Tiragem de Cortiça é Património Imaterial de Portugal mas continuidade da atividade está em risco (com Fotos)

29 Novembro 2023, 15:43 Não Por João Dinis

A Câmara Municipal de Coruche celebrou esta quarta-feira, 29 de novembro, o segundo aniversário da declaração da Tiragem de Cortiça como Património Cultural Imaterial de Portugal, com uma sessão que decorreu no Observatório do Sobreiro e da Cortiça, e que contou com especialistas da área, que numa mesa redonda debateram alguns dos problemas e o futuro da atividade.

Apesar da distinção atribuída pela Direção Geral do Património Cultura (DGPC), esta é uma atividade que corre sérios riscos se não forem tomadas medidas urgentes, no que diz respeito à falta de mão-de-obra, que faz perigar a continuidade de uma atividade, que cuida de um património único no mundo e que é fonte importante de rendimentos para o país.

O Presidente da Câmara Municipal de Coruche, Francisco Oliveira e a vereadora Susana Cruz assumiram nesta sessão a importância da distinção para o concelho de Coruche, anunciando que pretendem agora preparar uma candidatura conjunta, entre todos os territórios corticeiros, à UNESCO, de modo a fazer da Tiragem de Cortiça Património Cultural Universal.

Rita Bonacho, Presidente da Associação de Produtores Florestais de Coruche, parceira do Município na apresentação da candidatura, demonstrou a sua preocupação com a continuidade da atividade, para a qual já se vão apresentando algumas ferramentas, mas que serão sempre um complemento ao trabalho realizado pelo homem e pela machada, na “preservação do património e do território”.

Para Rita Bonacho, só o homem e a machada conseguem tratar com o “carinho” necessário das árvores, e sobretudo prepará-las para o futuro, mas para isso é necessário que se trabalhe para que os tiradores de cortiça não venham a ser uma profissão em vias de extinção.

A responsável deixou o desafio a todas as entidades para que unam esforços e promovam a tiragem de cortiça, como uma profissão com futuro, seja através da Escola Profissional, ou de outras ações que incluam e incitem os mais jovens para a atividade.

Considerando os tiradores de cortiça os “cirurgiões das árvores”, Rui Pombo, Diretor Regional de Lisboa e Vale do Tejo do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), considerou que os tiradores deverão deixar de ser uma atividade sazonal, passando a trabalhar também nas “podas” que são efetuadas nos períodos para lá da tiragem de cortiça, evitando-se desse modo a sazonalidade da atividade.

Na plateia encontravam-se alguns tiradores de cortiça e proprietários, que não deixando de concordar com que o havia sido proferido na mesa redonda, deixaram mais alguns contributos para a discussão, como a criação de uma bolsa de tiradores, ou a criação de uma certificação para os trabalhadores que anualmente cuidam do montado do concelho de Coruche.

A sessão terminou com o descerramento de uma placa, com a presença de uma responsável da DGPC e a simbólica plantação de alguns sobreiros na Herdade dos Concelhos.

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