Arsénio na água da rede no concelho de Coruche leva entidade reguladora a emitir alertas

31 Outubro 2024, 9:52 Não Por João Dinis

A Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos – ERSAR, apresentou recentemente o seu relatório anual, onde compila os dados de 2023, relativos à qualidade da água em Portugal, sintetizando “a informação mais relevante relativa à qualidade da água fornecida aos utilizadores pelas entidades gestoras no ano de 2023”, onde se encontra incluída a Águas do Ribatejo, empresa fornecedora da água da rede pública nos concelhos de Almeirim, Alpiarça, Benavente, Chamusca, Coruche, Salvaterra de Magos e Torres Novas.

No relatório deste ano a ERSAR alerta para o incumprimento verificado no concelho de Coruche no que diz respeito aos “incumprimentos relacionados com o parâmetro arsénio, em 2022 e 2023”, facto que tem motivado que a empresa não seja reconhecida pela “qualidade exemplar da água” que fornece aos consumidores.

De acordo com a Agência Portuguesa do Ambiente (APA), o Arsénio “é encontrado nos solos, rochas e águas subterrâneas”, e “a exposição prolongada do homem a certos compostos de Arsénio pode causar cancro de pele e de pulmão, provocando, quando em contacto direto com a pele, queimaduras e irritação”, sendo que no caso da sua existência na água, em valores próximos ou acima dos 10 mg/litro terá que ser realizado um processo de tratamento da mesma como, “oxidação, coprecipitação, adsorção ou permuta iónica e filtração por membranas.”

Um dos países com o subsolo mais rico em arsénio é o Bangladesh, onde se verificam numerosos casos de arsenicose, uma doença crónica decorrente da ingestão prolongada (pelo menos 6 meses) de doses acima das aceitáveis, e que se manifesta por lesões na pele.

Diversos estudos epidemiológicos avaliaram o risco de cancro de pele, baço e pulmões, associado à ingestão de arsénio através da água. Existem evidências de que também pode provocar cancro de rim, fígado e próstata. O arsénio pode atravessar a placenta, e aumentar o risco de aborto espontâneo.

De acordo com os dados divulgados pela ERSAR, e de acordo com as análises realizadas foi no depósito de água da Vareloja, na freguesia do Couço, que as análises ultrapassaram os valores regulamentares, tendo mesmo uma das análises alcançado os 10,05 mg/litro, numa mediana de 6,9 mg/litro, em duas análises realizadas no ano 2023.

Refira-se que estes valores são motivados pelo facto da Águas do Ribatejo fazer captações subterrâneas de águas, o que motiva que os valores de Arsénio e outros minerais possam ser bastante diferentes de outro tipo de captações realizadas noutros concelhos.

Ao NS a Águas do Ribatejo começa por esclarecer que em cada Zona de Abastecimento (ZA) – área geográfica abastecida a partir de determinadas captações – são realizadas um conjunto determinado e obrigatório de análises ao abrigo do Programa de Controlo de Qualidade da Água (PCQA), mas que dada a dimensão de cada um “a qualidade da água pode ser considerada uniforme”.

“Esclarece-se que o número de controlos a realizar varia em virtude da dimensão da zona de abastecimento, medida em número de população abastecida, tendo-se, por isso, a realização de maior número de análises em zonas de maior população”, salientam.

A Águas do Ribatejo enfatiza ainda que “porque o PCQA refere a um conjunto de análises a realizar no espaço de um ano civil, a verificação de resultados disponibilizados não deve ser feita isoladamente, por período de comunicação (trimestre), mas no todo anual já que apenas neste intervalo de tempo se verifica a obtenção de resultados para todos os parâmetros”, ainda que tendo em conta que por exemplo o número de análises efetuadas na Vareloja possa ser muito diminuto relativamente a Coruche.

A Águas do Ribatejo, que esclarece que “a área geográfica do concelho de Coruche distribui-se por 19 zonas de abastecimento”, e que “destas, 8 apresentam valores de arsénio consistentemente acima de 60% do valor paramétrico (i.e. valor máximo é de 10 mg/l e valores obtidos acima de 6 mg/l), razão pela qual 3 delas já possuem sistema dedicado de tratamento”, considera que os dados da ERSAR indicam erradamente o concelho de Coruche como tendo problemas com os valores de Arsénio na água da rede pública.

Por uma questão, presume-se, de escala, a exposição dos dados sobre a persistência de valores de arsénio acima do respetivo valor paramétrico (valor limite) no RASARP (relatório anual) é feita ao nível do concelho, situação que induz a uma interpretação errada do que é o panorama da qualidade da água do concelho de Coruche”, afirma a empresa, que acrescenta que “os incumprimentos em arsénio nos anos 2022 e 2023 acontecem por se terem verificado, em zonas de abastecimento distintas, constrangimentos na operação dos sistemas de tratamento, com o registo de 1 incumprimento ao valor paramétrico de arsénio em 2022 e de 1 incumprimento ao valor paramétrico de arsénio em 2023”.

A empresa refere ainda que “as situações de incumprimento são sempre comunicadas à Entidade Reguladora e às Autoridades de Saúde que se pronunciam sobre a eventual existência de riscos para a saúde dos consumidores e a eventual necessidade de implementação de medidas de correção adicionais”.

Qualidade exemplar da Água” não é premiada desde 2017

Anualmente a ERSAR atribui o “Selo da qualidade exemplar de água para consumo humano”, que a Águas do Ribatejo não alcança desde 2017, sendo que este ano, terá ocorrido “por via da existência de um incumprimento ao valor paramétrico de arsénio em 2023”.

A ERSAR deixou também chamadas de atenção à Águas do Ribatejo em dois parâmetros, “Adesão ao Serviço” e “Saneamento”, como fatores penalizadores no bom serviço aos consumidores.
No caso da “Adesão ao Serviço” a empresa pública entende que “temos situações distintas”, pois “no abastecimento de água, a adesão é praticamente universal, nos locais em que o serviço está disponível. Este indicador, no caso da água, acaba por ser penalizado pelo facto de existirem ainda, nalguns dos concelhos, muitas casas que têm o serviço disponível, mas onde não reside ninguém e, portanto, não têm contrato ativo.”

“A situação no saneamento é um pouco distinta”, consideram, pois “neste caso o indicador traduz o efeito referido para a água, acentuado pelo facto de se registarem níveis de adesão ainda com margem para crescer nalgumas das zonas em que foi efetuada a ampliação das redes de saneamento. “

Três concelhos com água “100% segura”

De acordo com os dados disponibilizados pela Águas do Ribatejo e ratificados pela ERSAR, três dos sete concelhos onde a águas do Ribatejo é responsável pelo abastecimento de água da rede são abastecidos com água “100% segura”, Alpiarça, Chamusca e Torres Novas.

Almeirim tem uma percentagem de água segura de 99,73%, Benavente tem 99,86% de “água segura”, Coruche tem 99,74% e Salvaterra de Magos 99,87%.

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