Empresa de hidrogénio verde que se instalou em Benavente entra em insolvência

16 Novembro 2024, 12:18 Não Por João Dinis

A Fusion Fuel, que em janeiro 2023 inaugurou instalações, prometendo na altura a criação de cerca de 300 postos de trabalho, declarou entrou esta semana em insolvência, depois de “incumprimento de um investidor, que se tinha comprometido a injetar 33,5 milhões de dólares (31,6 milhões de euros ao câmbio atual) na Fusion Fuel”, anuncia a empresa em comunicado.

De acordo com o comunicado, a empresa portuguesa dedicada ao fabrico de eletrolisadores para a produção de hidrogénio verde a Hydrogenial SA deveria ter concluído a 30 de setembro a subscrição de títulos da Fusion Fuel (ações de classe A), mas acabou por não o fazer. Por esse motivo, a Fusion Fuel anunciou que irá mover uma ação judicial contra a Hydrogenial e o seu diretor, Norbert Bindner, pelos danos causados.

“Como consequência direta do atraso do financiamento, a Fusion Fuel apresentou à insolvência a subsidiária portuguesa, a Fusion Fuel Portugal SA, através da qual tem sido feita a maior parte das vendas de tecnologia e do desenvolvimento de projetos da companhia”, referem na nota enviada aos mercados.

Acreditando que continua a ter o direito a receber o montante em causa, a Fusion Fuel refere que “está ativamente a explorar alternativas estratégicas para preservar o valor para os acionistas, incluindo uma potencial transação que a equipa de gestão acredita que pode complementar o negócio de hidrogénio e render sinergias significativas”.

No último ano, a empresa tem acumulado prejuízos, dado o reduzido número de equipamentos vendidos, tendo por exemplo, a fábrica de Benavente, um diminuto número de funcionários, face aos 300 anunciados, não estando garantido que não possa encerrar definitivamente em breve.

CEO considerou Benavente como “uma oportunidade incrível”

A 10 de janeiro, o CEO da Fusion Fuel Portugal, Frederico Figueira de Chaves, afirmava que a localização de Benavente tinha sido “uma oportunidade incrível”, onde se tinha sentido “muito mais apoiados que noutros concelhos de Portugal”.

Frederico Figueira destacou também “a qualidade dos trabalhadores tem sido fantástica”, ainda que “a maior dificuldade sentida tem sido contratar o rápido suficiente”, justificando esse facto com a fase de crescimento em que se encontra o concelho de Benavente.

Na altura, aquando do arranque a empresa tinha 60 funcionários, número que nunca chegou a aumentar, apesar do “ritmo de crescimento bastante elevado” anunciado na altura, bem como nunca chegou a existir a produção de hidrogénio no concelho de Benavente, como havia sido anunciado pelo responsável máximo da empresa.

Empresa inaugurada Por António Costa e 5 Milhões do PRR

A 10 de janeiro, o Primeiro ministro, na altura, António Costa, esteve em Benavente, a inaugurar a fábrica, referindo que o concelho e o projeto que aqui se iniciavam na altura integravam a “estratégia nacional para o hidrogénio”.
Relembrando que quando anunciou a estratégia portuguesa para o hidrogénio verde foi “hipercriticado”, António Costa congratulou-se na altura de estar agora “um passo à frente” na estratégia europeia de substituir o gás natural por hidrogénio verde, salientando que Portugal tem todas as condições e recursos naturais como “nunca teve nas outras revoluções energéticas”, o que irá tornar Portugal um país extremamente competitivo.

Em Benavente, a Fusion-Fuel iria produzir electrolisadores, pretendendo na altura, até 2025 passar dos atuais 20 megawatts para 500, com um crescimento dos postos de trabalho dos atuais 156 para cerca de 350.

Na altura da sua inauguração, António Costa anunciou ainda que a empresa havia sido contemplada com 5 Milhões de euros do Plano de Recuperação e Resiliência.

Presidente da Câmara queria Companhia das Lezírias a produzir hidrogénio verde

Na altura, Carlos Coutinho, Presidente da Câmara Municipal de Benavente, era um autarca radiante, acreditando que a empresa poderia ser uma mais valia para o concelho.

“A Companhia das Lezírias, obviamente, pela sua dimensão, pelo seu território, tem capacidade de também receber algumas destes produtos [painéis fabricados em Benavente], destes projetos”, sem que no entanto seja “ferido aquilo que para nós é fundamental que é a preservação deste nosso património natural”, referia na altura Carlos Coutinho.

“Estive a falar com o Senhor Primeiro-Ministro, no sentido de também haver da parte do Governo, que é quem tutela a Companhia das Lezírias, disponibilidade para acolher esses projetos”, revelou ao NS aquando da inauguração da fábrica.

____________________