Projeto focado na ciência da leitura quer combater insucesso escolar

1 Novembro 2024, 12:45 Não Por Lusa

Um projeto centrado na ciência da leitura está a ser aplicado pela Associação de Profissionais de Educadores de Infância (APEI) em quatro agrupamentos de escolas para combater o insucesso escolar e promover uma aprendizagem mais eficaz.

Segundo o coordenador do projeto, Luís Ribeiro, este programa, intitulado “parkle – Transforming Education” propõe uma abordagem pedagógica dentro da sala de aula, através de atividades focadas na leitura e no desenvolvimento cognitivo e emocional das crianças.

“Aquilo que distingue o Sparkle é o facto de nós tentarmos perceber a forma como o cérebro das crianças processa a leitura. Estamos a falar de uma intervenção de natureza pedagógica, porque a aprendizagem da leitura e da escrita é um processo cognitivo”, disse, em declarações à agência Lusa.

Segundo Luís Ribeiro, este programa aposta numa “metodologia integrada e contínua”, que permite que todas as crianças da educação pré-escolar e do primeiro ano de escolaridade desenvolvam habilidades de leitura e de escrita em sala de aula.

Este modelo de ensino destaca-se das intervenções tradicionais normalmente aplicadas nas escolas, que tendem a seguir uma abordagem mais clínica e menos focada em práticas pedagógicas.

“Existe atualmente uma intervenção que é feita através de psicólogos e professores do ensino superior, que trabalham com as crianças numa perspetiva clínica e não pedagógica. E trabalham essas dificuldades isoladas do resto do contexto educativo. Muitas vezes as crianças com essas dificuldades são retiradas da sala de aula, mas nós sabemos, pela investigação, que isso não dá resultados”, explicou.

De acordo com Miguel Borges, coordenador científico do Sparkle, este projeto é “uma intervenção em grupo” aplicada na sala de aula para todos os alunos e não individualmente.

“Não fazemos aquelas intervenções em que as crianças são acompanhadas por especialistas numa sala ao lado. Nós não fazemos isso. É um programa sobretudo de aplicação na sala de aula, sempre com o professor e com o grupo de turma”.

O projeto teve início em 2019, quando a APEI implementou um programa de promoção da literacia em vários agrupamentos da área metropolitana do Porto. Mais tarde, em 2021, uma intervenção semelhante foi realizada em Barcelos.

Essas experiências contribuíram para a criação e desenvolvimento do Sparkle, que, no início deste ano letivo, foi implementado em quatro agrupamentos escolares: Agrupamento de Escolas de Coruche (distrito de Santarém), Agrupamento de Escolas de Alvide (Cascais), Agrupamento de Escolas de Pardilhó (Estarreja) e Agrupamento de Escolas de Frazão (Paços de Ferreira).

O programa, para além da intervenção feita na sala de aula, prevê também a formação de professores e de educadores de infância, que são sujeitos a um programa de formação focado na aprendizagem da leitura e da escrita.

“Tivemos de conquistar os professores e os educadores de infância para este programa, nem todos nos deram o benefício da dúvida. Os professores têm formação específica na aprendizagem da leitura e da escrita, e é uma formação contínua muito vocacionada para as práticas. As nossas sessões têm uma parte teórica muito curta e depois uma formação feita na sala e isso tem tido um resultado muito bom”, explicou Miguel Borges.

Para além dos professores, o programa inclui também a participação da família através de atividades de escrita que os pais podem fazer com as crianças, desde a redação de uma lista de compras, até à transcrição de uma música.

“A nossa ambição é que a família esteja sempre envolvida. Nós, por exemplo, perguntamos às famílias qual é a música portuguesa preferida das crianças e para transcreverem essa musica juntamente com as crianças. Isto permite aos pais, de uma forma quase lúdica, passem algum tempo de qualidade com os filhos”, disse.

“É uma certa educação parental para a literacia”, referiu.

Para além de combater o insucesso escolar, este programa tem também como objetivo ajudar a melhorar a autoestima das crianças e o sentimento de insegurança dos professores, dois fatores que podem prejudicar o desenvolvimento cognitivo e de aprendizagem das crianças.

“Nós queremos duas coisas: Trabalhar o autoconceito que cada criança tem de si. E o que nós sabemos é que as crianças, no inicio do primeiro ano, quando criam um autoconceito de que não capazes, isso é muito difícil de reverter, disse Miguel Borges.

Outro aspeto está relacionado com o sentimento de insegurança que os professores sentem: “O desgaste é enorme quando não sabem como devem responder às dificuldades de certas crianças. Nós queremos que as crianças se sintam felizes, bem como os professores. Ensinar e aprender tem de ser um ato de felicidade”,

Este programa é financiado pelo Portugal Inovação e custou 1,1 milhões de euros.

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