António Camilo foi reconduzido para o segundo mandato à frente dos destinos da Câmara Municipal da Golegã. Candidato por um Movimento Independente, diz-se “apartidário” com uma ideologia centrista, onde reconhece os pontos positivos e negativos à esquerda e à direita, tentando somar o melhor dos dois lados.
Se em 2021 a vitória foi uma surpresa (menos para o próprio), em 2025 saiu com a liderança reforçada, somando mais votos que na primeira vitória. O NS esteve conversou com o autarca para perceber o que o futuro pode reservar à Golegã.
Notícias do Sorraia (NS) – Depois de uma vitória surpreendente em 2021, e de quatro anos de trabalho os resultados provam que ganhou a confiança do povo da Golegã. O que é que se está a preparar para estes próximos quatro anos?
António Camilo – Tivemos há quatro anos uma surpresa para alguns, para mim e para outra pessoa que pertencia à equipa não. Tínhamos quase a garantia que vencíamos pelo que constatávamos na população. Nas eleições de 2025 percebemos que tínhamos todas as possibilidades de ganhar, como ganhamos, até com mais vantagem. Julgo que é o corolário do trabalho feito nos quatro anos, em diversos setores. Cumprimos mais de 90% do que estava previsto, e fizemos coisas que não estavam previstas. Agora, para 2025-2029, há uma série de intervenções para fazer, mas a prioridade é executar os projetos comunitários negociados com as autoridades de gestão, como CCDR, CIMT, IHRU, COPA. Foi aprovado e assinei o protocolo para o picadeiro coberto que vai ser feito no Centro de Alto Rendimento, com financiamento de cerca de 1.1 Milhões de euros.
Queremos também dar melhores condições à população, nomeadamente na rede de saneamento e na rede de águas, que está obsoleta. São valores avultados, mas essenciais, contemplados nos projetos comunitários.
O essencial para as pessoas é a comodidade em frente às suas portas: não ver lixo, ervas ou buracos nem nas residências nem nos locais de trabalho. Vamos fazer um plano de intervenção eficaz nessa área, que julgo que vai resultar plenamente.
Sobre habitação, é fundamental, não só para habitação social, mas também para jovens e novos moradores. Garantimos cerca de 6 milhões de euros para reabilitação e construção do parque habitacional social via PRR (Plano de Recuperação e Resiliência), e cerca de 7 milhões de euros para habitação a custos acessíveis com financiamento do IHRU.
Vamos investir também nas infraestruturas escolares, com 2,7 milhões garantidos para a escola EB 2/3 da Golegã, escola primária e jardim de infância, dando melhores condições para as crianças.
Estamos conscientes da urgência da construção da creche, que terá fundos comunitários e cujo início da obra será breve. Também apoiamos soluções alternativas para as necessidades das crianças em idade de creche.
O pavilhão desportivo está obsoleto, e pretendemos construir um pavilhão multiusos com fundos comunitários, abrangendo atividades culturais, desportivas e religiosas.
Vamos reabilitar o Palácio do Pelourinho para concentrar o Museu Martins Correia, algo não concretizado no último mandato, e libertar espaço no EquusPolis para outras funcionalidades. Também queremos reabilitar o antigo centro de estágio para fazer residência para estudantes, reforçando a formação técnico-profissional e futuros cursos do ensino superior.
Há ainda o plano de Reabilitação Urbana, inserido no projeto PRR Acessibilidades 360°, abrangendo o Largo 5 de Outubro, Largo Imaculada Conceição, Rua Dom João IV e Avenida Dom João III.
Vamos criar gabinete de apoio ao investidor e empreendedor local para atrair investimentos e empregos de qualidade, criar espaços de coworking e incubadoras, com protocolo junto da Nersant e projeto para uma nova startup nas antigas instalações da EPAC.
Como presidente da Associação de Municípios Portugueses do Cavalo, em parceria com a Feira Nacional do Cavalo, queremos realizar vários investimentos via fundos comunitários para os municípios da associação, como Alter do Chão e Ponte de Lima.
Com a expansão da Feira Nacional do Cavalo, vamos construir novo Secretariado com instalações modernas e espaço para conferências.
Já iniciámos o processo de redução do IMI para a taxa mínima de 0,30%; já reduzimos a 0,34% em 2025 e estamos confiantes para alcançar a taxa mínima neste mandato.
Estamos a avaliar a fixação da taxa da derrama, visando a redução para negócios com valores inferiores a 150.000 €, e a possibilidade de isenção ou redução forte para empresas que promovam aumento de emprego.
Prevemos ainda redução e isenção das taxas de construção para habitação própria ou casas para alugar, com regulamento que garante permanência desses imóveis por pelo menos cinco anos.
Mantemos boas relações com as IPSS como Santa Casa da Misericórdia de Azinhaga e Golegã, e com a Casa do Povo de Pombalinho, que candidatou-se para construção de um lar com apoio de cerca de 1.700.000 € da Câmara Municipal, comparticipado a 85%. Este investimento é vital para Pombalinho e concelho, que tem défice de camas para idosos, podendo acolher pessoas de concelhos vizinhos.
Continuaremos a apoiar coletividades, estimular comércio local e fortalecer cooperação com juntas de freguesia, dando-lhes mais responsabilidade e fundos para atuação.
Na segurança, queremos reforçar respostas de emergência e formação em proteção civil, sendo o concelho pouco afetado por criminalidade, mas preparado para fogos, cheias e outras catástrofes. A articulação com GNR e bombeiros foi exemplar no apagão de 28 de abril.
Em síntese, focamos soluções rápidas, sabendo que os verdadeiros desafios exigem trabalho sério e persistente. O plano eleitoral foi cumprido em mais de 90%, e queremos avançar em agricultura, habitação, turismo e educação, implementando um regulamento para bolsas de estudo no ensino superior que abrange todos os alunos.
N.S – O setor equestre é um dos ex-libris turísticos da Golegã e tem como corolário a Feira Nacional do Cavalo. Há mais produtos turísticos na Golegã para além da FNC que possam incrementar o turismo no concelho?
A.C – Quanto ao turismo, o cavalo é o ex-líbris da Golegã, com a Feira Nacional do Cavalo como evento central que atrai investidores e segunda habitação. Além disso, temos concursos no Hippos, a Casa de Souto Carvalhas, a biblioteca José Saramago, o Museu Mestre Martins Correia e o Paul do Boquilobo que atrai muitos visitantes.
Estamos a trabalhar para aliar a Expo Égua com a mostra de gastronomia para retorno financeiro, buscando patrocínios para reduzir custos da feira e da associação.
A Golegã vive o turismo forte ao longo do ano com crescimento consistente. A aposta no turismo ligado ao cavalo é forte, com destaque para a Feira Nacional do Cavalo, mas também queremos melhorar os caminhos de Santiago que passam pelo concelho, facilitando o percurso dos peregrinos. O Festival do Campino da Azinhaga será dinamizado de forma renovada. A rede de percursos pedestres será melhorada. O cineteatro Elisa Tavares Baixo, inaugurado recentemente, tem sido bem aproveitado apesar dos custos elevados, beneficiando a população local e das regiões vizinhas.
N.S: Que soluções tem para mitigar um dos problemas transversais a vários municípios relativo à falta de habitação?
A.C: Antigamente havia cooperativas e associações dedicadas à construção de habitação social ou a custos baixos. Queremos implementar isso novamente, mesmo que de forma desacelerada. Existe uma cooperativa na Golegã que já não está ativa, mas é importante porque permite a construção de casas acessíveis, geminadas, com preços especiais por construtores civis, baseado em modelos repetidos.
N.S: E a Câmara Municipal pode fazer isso?
A.C: Sim, mas fica mais caro. É melhor ser via cooperativas ou associações especializadas, como já se fazia. Temos bairros construídos assim, e a Santa Casa da Misericórdia também se dedicava a isso. Com o regulamento das taxas de construção isentas, aumentam as condições para as famílias. Sabemos que a oferta de habitação não é muita e queremos cativar pessoas para fixar na Golegã, apoiando também empresas que empregam aqui pessoas qualificadas.
N.S: A questão intermunicipal e gestão dos serviços, como vê?
A.C: Embora seja limítrofe e haja algumas confusões quanto a pertença a entidades como RSTJ, Lezíria, Médio Tejo, temos várias ligações e parcerias, por exemplo no setor da saúde com hospitais em Tomar, Abrantes e Santarém. Ainda temos sistemas próprios, por exemplo na rede de água, que é obsoleta e precisa de investimentos consideráveis. Estamos a evitar aderir a associações maiores como as Águas do Ribatejo para manter custos baixos, mas isso poderá ser inevitável a médio prazo.
N.S: Em relação à Comunidade Intermunicipal da Lezíria do Tejo: Há novas caras, novas ideias. Como vai ser o trabalho daqui para a frente?
A.C: Trabalhamos em conjunto, sem protagonismos partidários, focados em beneficiar os concelhos na área dos transportes, PRR e habitação. A estrutura funciona independentemente dos partidos, e quem for eleito presidente é presidente da comunidade, não de um partido específico. Será trabalho sério mais que política.






