecnicamente e capaz de intervir operacionalmente.
NS: Quais são os principais riscos do concelho de Coruche? Este ano não tivemos, felizmente, nenhum incêndio… mas estamos a falar de um concelho com vários rios e ribeiras, a questão florestal e as questões de saúde… os acidentes rodoviários…
Nuno Coroado: O Plano Municipal de Emergência de Proteção Civil de Coruche define precisamente os riscos. Está elaborado, foi feita a revisão. Está devidamente atualizado. Os riscos de Coruche são diversos, mas que acima de tudo é importante percebermos que o corpo tem que estar dotado dos equipamentos técnicos para intervir. Tem que estar dotado de formação.
Mas não é o único, e a complementaridade dos vizinhos, é relevante no sistema de proteção civil.
Nós não somos uma ilha, nós fazemos parte de um sistema. E eu não posso ter um corpo sem cabeça, como não posso ter uma cabeça sem corpo. E nós, Coruche, trabalhamos muito também a parte da sub-região com os diversos parceiros. Somos um Corpo de Bombeiros com uma área de intervenção extraordinária. Eu sou o comandante de bombeiros profissionais com maior área territorial sobre a minha responsabilidade. Mais nenhum comandante de bombeiros profissionais em Portugal tem tanta área territorial sob responsabilidade quanto eu, o que significa que é importante que nós estejamos devidamente preparados, mas que nunca nos esqueçamos que não respondemos a tudo sozinhos.
NS: O comandante falou da área territorial, fazia sentido a secção do Couço?
Nuno Coroado: Não. E eu respondo a isto de forma muito pragmática. Eu fiz um trabalho final da minha tese de mestrado que se designa como “Gestão Operacional Municipal das Nove Corporações de Bombeiros do Concelho de Sintra”. Respondendo diretamente: a secção do Couço, não faz qualquer sentido. Eu tenho um corpo de Bombeiros a dez minutos de caminho do Couço, que é o Corpo Bombeiros de Mora, que nos tem apoiado verdadeiramente naquela zona do concelho. Mas não posso esquecer que o cidadão do Couço paga tantos impostos quanto paga o cidadão da Branca que também tem um corpo de bombeiros a sete quilómetros, que paga tantos impostos quanto o cidadão do Biscainho que tem Benavente ali um pouco ao lado, ou que paga tantos impostos como o cidadão das Ovelhas que tem em Almeirim um bocadinho mais próximo.
E aí era uma distinção pela negativa, porque eu estaria a privilegiar a vivência dos cidadãos do Couço. Com todo o respeito, mas não estaria a fazer uma gestão operacional assertiva dos meios e recursos em detrimento do tempo de intervenção. O que é que eu quero com isto dizer? Isso sim é um paradigma que tem que ser alterado a nível da proteção civil nacional, onde é incomportável que aos dias de hoje o socorro se faça por áreas administrativas e não pela proximidade da distância do socorro. É uma questão da administração central e isso tem que ser alterado. Existe um artigo na lei que diz que o socorro pode ser praticado pelo corpo mais próximo, mas não existe uma determinação para que o seja. O que se faz mesmo a nível do INEM, é que se aciona o Corpo de Bombeiros territorialmente competente aquela área e não a ambulância mais próxima ou em menor tempo da prestação de socorro.
NS: Falando das corporações vizinhas e abordou agora esse tema. A relação é excelente, com todas, creio eu, e isso é benéfico também para todos…
Nuno Coroado: É mais do que excelente, é extraordinária. Aqui a ajuda dos parceiros tem sido muito relevante. Eu próprio também já fiz questão de fazer um périplo pelas corporações vizinhas. Os da Lezíria, naturalmente, reunimos todos os meses. É mais fácil. Mas os que não pertencem à sua região da Lezíria. Fiz questão também de já conversar com eles pessoalmente, com Canha, Vendas Novas, Montemor, Ponte de Sor. Está pendente a visita de Arraiolos e de Mora. Mas tem sido aqui muito benéfica esta comunicação. O próprio conhecimento e a partilha de experiências está em cima também, inclusive a questão formativa partilhada, por exemplo, com Ponte de Sor, ao nível da intervenção náutica. Tudo isto tem sido um trabalho feito. Temos um caminho ainda a percorrer, longo, mas que está a acontecer.
NS: Para terminar, e não posso deixar de fazer esta questão, até porque acho que é a que mais leitores vão querer ler. O seu antecessor trabalha, não deixa de trabalhar diretamente consigo. Isso acabou por ser também uma vantagem ou não?
Nuno Coroado: As competências são distintas. O trabalho em equipa é relevante. Tem sido naturalmente concretizado. Mas as competências são distintas. O Serviço Municipal de Proteção Civil não atropela a atividade do Corpo Bombeiros e o Corpo Bombeiro não atropela a atividade do Serviço Municipal de Proteção Civil. Pese embora, naturalmente, fruto daquilo que é a história, e uma vez que quem comandava o Corpo de Bombeiros era simultaneamente coordenador da Proteção Civil, ainda existe alguma entropia a nível de gestão operacional de serviços. As competências são distintas hoje. Mas, respondendo lhe de forma muito direta, tem sido um trabalho em equipa. Naturalmente, cada um dentro das suas competências, das suas atividades. Esse é o caminho. É uma atividade profícua. Nem a Proteção Civil manda nos bombeiros, nem os bombeiros mandam na Proteção Civil.