Álvaro Beleza desafia autarcas a “apostarem na navegabilidade do rio Tejo” para alavancar o turismo e a agricultura

12 Fevereiro 2025, 19:35 Não Por João Dinis

Álvaro Beleza, conceituado médico e presidente da SEDES – Associação para o Desenvolvimento Económico e Social, desafiou os autarcas da Lezíria do Tejo a investirem na navegabilidade do rio Tejo como motor de desenvolvimento económico para a região, à qual reconhece um enorme potencial.

Em exclusivo ao NS, considera que a Lezíria do Tejo “é uma das zonas mais ricas da Península Ibérica em termos agrícolas” e destaca a importância estratégica da agricultura. “Recentemente, vi uma imagem da guerra na Ucrânia com soldados nas trincheiras e, ao lado, um agricultor a trabalhar com o seu trator. A Ucrânia é considerada o celeiro da Rússia, e não é por acaso que foi invadida: além dos seus recursos minerais, tem um valor extraordinário no setor agrícola.”

Acrescenta ainda que, quando a Ucrânia entrar na União Europeia – “e esperamos que isso aconteça” –, criará uma concorrência séria para potências agrícolas como a Polónia e a França. “Isso mostra como a agricultura é fundamental.”

Na sua visão, os desafios trazidos pela guerra evidenciaram a necessidade de autonomia estratégica em setores essenciais. “A independência dos povos e das sociedades assentes no bem-estar e na liberdade depende disso. A Europa precisa de garantir essa autonomia, e o desenvolvimento agrícola é essencial também para Portugal.”

Álvaro Beleza reforça que a Lezíria do Tejo é “uma das regiões mais ricas da Península Ibérica” e que o rio Tejo, “o maior da Península, percorre este vale extraordinário, mas muitas vezes não nos apercebemos das riquezas que temos.”

Para ele, o Tejo é “uma grande autoestrada natural que ainda não está devidamente aproveitada, sobretudo no turismo.” Dá como exemplo o rio Douro, cuja navegabilidade foi planeada há 30 anos – “curiosamente, por fundadores da SEDES, como o professor Valente de Oliveira, que desenhou esse projeto ainda nos anos 70. A sua concretização, nos anos 90, revelou-se essencial para atrair turismo de países como os Estados Unidos, Japão, Austrália e várias nações europeias.”

Esse fluxo turístico, sublinha, impulsiona também a exportação dos produtos da região e atrai investimento. “O que poderia ser feito na Lezíria do Tejo? Vocês estão ao lado da capital do país e terão, em breve, um dos maiores aeroportos da Europa nas proximidades. É essencial aproveitar essa oportunidade.”

O também comentador televisivo destaca que “o Tejo é um rio lindíssimo que atravessa Portugal e Espanha, chegando até Toledo. Se conseguirmos desenvolver a sua navegabilidade, será extraordinário”, sobretudo porque a Lezíria se situa “num dos trechos mais belos do Tejo, junto a uma grande cidade europeia.”

Álvaro Beleza defende que é necessário “mudar a mentalidade”. “Lisboa é hoje uma metrópole europeia e pode ajudar a catapultar o turismo para esta região, que tem herdades, empresas, palácios e uma beleza natural impressionante.” Além do vinho, destaca a tradição equestre, com os cavalos lusitanos, e o património cultural, que inclui a criação de touros e cavalos.

Apesar dos desafios, reconhece o progresso já alcançado. “Estão de parabéns, porque a vossa agricultura está na linha da frente. Trata-se de um setor essencial para o futuro do país.”

Desafiado a colocar-se no papel de autarca da Lezíria do Tejo, afirma acreditar que “a navegabilidade do Tejo seria mais barata do que a do Douro, porque é mais fácil de implementar aqui.” Acrescentando que Portugal, hoje, está mais preparado e mais rico do que há 30 anos.

“Atualmente, o país apresenta crescimento económico. Enquanto o centro da Europa enfrenta graves problemas, Portugal cresce acima da média europeia. Já dispomos dos meios e da estrutura necessários para avançar com este tipo de investimento.”

Álvaro Beleza considera fundamental que os autarcas pressionem o Governo para que o projeto da navegabilidade do Tejo seja uma prioridade nacional. “Portugal tem capacidade para realizar várias obras ao mesmo tempo. Vamos ter um novo aeroporto, financiado maioritariamente por investimento privado, mas que exigirá algum investimento público em infraestruturas, como autoestradas e o comboio de alta velocidade – um projeto essencial.”

Defende ainda que é necessário “reivindicar, falar grosso” para alcançar os objetivos da região. “Estou absolutamente certo de que a navegabilidade do Tejo vai seguir em frente”, conclui, recordando que a SEDES organizou uma conferência sobre o tema há cerca de dois anos. Na altura, ficou claro que este é “um investimento estrutural que pode representar um salto qualitativo muito importante para o país.”

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