Bombeiros de Constância afastam penhora e asseguram ordenados e prestação de socorro

4 Agosto 2024, 9:41 Não Por Lusa

Dívidas e processos em tribunal têm dificultado a gestão da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Constância (AHBVC), tendo a direção anunciado hoje o levantamento de uma penhora e assegurado a prestação de socorro e os ordenados em dia.

“Conseguimos um acordo de pagamento e desbloquear a questão da penhora e isso deu-nos uma lufada de ar fresco nas nossas finanças”, disse hoje à Lusa o atual presidente da direção, José Morgado, tendo lembrado o “sufoco financeiro” que a AHBVC passou no último mês, com cerca de “50 mil euros de verbas cativas” devido à penhora de uma empresa de ambulâncias, que reclama uma dívida no valor de 175 mil euros.  

José Morgado, vice-presidente da AHBVC nos últimos cinco anos, assumiu a direção dos bombeiros de Constância, no distrito de Santarém no final de julho, após pedido de suspensão de mandato de Adelino Gomes, por “questões de saúde”.

“Sou conhecedor dos processos e estava ciente das graves dificuldades financeiras” que a instituição atravessa, declarou, nomeadamente desde 2019, num diferendo com o então Centro Hospitalar do Médio Tejo (CHMT), hoje Unidade Local de Saúde (ULS), a quem a AHBVC reclama uma dívida na ordem de um milhão de euros por serviços prestados e que o CHMT não reconhece, arrastando-se o caso, desde então, pelos tribunais.

“Neste momento, os ordenados estão em dia, desde 30 de julho, com o pagamento de subsídios de férias e de todas as obrigações, como a Segurança Social e IRS. Há uma série de anos atrás, desde 2019, que houve realmente um momento mais crítico nesta associação, em que tivemos uma falha de quatro meses, provocada por uma ocorrência com as contas do Centro Hospitalar”, afirmou Morgado, tendo feito notar que, “apesar de momentos muito difíceis, até com falta de verbas para combustível, os profissionais foram inexcedíveis e asseguraram a prestação de socorro e o transporte de doentes”.

A AHBVC, fundada em maio de 1925, a poucos meses de celebrar o seu centenário, tem hoje um quadro operacional com 91 pessoas, dos quais 46 profissionais e 45 voluntários, com a associação a ter um compromisso mensal na ordem dos 80 mil euros (valor similar ao das receitas) para assegurar os vencimentos e os serviços, desde transporte de doentes ao combate a incêndios, no âmbito de uma missão de proteção e socorro mais alargada e que inclui formação contínua e a sempre necessária renovação da frota e de fatos de proteção, entre outros.

José Morgado, que descreveu a situação da penhora como de “sufoco completo”, sem acesso a verbas “para conseguir colmatar todas as despesas e o assegurar da prestação de socorro à população”, admitiu à Lusa que a associação contou com o “apoio importante de alguns mecenas e amigos” e “esteve em risco de insolvência”, situação que chegou a ser ponderada.

“Esteve em risco, mas já não está em risco [de insolvência]. Neste preciso momento, conseguindo ultrapassar esta questão da penhora, conseguimos garantir a continuidade e afastámos essa ideia porque, neste momento, não há sequer risco disso”, declarou, tendo feito notar, no entanto, que “a situação financeira é muito difícil” de sustentar.

Ladeado por Marco Gomes, comandante dos bombeiros de Constância, Morgado destacou a importância da união do corpo de bombeiros em todo o processo e da “capacidade de motivar e agregar” do comandante operacional, tendo feito notar que, “direção e comando, falam os dois a uma só voz, partilhando as mesmas ideias”, alegrias e problemas.

“É muito complicado gerir pessoas que a partir de 2019 tiveram quatro vencimentos em atraso e que promoveu aquilo que é a ansiedade do mês seguinte. Durante todo este espaço de tempo, todos os funcionários desta associação mantiveram o desempenho de funções, conseguimos sobreviver e manter a associação viva, com um esforço muito grande destes homens e mulheres que provêm o socorro do concelho e dos concelhos limítrofes”, declarou à Lusa Marco Gomes, relativamente a uma situação que afirmou ser “muito injusta”.

Tendo afirmado acreditar e ter esperança num “acordo extra-judicial” com a ULS Médio Tejo que permita receber a verba que a AHBVC reclama e que vai permitir “sanear todas as contas que tem com quem de direito”, José Morgado disse que, “se tudo correr bem, é a partir daqui que se vai tentar recuperar, cada vez mais, o ânimo financeiro” de uma instituição quase centenária.

“Queria mesmo chegar a essa data (100º aniversário) com a alma descansada, com todas essas contas liquidadas e com o espírito de que estamos prontos para mais 100 anos”, concluiu.

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