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APOAC quer recuperar olival tradicional nas Serras de Aire e Candeeiros 

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Foto por: D.R.
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O presidente da Associação para a Promoção do Olival e Azeite de Aire e Candeeiros (APOAC), Luís Melo, considera que o futuro do setor na região passa por reinventar o modelo de produção e apostar na diferenciação e no valor acrescentado. Em entrevista, o responsável sublinha que o território, que abrange sete municípios — Santarém, Alcanena, Torres Novas, Ourém, Porto de Mós, Alcobaça e Rio Maior —, “guarda ainda um património único, feito de olivais tradicionais, variedades autóctones e uma forte identidade cultural”. 

“Nos sete municípios, predomina o olival tradicional de sequeiro, plantado com variedades autóctones como a galega, a lentirsca e a cobrançosa. Estimamos que cerca de 90% dos 13 mil hectares de olival ativo sejam deste tipo”, explicou Luís Melo. 

O presidente lembra que, há 30 anos, existiam no território cerca de 30 mil hectares de olival e que o abandono rural reduziu essa área para menos de metade. “O olival foi sendo deixado ao abandono, e isso traduziu-se na perda de uma importante herança agrícola e ambiental. Foi precisamente essa tendência que nos levou a criar a APOAC, em 2023, para valorizar e recuperar este património”, acrescentou. 

De acordo com dados partilhados por Luís Melo, há cerca de 7200 produtores de azeite registados nos municípios abrangidos pela associação. Muitos são produtores familiares, mantendo a atividade por “identidade e tradição”. “Há pessoas que herdaram os olivais dos pais e dos avós. Produzem azeite sobretudo para autoconsumo, mas mantêm viva a paisagem e a cultura do olival”, salientou. 

Outros produtores, com explorações maiores, começam a surgir com novas práticas e espírito empresarial. “Há quem aposte em marcas próprias, em nichos de mercado e na agricultura biológica. O caminho não pode ser competir pelo preço mais baixo, mas sim pela diferenciação, pela qualidade e pelo marketing”, defendeu. 

Luís Melo compara o momento do azeite ao que o setor dos vinhos viveu há 30 anos. “O vinho era uma commodity, vendido a granel e sem marca. Com o tempo, os vitivinicultores perceberam que só pela diferenciação, pelo valor e pela aposta em qualidade se podia crescer. O azeite está a iniciar esse mesmo percurso”, afirmou. 

O dirigente considera que uma das principais apostas da associação está na criação de conhecimento e apoio técnico aos produtores. “Temos uma equipa que acompanha os associados no terreno desde a poda à proteção fitossanitária, e um grupo de provas que avalia a qualidade dos azeites”, referiu. 

A associação desenvolveu recentemente a marca coletiva “Olivedos do Carso” que visa identificar e promover azeites de origem no território das Serras de Aire e Candeeiros.  

“É um selo de confiança que garante ao consumidor que está a consumir azeite virgem extra, feito com azeitonas locais e variedades tradicionais. Cada produtor mantém a sua marca, mas pode integrar esta identidade coletiva”, explicou Luís Melo. 

Outra das estratégias passa pela aposta no olivoturismo, seguindo o exemplo do enoturismo no setor dos vinhos. “O turismo pode ser fundamental para a valorização do azeite e para o combate ao abandono dos olivais. Queremos que as pessoas conheçam o território, participem nas colheitas, provem os azeites e compreendam o valor que está por trás de cada garrafa”, afirmou. 

Para Luís Melo, o olival não é apenas um setor económico, mas “um pilar cultural, ambiental e social”. “Estamos a falar de um ecossistema que regula a água, fixa carbono, previne incêndios e sustenta economias familiares. O valor do olival vai muito além do seu volume de negócios”, sublinhou. 

O presidente da APOAC apela, por isso, a políticas públicas que reconheçam o olival tradicional como um ativo estratégico do país: “Assim como os vinhos foram valorizados há décadas, temos de fazer o mesmo com o azeite. Portugal não compete com a dimensão produtiva de Espanha, mas pode liderar pela qualidade, pela autenticidade e pela sustentabilidade.” 

Com ambição moderada e visão de futuro, Luís Melo resume o desafio da associação: “Não queremos fazer uma revolução, queremos fazer o nosso caminho. Com calma, mas com ambição. O importante é dar passos certos, unir os produtores e mostrar que o olival tradicional tem futuro.” 

Fotos por: APOAC

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