Professores manifestam-se em Coruche contra Ministério “cego, surdo e mudo” (com Fotos)

17 Janeiro 2023, 11:35 Não Por João Dinis

A maioria das duas centenas de professores que integram o Agrupamento de Escolas de Coruche manifestou-se ao início da manhã desta terça-feira, 17 de Janeiro, integrando assim a greve nacional que luta contra melhores condições para a carreira e por uma melhor escola pública.

A greve dos professores decorreu nos primeiros tempos das actividades lectivas, deixando os alunos sem aulas nos dois primeiros tempos da manhã.

Aos professores da Escola Secundária de Coruche e do Centro Escolar, juntaram-se também alguns alunos, que conscientes da luta travada pelos seus professores, demonstraram a sua solidariedade, empunhando também alguns cartazes com mensagens de apoio.

Na base da greve está o facto do “Ministério da Educação ser surdo, mudo e cego”, como nos explica a professora Felismina Roque, professora no Centro Escolar de Coruche, pois este não dá uma cabal resposta às necessidades dos professores, a começar pelas condições de trabalho “que são péssimas”, dando o exemplo dos computadores “completamente obsoletos” com que trabalham bem como as condições nas salas de aula.

Também as carreiras são outra das reivindicações dos docentes. “Ficamos sem seis anos e meio de serviço que nos foi roubado”, lamenta a professora, que acrescenta que “as cotas são indecentes porque um professor pode ter muito bom, pode ter um excelente, mas se não tiver cota, pode ir parar ao bom e está anos e anos à espera para ser integrado novamente para poder progredir”, isto para além dos salários, “que não são compatíveis com os técnicos superiores”, o que deixa “as pessoas estão descontentes”, “exigimos respeito e dignidade na profissão”, conclui.

O maior grupo de professores, que depois se uniram numa só manifestação, estava junto à entrada da Escola Secundária de Coruche, onde Susana Garcia, professora de Biologia e Geologia há cerca de 25 anos, lamentou que apesar de continuar a “ter uma paixão enorme por ser professora”, tenham que estar numa intensa jornada de luta “por uma escola pública digna”.

Para a docente uma escola pública digna é uma escola que tenha boas condições físicas, e não a “renovação” que foi efectuada e que não abrangeu todo o parque escolar deixando-o “com as condições que devia”, o que leva a que os professores leccionem “com muito amor e carinho e pouco mais que isso”.

Outra das lutas dos professores é as avaliações, de alunos e professores, considerando esta que o “ensino dos nossos alunos não é efectivamente adaptado a eles”, pois “temos uns alunos que estão a receber muito aquém daquilo que precisavam e nós somos avaliados de forma extremamente injusta”, e sobretudo penalizadora pela forma como é efectuada por limitar o número de professores que podem ser avaliados com nota máxima.

Para Susana Garcia a luta que os professores estão a fazer é também pelo futuro do sector, para que os alunos de hoje “possam amanhã também eles, ter vontade de ser professores”, considerando esta que nas condições actuais quem quer ser professor são “só mesmo aqueles que não têm mais nada para fazer”, o que “é lamentável”.

A professora elencou ainda um conjunto de questões que são também urgentes rever e discutir, como o tamanho e tipo de aulas e a formação que é dada aos professores, que normalmente acontece ao final do dia de trabalho, e que obriga os professores a realizar ainda mais quilómetros.

Apesar da tentativa de desmitificação efectuada pelo Primeiro-ministro António Costa, sobre algumas das reivindicações dos professores, estes não param a sua luta, pois “as promessas que o Senhor Primeiro-Ministro faz agora, eventualmente estarão no terreno daqui por dez anos” e isso “não dá”, considera a professora Susana Garcia, porque entende que daqui por dez anos não estará tudo resolvido.

 “Eu não ponho as culpas neste Ministro, neste Governo”, mas é altura destes governantes entenderem que são necessárias tomar medidas ”sérias e concertadas, que possam perdurar no tempo”.

Para a professora é urgente que os Ministros da Educação, da Economia e das Finanças se entendam, pois é inadiável que as medidas que estão completamente desajustadas no tempo, sejam revistas e que as reivindicações dos professores sejam ouvidas, “porque queremos uma escola pública digna”, conclui a professora.

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