Bienal de Artes transforma Coruche num Museu a céu aberto

23 Setembro 2021, 17:08 Não Por Redacção

A Bienal de Artes Plásticas de Coruche, que decorre até dia 5 de Outubro, transformou Coruche num Museu a céu aberto, em que os visitantes são convidados a percorrer a zona histórica da Vila de Coruche, numa viagem que os leva a diversos motivos de interesse.

De entre os vários artistas urbanos com obra e presença na Bienal, começamos por destacar o projecto criativo Ruído, composto pelos artistas portugueses Draw (Frederico Soares Campos, n. 1988) e Contra (Rodrigo Guinea Gonçalves, n. 1984), ambos com percursos vincados pelo graffiti e pela arte urbana. A dupla intervencionou o arco da Rua Direita com uma homenagem aos ilustres e saudosos coruchenses Heraldo Bento e António de Matos Marques (vulgarmente conhecido como António “da Barca”), ambos falecidos em 2020 com 93 e 85 anos, respectivamente.

O projecto incorpora uma colaboração artística que interliga o universo monocromático, figurativo e profundamente humano de Draw com a abordagem colorida, abstracta, geométrica e textural de Contra. Trata-se de uma homenagem de dois artistas contemporâneos a dois homens carismáticos, de personalidades distintas, habitantes e comerciantes no centro histórico de Coruche. Conhecidos e respeitados por todos os que pela Rua Direita e pela Praça da Liberdade passaram, Heraldo Bento e António da Barca contribuíram significativamente para a dinamização social e económica da artéria principal do centro histórico de Coruche.

O resultado do trabalho da dupla Ruído é único e reconhecível, dando vida a composições que exercem forte impacto no espaço onde se inserem e que criam ligações multifacetadas com o observador. Focando as especificidades da condição humana, tanto físicas como emocionais e existenciais, a dupla questiona precisamente o impacto da relação entre o ser humano e o espaço, e da interferência humana no espaço. Como o próprio nome indica, os Ruído revelam uma Arte que se desenvolve em camadas, aparentemente confusa, porém profundamente organizada e simbólica – uma obra sempre imponente, gerando confronto com uma contemporaneidade que apela à emoção e instiga a muito necessária reflexão.

Já na escadaria da Rua da Música, o artista Tiago Braga, conhecido como Fedor no mundo da arte urbana e da ilustração, tem como tema a música e como inspiração a Sociedade de Instrução Coruchense (SIC). A composição, nos tons de azul e amarelo que predominam na heráldica da banda filarmónica de Coruche, alude a instrumentos de sopro e percussão, e bosqueja motivos da fauna e da flora, aliás característicos do trabalho do autor, mas também do Concelho. Fedor, que iniciou o seu percurso artístico em meados do ano 2000, após o seu primeiro contacto com a cultura do graffiti, deixou-se fascinar na adolescência pelo impacto de murais em grande escala e pela versatilidade do spray como material, o que o levou a inserir-se no movimento, fundando o grupo Maniaks. Mais tarde integrou também o Colectivo Rua, um dos mais importantes da cidade do Porto, e realizou trabalhos para mais de uma dezena de municípios em Portugal, bem como para algumas grandes empresas.

Avançando até às escadarias da Travessa do Castelo e do Largo do Pelourinho, encontramos as intervenções de Styler e Mariana Duarte Santos, dedicadas aos temas do património natural e cultural. João Cavalheiro, que assina Styler, coloca toda a experiência e técnicas adquiridas desde meados de 2004 na arte da pintura mural e do graffiti ao serviço de uma obra que reflecte o património natural de Coruche, em particular aspectos da sua fauna e flora. Sublinhe-se que Styler, nascido em França nos anos ‘90, venceu já variados prémios e concursos de graffiti.

Por sua vez, o trabalho de Mariana Duarte Santos incide no tema do património cultural, fazendo referência às festas em honra de Nossa Senhora do Castelo, ao cortejo, à tradição de um território de campinos e às memórias das gentes de Coruche. Mariana é uma artista plástica de Lisboa especializada nas técnicas de gravura, desenho e pintura que começou também a desenvolver trabalho na área da arte pública através da pintura de murais. O seu trabalho é de natureza figurativa e muito influenciado por outras áreas artísticas como o cinema e a literatura, procurando reanimar imagens intensas que considera merecedoras de vida, isolando-as e apresentando-as sob um novo olhar.

Por fim, na escadaria da antiga Rua do Cinema, o artista urbano Ivo Santos, cuja tag é Smile, dedica-se ao tema do cinema, desfiando referências várias à cinematografia e aludindo ao último filme que passou no Cinema de Coruche, mais precisamente “Danças com Lobos”, em 1991. Nascido em Lisboa em 1985, Smile descobriu a paixão pela cultura hip-hop na década de ‘90 e abraçou o graffiti como expressão artística. Desde 2001 que arrecada prémios e distinções em mostras e concursos de graffiti, tendo vencido categoricamente o Concurso de Graffiti de Oeiras por duas vezes. Em 2009 atingiu estatuto internacional ao vencer um concurso em Barcelona, perante nomes consagrados do graffiti mundial. A decisão de profissionalizar-se trouxe-lhe trabalhos para as mais variadas entidades, bem como patrocínios. A par da sua crescente internacionalização, Smile criou a Primeira Arte Atelier&Gallery, um espaço aberto ao público para exposição e apresentação de projectos de artistas nacionais e estrangeiros. Actualmente é presidente da ACUParte, Associação Cultural sem Fins Lucrativos, que visa promover e dinamizar a cultura urbana por todo o País

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