Associação diz que há má gestão na referenciação de doentes para cuidados paliativos

18 Setembro 2024, 19:46 Não Por André Azevedo

O presidente da Associação Nacional de Cuidados continuados (ANCC) considera que há ”má gestão” e falta de articulação na referenciação de doentes para os cuidados paliativos, contribuindo para a baixa taxa de ocupação que afeta atualmente estas unidades.

“Eu penso que há uma má gestão e uma péssima articulação na forma como se referencia os doentes. Nós atualmente temos uma taxa de ocupação entre os 50 e 80%. (…) Se a Rede [Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI] não põe doentes é porque não quer. Não põe porquê? É uma questão que não sei responder”, disse o responsável da ANCC, José Bourdain, em declarações à agência Lusa, à margem do Encontro Nacional de Unidades de Cuidados Continuados, realizado hoje na Chamusca.

De acordo com Bourdain, as unidades de cuidados paliativos têm enfrentado uma taxa de ocupação entre os 50% e 80%, ainda que exista um número considerável de doentes referenciados que acabam por falecer antes de obter vaga, tal como divulgado pelo relatório da Entidade Reguladora da Saúde (ERS).

De acordo com este relatório, quase metade (48%) dos doentes referenciados no ano passado para unidades de paliativos contratualizadas com o setor privado ou social morreram antes de ter vaga.

José Bourdain afirmou que as unidades informam regularmente a RNCCI sobre as camas disponíveis, mas os doentes “pura e simplesmente não são encaminhados”.

“Não há falta de comunicação da nossa parte, porque nós damos informação à rede quando temos as camas vazias”, defendeu.

Por outro lado, explicou que as unidades de cuidados paliativos enfrentam “sérios prejuízos financeiros” quando a taxa de ocupação fica abaixo dos 85%, uma vez que os custos de manutenção permanecem os mesmos, independentemente do número de doentes.

“Quando a taxa de ocupação é inferior a 85% os custos são exatamente os mesmos como se as camas estivessem todas ocupadas. São custos muitos significativos que temos que suportar”. sublinhou.

O responsável da ANCC criticou os responsáveis políticos que “não ouvem os profissionais no terreno” e tomam decisões “sem o devido conhecimento” das realidades do setor.

 “Os secretários de Estado e os ministros da saúde não entendem nada destes assuntos. Não nos ouvem, não nos percebem e não se dão ao trabalho de perceber”, acusou.

Além das questões económicas, problemas antigos, como as falhas no sistema informático e a ausência de partilha de informações entre hospitais e unidades de cuidados continuados, “continuam a persistir” e “afetam a qualidade do serviço”.

“Muitas vezes um doente é encaminhado para os cuidados continuados sem raio-X e sem análises clínicas porque os hospitais não fornecem estas informações aos profissionais de saúde de cuidados continuados (…). Há uma falta de articulação em toda a envolvência hospitalar”, concluiu.

Na iniciativa, a ANCC propôs a criação de um grupo de trabalho entre o Governo e os representantes das Unidades de Cuidados Integrados para avaliar “os custos dos recursos humanos e os custos com bens e serviços” para dessa forma resolver o “problema de subfinanciamento” que afeta atualmente o setor. 

Esta proposta foi apresentada no 1.º Encontro Nacional de Unidades de Cuidados Continuados, organizada pela Associação Nacional dos Cuidados Continuados para celebrar os 17 Anos da Rede Nacional. 

Sob o tema “O Presente e o Futuro dos Cuidados Continuados, o programa do evento incluiu a apresentação do atual ponto de situação da Rede Nacional dos Cuidados Continuados e um estudo da Faculdade do Porto.

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