Companhia das Lezírias mantém tradição em nome da qualidade (com Fotos)

2 Setembro 2024, 20:32 Não Por João Dinis

Quem por estes dias se aproximar da Herdade do Catapereiro, entre Alcochete e Samora Correia, sentirá não só os aromas típicos da vindima, mas verá também a azáfama de uma altura do ano característica daqueles que com dedicação e paixão transformam as uvas em verdadeiros néctares ribatejanos, que vão sendo cada vez mais apreciados por todos os que procuram um vinho que identifica uma região com enorme potencial, o Tejo.

David Ferreira é o enólogo que nos últimos anos tem elevado os vinhos da Companhia das Lezírias a um patamar importante. Ouvi-lo durante um dia de vindima é sinónimo de receber expressiva lição sobre vitivinicultura, mas também perceber a paixão e entusiasmo com que comenta os produtos finais que ajuda a fazer nascer, transformando os resultados de 130 hectares de vinha, em mais de meio milhão de garrafas de puro néctar ribatejano.

O NS acompanhou um dia de vindima naquela que é a parcela de terreno onde está a vinha “estrela” da companhia, a “Vinha Velha”, composta por cepas com 50 anos de idade, plantadas num terreno arenoso, que dão as uvas mais preciosas da marca, que permitem depois engarrafar o vinho mais exclusivo da chancela “CL”, o “1836 Grande Reserva”.

Embora a falta de mão-de-obra obrigue as máquinas a entrar cada vez mais na agricultura, esta vinha merece um cuidado especial e como tal, um grupo de mulheres e homens inicia bem cedo os trabalhos, numa tradição que David Ferreira gostaria de manter por muitos anos, pois consegue assim dar todo o carinho e dedicação ao vinho que brilha nas prateleiras de cada vez mais espaços comerciais em todo o mundo.

Embora as previsões deste ano apontassem para uma colheita a rondar os 700 mil litros, as indicações dadas pela vindima que se iniciou ainda no mês de julho, “algo que não é muito habitual”, deixa antever que vão existir cerca de meio milhão de litros com o rótulo “CL”.
O adiantar da vindima “tem acontecido cada vez mais nos últimos anos”, numa situação influenciada por vários fatores, entre elas as questões climáticas, que aleadas à falta de água pode fazer com que as uvas amadureçam cada vez mais cedo.

“Este ano é um ano que de facto é peculiar. Temos menos produção do que é habitual”, refere, explicando que “nós até tínhamos bastantes cachos e estávamos à espera de mais produção este ano, mas não, contas feitas, uma vez apanhadas, estamos a ver que temos menos uva”, refere o enólogo.

David Ferreira cataloga a “Vinha Velha”, como a “nossa vinha mais importante”, “vem do Alicante Bouschet, que é uma vinha de extrema da propriedade da Companhia das Lezírias, portanto está na parte mais próxima do rio Tejo, uma vinha já com cerca de 50 anos, que foi plantada à moda antiga” e onde o enólogo quer preservar os trabalhos manuais que fizeram dela a riqueza da Companhia e que por ser “uma casta que é muito particular, tintureira, dá origem a um vinho muito encorpado”.

A sustentabilidade é uma das bandeiras de todos os produtos Companhia das Lezírias, pelo que na “Vinha Velha” não poderia ser exceção, sendo este também um dos produtos biológicos da empresa pública. “Nós estamos numa zona aqui que é um pouco um sweet spot, temos um terreno que é arenoso e que é muito luminoso, ao longo do ano temos muitas horas de sol, temos muito vento, portanto, é um sítio que por natureza não se faz muito tratamento”, explica-nos.

Fazer a vindima de forma manual “seria o sonho de qualquer enólogo, fazer tudo o mais romântico possível”, o que faria com que a qualidade fosse superior. “Embora as máquinas estejam cada vez mais bem afinadas dando origem à recolha de uvas em boas condições, a vindima manual continua a ser um fator de qualidade porque há uma seleção”, pelo que o ex-libris dos vinhos do selo “CL”, continuará nos próximos anos a ter a vindima feita pela mão do homem, pois é um “projeto específico e que tem valor acrescentado”.

A vindima manual faz com que a uva chegue à adega “como se quase tivesse sido apanhada no momento, portanto, é uma melhoria na qualidade.” ”Não há oxidações, não há nenhum contacto com o oxigénio atmosférico e isso faz com que o mosto, quando chega a cuba, esteja em perfeitas condições” e pronto a fazer um néctar que é cada vez mais exclusivo e valorizado.

As uvas já deram lugar ao vinho, e descansam agora em generosas cubas, onde diariamente são acarinhadas, par que possam produzir, lá mais para o final do ano, o exclusivo “1836”, o ex-libris dos vinhos da Companhia das Lezírias e um dos mais apreciados da região dos Vinhos do Tejo.

A conversa do NS com o enólogo David Ferreira não se ficou por aqui, e em breve, publicaremos uma entrevista onde este nos fala sobre os vinhos da Companhia das Lezírias, mas também a região vitivinícola do Tejo.

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