Família envenenada em Alpiarça não estava sinalizada pelos mecanismos de ação social local

5 Outubro 2024, 16:41 Não Por André Azevedo

A tragédia que assolou uma família alpiarcense que passava por dificuldades financeiras e sociais deixou a vila de Alpiarça em choque na tarde de sexta-feira, 4 de outubro. Uma mãe octogenária que cuidou durante toda a vida de um filho com deficiência profunda, num ato de desespero, tentou pôr termo à sua vida e do filho recorrendo a um pesticida agrícola.

A luta de uma vida a cuidar do filho com deficiência profunda, sem grandes apoios para além da pouca família com quem se relacionavam, e poucos ou nenhuns apoios sociais, culminou numa tragédia que poucos anteviam.

Segundo a presidente da Câmara de Alpiarça, Sónia Sanfona, esta família, embora amplamente conhecida no seio da comunidade, não estava sinalizada pelos serviços de ação social da autarquia.

“A informação que foi apurada é que não há, no serviço de ação social do município, nenhum pedido desta família relativamente a apoio social ou qualquer outra situação que originasse a necessidade de averiguar se havia algo menos conforme ou algum problema com esta família”, revelou a autarca alpiarcense ao NS.

A autarca explicou ainda que no âmbito da abertura de candidaturas a um programa financiado com fundos europeus para a realização de obras de adaptação em casas onde residam pessoas com mobilidade reduzida “foi alvitrada junto dessa família essa possibilidade, mas que não manifestaram interesse em fazer essa adaptação em casa”, explicou a autarca.

Nota da redação: A real ineficácia dos apoios sociais em Portugal

A inação do chamado “Estado Social” tem-se notado cada vez mais. Famílias carenciadas que embora escondam as necessidades, muitas vezes por vergonha, acabam em situações calamitosas como a que se noticiou na tarde de ontem.

Num país que se diz, mais uma vez, um “Estado Social”, falha constantemente o apoio social naquilo que é a verdadeira essência do conceito. Atirar dinheiro e subsídios não é suficiente para resolver. Aliás, é talvez a maneira mais ineficaz de resolver verdadeiramente muitos problemas sociais.

Neste caso específico, não seria certamente de um subsídio que esta família necessitava por ter de cuidar de um filho com deficiência profunda. Mas de um local com condições adequadas, que garantisse cuidados e qualidade de vida. Se estas instituições não fossem um oásis no meio do deserto que é a assistência social em Portugal, se calhar uma mãe em fim de vida de vida não tinha tentado colocar termo à vida do próprio filho pelo desespero de não ter ninguém que cuidasse dele quando ela finalmente partisse e deixasse o calvário que teve durante uma vida inteira, desamparada por um Estado que se preocupa mais em enterrar os problemas atirando “papas e bolos para calar os tolos”.

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